O capitalismo é capaz de criar grandes crises, mas ele mesmo sabe corrigir os seus erros
Depois de cinco anos na UTI, a maior economia do mundo volta a funcionar normalmente. Embora ainda com o aparelho dos juros baixos ligado ao seu sistema sanguíneo, o metabolismo do doente começa a seguir os padrões de normalidade das economias de mercado. Os sinais vitais mais importantes em uma economia de consumo --afinal, os gastos das famílias representam 70% do PIB americano-- já mostram o vigor perdido desde a crise de 2008.
No último trimestre do ano passado, o consumo cresceu a uma taxa anual de 4,3% e as empresas passaram a aumentar seus estoques de produtos para atender a demanda crescente do mercado interno. Em sequência, a geração de postos de trabalho acelerou-se e a taxa de desemprego iniciou uma tendência continuada de redução.
Apesar desses sinais, a palavra CAUTELA ainda domina o comportamento dos agentes mais conservadores, principalmente os empresários. O investimento privado ainda patina, e o aumento dos salários está abaixo da tendência histórica para os padrões do PIB crescendo 3% ao ano. O mesmo ocorre com o ritmo da inflação. Mesmo excluindo os efeitos da queda do preço do petróleo, a inflação ao consumidor está rodando a uma taxa anual de apenas 1,3% ao ano.
Recentemente, com a incrível queda dos preços do petróleo, a recuperação da economia recebeu outra grande dose de estimulantes. Em uma sociedade de consumo e que usa no limite o transporte individual baseado no automóvel, a queda do preço dos derivados de petróleo tem o mesmo efeito expansionista de uma redução de impostos e alta da renda disponível para o consumo.
Essa calma de monastério no campo da inflação e dos aumentos salariais tem permitido ao Fed manter sua terapia de juros baixos, o que reforça a recuperação da economia e fortalece o metabolismo do capitalismo americano. Os juros dos títulos do Tesouro de dez anos de prazo estão sendo negociados a uma taxa anual de apenas 1,75%, também muito abaixo dos valores históricos.
Mas outros sinais importantes merecem a consideração do analista que tem seu olhar voltado para o resto do mundo. As importações americanas estão crescendo a taxas bem mais elevadas do que as exportações, o que faz com que a força da economia nos EUA sirva como alavanca para outras economias. No último trimestre de 2014, esse vazamento do consumo americano representou 1% do PIB segundo números preliminares, o que, dado o tamanho da economia americana, não é pouco.
Nesta quinta-feira (5), o Departamento do Comercio divulgou os números de dezembro, e a diferença entre exportações e importações foi ainda maior do que o estimado anteriormente. Em razão disso, os economistas estão revendo para baixo o crescimento do último trimestre para cerca de 2% do PIB.
O dólar valorizou-se em quase 20% em relação a uma cesta de moedas --o real inclusive-- desde julho de 2014, quando o Fed iniciou o movimento de aperto lento nas condições monetárias. A conjugação do crescimento do consumo dos americanos com a redução de preços dos produtos importados provocada pelo dólar mais forte representa estímulo forte para as economias da Europa, da China, do Japão e de países emergentes como o Brasil.
De certa forma, os Estados Unidos começam a pagar --via importações mais fortes-- os custos que o colapso dos últimos anos do governo Bush impuseram a outras sociedades.
Com o passar do tempo, essas condições benignas nos EUA vão se alterar, e o Fed terá que iniciar um ciclo longo de normalização dos juros. Os mais afobados acham que essa mudança deve ocorrer ainda em 2015, enquanto outros visualizam juros mais elevados apenas no próximo ano. Mas é quase unanimidade dos analistas o reconhecimento de que a crise iniciada em 2008 em Wall Street --e que quase levou o mundo ao precipício de uma grande depressão-- chegou ao fim.
Como disse há muito tempo o grande Lorde Keynes, o capitalismo é capaz de criar grandes crises em razão de ideias e comportamentos errados de seus dirigentes, mas --desde que administrados com inteligência e coragem-- ele mesmo sabe corrigir seus erros. E foi o que aconteceu nos EUA a partir de 2009/2010.
Depois de cinco anos na UTI, a maior economia do mundo volta a funcionar normalmente. Embora ainda com o aparelho dos juros baixos ligado ao seu sistema sanguíneo, o metabolismo do doente começa a seguir os padrões de normalidade das economias de mercado. Os sinais vitais mais importantes em uma economia de consumo --afinal, os gastos das famílias representam 70% do PIB americano-- já mostram o vigor perdido desde a crise de 2008.
No último trimestre do ano passado, o consumo cresceu a uma taxa anual de 4,3% e as empresas passaram a aumentar seus estoques de produtos para atender a demanda crescente do mercado interno. Em sequência, a geração de postos de trabalho acelerou-se e a taxa de desemprego iniciou uma tendência continuada de redução.
Apesar desses sinais, a palavra CAUTELA ainda domina o comportamento dos agentes mais conservadores, principalmente os empresários. O investimento privado ainda patina, e o aumento dos salários está abaixo da tendência histórica para os padrões do PIB crescendo 3% ao ano. O mesmo ocorre com o ritmo da inflação. Mesmo excluindo os efeitos da queda do preço do petróleo, a inflação ao consumidor está rodando a uma taxa anual de apenas 1,3% ao ano.
Recentemente, com a incrível queda dos preços do petróleo, a recuperação da economia recebeu outra grande dose de estimulantes. Em uma sociedade de consumo e que usa no limite o transporte individual baseado no automóvel, a queda do preço dos derivados de petróleo tem o mesmo efeito expansionista de uma redução de impostos e alta da renda disponível para o consumo.
Essa calma de monastério no campo da inflação e dos aumentos salariais tem permitido ao Fed manter sua terapia de juros baixos, o que reforça a recuperação da economia e fortalece o metabolismo do capitalismo americano. Os juros dos títulos do Tesouro de dez anos de prazo estão sendo negociados a uma taxa anual de apenas 1,75%, também muito abaixo dos valores históricos.
Mas outros sinais importantes merecem a consideração do analista que tem seu olhar voltado para o resto do mundo. As importações americanas estão crescendo a taxas bem mais elevadas do que as exportações, o que faz com que a força da economia nos EUA sirva como alavanca para outras economias. No último trimestre de 2014, esse vazamento do consumo americano representou 1% do PIB segundo números preliminares, o que, dado o tamanho da economia americana, não é pouco.
Nesta quinta-feira (5), o Departamento do Comercio divulgou os números de dezembro, e a diferença entre exportações e importações foi ainda maior do que o estimado anteriormente. Em razão disso, os economistas estão revendo para baixo o crescimento do último trimestre para cerca de 2% do PIB.
O dólar valorizou-se em quase 20% em relação a uma cesta de moedas --o real inclusive-- desde julho de 2014, quando o Fed iniciou o movimento de aperto lento nas condições monetárias. A conjugação do crescimento do consumo dos americanos com a redução de preços dos produtos importados provocada pelo dólar mais forte representa estímulo forte para as economias da Europa, da China, do Japão e de países emergentes como o Brasil.
De certa forma, os Estados Unidos começam a pagar --via importações mais fortes-- os custos que o colapso dos últimos anos do governo Bush impuseram a outras sociedades.
Com o passar do tempo, essas condições benignas nos EUA vão se alterar, e o Fed terá que iniciar um ciclo longo de normalização dos juros. Os mais afobados acham que essa mudança deve ocorrer ainda em 2015, enquanto outros visualizam juros mais elevados apenas no próximo ano. Mas é quase unanimidade dos analistas o reconhecimento de que a crise iniciada em 2008 em Wall Street --e que quase levou o mundo ao precipício de uma grande depressão-- chegou ao fim.
Como disse há muito tempo o grande Lorde Keynes, o capitalismo é capaz de criar grandes crises em razão de ideias e comportamentos errados de seus dirigentes, mas --desde que administrados com inteligência e coragem-- ele mesmo sabe corrigir seus erros. E foi o que aconteceu nos EUA a partir de 2009/2010.
08 de fevereiro de 2015
Luiz Carlos Mendonça de Barros, Folha de SP
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