É lícito supor, em virtude do esdrúxulo modelo presidencialista em vigor por aqui, ser difícil, por parte do Executivo, desenvolver um regime de ausência ou mesmo de pouca interferência no Parlamento, com o qual necessita manter "pontes", algumas já sendo construídas pelo PT, rápido no gatilho, com a nova presidência, para articular sua governabilidade.
Assim, a veemência apregoada pelo recém-eleito Presidente da Câmara, Deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), ao afirmar que não será submisso às imposições do Planalto, que preservará a independência da casa e, ao mesmo tempo, que garantirá a governabilidade do país, corre o risco de desaguar numa inconsistência lógica difícil de desatar: para governar, o Executivo precisa construir pontes mas, para construí-las, necessita de tentáculos no Congresso que fatalmente comprometerão sua autonomia, cuja restrição deverá ser então aceita pelos parlamentares, a fim de garantir a prometida governabilidade.
Sabe Deus que tipos de arranjos então terão, como sempre, que ser alinhavados.
Ou seja, o país, que exibe a curiosa situação de constatar ser da base aliada o partido que pratica a mais eficiente oposição ao Executivo, dos três, o mais "poderoso" dos poderes, nada harmônicos, enquanto que o que deveria desempenhar tal papel coloca-se somente à espreita, não consegue realizar sua tão implorada e necessária reforma política, por exibir um sistema confuso e contraditório que só serve para eternizar caciques políticos, alguns dos quais, por aposentadoria, começam a passar o bastão para membros das respectivas famílias, formando dinastias que dificilmente se comprometerão a oxigenar o sistema.
Paulo Roberto Gotaç é Capitão de Mar e Guerra, reformado.
Nenhum comentário:
Postar um comentário