A crise da Petrobras não arrefece. A cada revelação da Operação Lava-Jato, que investiga o bilionário esquema de corrupção, a maior empresa brasileira derrete um pouco mais. Na terça-feira, a agência norte-americana de classificação de risco Moody"s - uma das três mais importantes do mundo - rebaixou, pela segunda vez, as notas de crédito (rating) da estatal, agora, para grau especulativo.
Detentora da maior dívida corporativa do mundo (R$ 261,45 bilhões), a companhia se aproxima da beira do despenhadeiro, e o Brasil aprofunda a fragilidade externa. A decisão da Moody"s poderá levar agências como a Standard & Poor"s e a Fitch a revisarem para baixo o grau de risco da petroleira. A reclassificação por outra instituição desencadeará movimento de venda de títulos e ações, sobretudo pelos fundos de pensão. Na maioria deles, a regra é clara no sentido de se desfazerem dos papéis de empresas com nota de crédito negativa.
A Petrobras perderá capacidade de recorrer ao mercado a fim de buscar dinheiro e honrar compromissos com acionistas, investidores e credores. É dado como certo que a empresa não conseguirá a chancela de duas agências para novas transações. Hoje, cerca de 80% da dívida estão no exterior. O trágico cenário que se constrói, a partir da decisão da Moody"s, não ficará restrito à petrolífera. A falta de credibilidade contaminará outras estatais, como Eletronorte, Eletrobras, Banco do Brasil, que buscam nas fontes internacionais recursos para incrementar as atividades.
Mais: a irresponsabilidade na gestão da petrolífera repercute em toda a economia nacional. Apesar das falcatruas, que lhe corroeram as finanças, a Petrobras movimenta 13% do Produto Interno Bruto do Brasil. A área de abrangência vai muito além da atividade-fim, que é a extração de petróleo. A empresa cumpre papel social e econômico importantíssimo para o desenvolvimento do país no campo da pesquisa científica, da produção tecnológica, da geração de empregos.
Aos 61 anos, é um dos maiores patrimônios da nação, não de grupos que se aboletam no poder para gestões efêmeras, mas com alta capacidade destrutiva. Historicamente se tornou instituição âncora da economia nacional. Nos governos do general João Figueiredo - o último do ciclo da ditadura - e de José Sarney, o primeiro da redemocratização, o Brasil apelou para a moratória. Entre o fim dos anos 1980 e início da década de 1990, o calote colocou o país à margem dos recursos estrangeiros.
A Petrobras, compradora de petróleo no mercado externo, tinha crédito na praça internacional e, assim, conseguia internalizar dólares necessários para abastecer o país. O governo Lula conseguiu levar o país a conquistar status de bom pagador e obter grau de investimento. Hoje, a conquista se esvai pelo ralo.
Confirmado o prognóstico de especialistas, a Petrobras não derreterá sozinha. O Brasil corre sério risco de reprovação global e perda de investidores. Para fugir do cenário catastrófico, não existe plano B. Impõe-se choque de realismo e de austeridade como o sugerido pelo pacote fiscal do governo. A receita é amarga. Mas precisa ser aviada.
27 de fevereiro de 2015
Editorial Correio Braziliense
Detentora da maior dívida corporativa do mundo (R$ 261,45 bilhões), a companhia se aproxima da beira do despenhadeiro, e o Brasil aprofunda a fragilidade externa. A decisão da Moody"s poderá levar agências como a Standard & Poor"s e a Fitch a revisarem para baixo o grau de risco da petroleira. A reclassificação por outra instituição desencadeará movimento de venda de títulos e ações, sobretudo pelos fundos de pensão. Na maioria deles, a regra é clara no sentido de se desfazerem dos papéis de empresas com nota de crédito negativa.
A Petrobras perderá capacidade de recorrer ao mercado a fim de buscar dinheiro e honrar compromissos com acionistas, investidores e credores. É dado como certo que a empresa não conseguirá a chancela de duas agências para novas transações. Hoje, cerca de 80% da dívida estão no exterior. O trágico cenário que se constrói, a partir da decisão da Moody"s, não ficará restrito à petrolífera. A falta de credibilidade contaminará outras estatais, como Eletronorte, Eletrobras, Banco do Brasil, que buscam nas fontes internacionais recursos para incrementar as atividades.
Mais: a irresponsabilidade na gestão da petrolífera repercute em toda a economia nacional. Apesar das falcatruas, que lhe corroeram as finanças, a Petrobras movimenta 13% do Produto Interno Bruto do Brasil. A área de abrangência vai muito além da atividade-fim, que é a extração de petróleo. A empresa cumpre papel social e econômico importantíssimo para o desenvolvimento do país no campo da pesquisa científica, da produção tecnológica, da geração de empregos.
Aos 61 anos, é um dos maiores patrimônios da nação, não de grupos que se aboletam no poder para gestões efêmeras, mas com alta capacidade destrutiva. Historicamente se tornou instituição âncora da economia nacional. Nos governos do general João Figueiredo - o último do ciclo da ditadura - e de José Sarney, o primeiro da redemocratização, o Brasil apelou para a moratória. Entre o fim dos anos 1980 e início da década de 1990, o calote colocou o país à margem dos recursos estrangeiros.
A Petrobras, compradora de petróleo no mercado externo, tinha crédito na praça internacional e, assim, conseguia internalizar dólares necessários para abastecer o país. O governo Lula conseguiu levar o país a conquistar status de bom pagador e obter grau de investimento. Hoje, a conquista se esvai pelo ralo.
Confirmado o prognóstico de especialistas, a Petrobras não derreterá sozinha. O Brasil corre sério risco de reprovação global e perda de investidores. Para fugir do cenário catastrófico, não existe plano B. Impõe-se choque de realismo e de austeridade como o sugerido pelo pacote fiscal do governo. A receita é amarga. Mas precisa ser aviada.
27 de fevereiro de 2015
Editorial Correio Braziliense
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