Quatro dias depois de reeleito para a presidência do Senado, entre afirmações de concórdia e entendimento, Renan Calheiros põe as unhas de fora. Manobrou para que o restante da mesa fosse composto apenas por governistas, como ele. Alijou PSDB, DEM e PSB de participarem nos diversos cargos, conforme o princípio da proporcionalidade.
Ouviu críticas e ameaças veementes, como as de Aécio Neves, retrucou no mesmo tom, mas deixou, como resultado, o encilhamento do Senado pelo palácio do Planalto. Se as oposições não podem sequer integrar o conjunto que dirigirá a casa, que outro caminho lhes restará senão comparecer às sessões armadas de tacape e borduna.
Dias tenebrosos são previstos, porque mesmo fora da mesa, esses partidos encontrarão no regimento interno e na Constituição mecanismos para infernizar a vida de seu presidente.
Indaga-se que motivos teriam levado Renan ao alinhamento automático com o governo Dilma. Agradecer o apoio de quase toda a bancada do PT em sua eleição? Amaciar o caminho das relações entre seu filho, novo governador de Alagoas, e as benesses do governo federal? Vingar-se dos adversários agora transformados em inimigos por haverem votado em seu desafiante, Luiz Henrique da Silveira?
Acautelar-se da possibilidade de vir a ser relacionado na lista do procurador-geral da República, teoricamente capaz de levar ao pedido da cassação de seu mandato?
Tanto faz, mas a verdade é que Renan comprou uma briga desnecessária. Acirrou os ânimos numa casa conhecida por ações de entendimento e concórdia. Poderá arrepender-se.
A ORDEM DOS FATORES
Na Câmara, a ordem dos fatores não altera o produto, no caso, o choque igualmente perigoso entre oposição e governo. Só que as hostilidades contra o palácio do Planalto são equacionadas pelo
novo presidente, Eduardo Cunha. Ele prepara uma série de cascas de banana para os governistas escorregarem, apesar de na teoria integrar o PMDB, partido da base oficial.
Da formação de uma CPI para investigar a lambança na Petrobras à votação da reforma política, o deputado fluminense rejeita tornar-se aliado de Dilma. Fala em independência, mas é adversário. Foi para a briga e ganhou, com sua eleição.
Carlos Chagas
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