O título sintetiza o reflexo político principal do pronunciamento feito pelo ex-presidente Lula na noite de terça-feira, na ABI, na manifestação que aparentemente tinha dois objetivos: apoiar a presidente Dilma Rousseff e defender a Petrobrás contra interesses voltados para atingir a empresa e privatizá-la para, em sequencia, entrega-la a multinacionais.
Antes porém de analisar esses dois pontos, acrescente-se um terceiro que surge nitidamente do episódio: o impulso revelado por Luis Inácio da Silva, de fato grande eleitor da atual presidente da República, de retomar firmemente a liderança do PT e o comando do próprio governo.
Toda engrenagem surgiu claramente de suas palavras: “nossa querida Dilma tem que levantar a cabeça, dizer eu ganhei as eleições, e governar o país.” A frase foi textualmente reproduzida na reportagem de Juliana Castro e Fernando Rodrigues, edição de 25 de O Globo.
Se ela necessita levantar a cabeça e governar o país, na visão de Lula, é porque não vem fazendo nem uma coisa nem outra. O antecessor apresentou-se como salvador da sucessora e também acrescentou: “em vez de ficar chorando, vamos defender a Petrobrás, defende a democracia e defender a continuidade do desenvolvimento social no país.”
Defender a Petrobrás contra quem? – é a pergunta que se impõe. Pois na verdade defender a estatal é, sem dúvida, defende-la contra o bando de ladrões que a assaltou numa escala impressionante de bilhões de dólares e reais.
Só a ex-presidente Graça Foster, numa primeira escala, estimou os prejuízos causados pela corrupção num montante aproximado de 88 bilhões de reais. A Operação Lava Jato,m por sinal, revelou à opinião pública o maremoto de roubos e, pelo menos, conseguiu estancar a série de assaltos.
As delações premiadas estão aí para comprovar. Paulo Roberto Costa e Pedro Barusco se prontificaram a devolver o primeiro, 26 milhões de dólares, o segundo 95 milhões, aos cofres da Petrobrás.
Frutos de atos de corrupção praticados em conivência com empresas empreiteiras e fornecedoras, ex-dirigentes e doleiros, através dos quais os repasses dos crimes eram realizados.
Acrescente-se à lista também o ex-diretor Nestor Cerveró, personagem de reportagem de Cleide Carvalho, Luisa Vale e Renato Onofre, publicada na mesma edição de quarta-feira de O Globo.
DESCAPITALIZAÇÃO
Os roubos estão concretamente comprovados, como todos sabem, mas que o ex-presidente da República empenha-se em desfocar através de uma lente capaz de transferir a imagem dos assaltos às empresas para um esforço indireto de sua descapitalização.
Esta descapitalização foi efetuada conjuntamente pela trilogia formada pelos corruptos, lobistas e corruptores, aliados a doleiros e dirigentes de companhias fantasmas que, só existiam no papel. Além do roubo, acrescente-se a enorme sonegação fiscal. Sonegação que, diga-se de passagem, deveria figurar entre os alvos do ministro Joaquim Levy no seu projeto de zerar o déficit nas contas públicas.
Mas no discurso de Lula na Associação Brasileira de Imprensa um outro aspecto, bastante crítico, tem de ser destacado: quando ele ameaça com a perspectiva de João Stédile, principal líder do Movimento dos Sem Terra, colocar o exército dele nas ruas. Para quê?
Para que tipo de confronto? A afirmação, vale acentuar, colide frontalmente com a política do governo na área agrícola e agropecuária, a cargo da ministra Kátia Abreu. Enfim, não se vendo só o fato, mas sobretudo no fato, a atuação de Lula foi um desastre para o governo, de modo geral, e para Dilma Rousseff sob o ponto de vista político pessoal.
Só valeu para ele próprio, Luiz Inácio Lula da Silva, que antecipou o lançamento de sua candidatura em 2018 a sucessor de sua sucessora no Planalto.
27 de fevereiro de 2015
Pedro do Coutto
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