"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

LULA TEME OS ALOPRADOS QUE CERCAM DILMA

 



A interlocutores mais próximos, o ex-presidente Lula tem se mostrado radiante com a brusca mudança de Dilma Rousseff.
Acredita que, enfim, a petista admitiu os erros cometidos no primeiro mandato. Lula ressalva, porém, que será preciso esperar um pouco mais para ver até onde vai o pragmatismo da sucessora. Não se pode esquecer, porém, que ela está cercada de aloprados.

Apesar do silêncio estratégico sobre a economia — desde que tomou posse, não emitiu uma palavra em público —, Dilma Rousseff vem acompanhando todas as repercussões das medidas anunciadas pelo governo. Nada tem escapado do seu crivo.
 A chefe do Executivo tem conversado sistematicamente com integrantes da equipe econômica em busca de retorno de empresários e investidores. E, para espanto de muitos, ao contrário dos últimos quatro anos, ela vem mostrando mais disposição para ouvir.

INFLAÇÃO DE LEVY
O choque de realidade que o governo está dando nos brasileiros terá a primeira medição esta sexta-feira, quando o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgará o IPCA-15, a prévia do índice oficial de inflação. As apostas são de que a taxa ficará entre 0,9% e 1%, números que não se vê para meses de janeiro em mais de três anos.

O IPCA-15 já incorporará os reajustes das passagens de ônibus nas principais capitais do país e parte dos aumentos das tarifas de energia elétrica. O índice fechado do mês será, porém, bem maior, acredita o economista-chefe do Banco Fibra, Cristiano Oliveira. Pelas contas dele, o primeiro IPCA de Joaquim Levy à frente do Ministério da Fazenda chegará a 1,2%. Com isso, a inflação acumulada em 12 meses ficará muito próxima dos 7%.

“Não há dúvidas de que o custo de vida em janeiro será muito elevado, puxado, sobretudo, pelas tarifas públicas. E não será diferente em fevereiro, quando o IPCA será influenciado pelo grupo educação e, claro, pelos combustíveis”, ressalta Oliveira. “Com isso, apenas nos dois primeiros meses de 2015 teremos inflação superior a 2%, ou seja, quase a metade do centro da meta, de 4,5%, definida pelo governo para todo o ano”, acrescenta.

RECESSÃO
A carestia é reflexo da arrumação de casa que o governo Dilma Rousseff está sendo obrigado a fazer para tentar reconstruir a confiança de investidores e empresários. Sem a retomada dos investimentos produtivos, não há como o país sair do atoleiro em que se encontra. São grandes as chances de o Brasil mergulhar na recessão nos próximos meses. Mas a aposta de Levy é de que, à medida que os resultados do ajuste fiscal forem aparecendo, o humor dos donos do dinheiro mudará.

Nos cálculos do Banco Santander, mesmo que o governo entregue o que prometeu em termos de meta de superavit primário — 1,2% do PIB —, a retomada do Produto Interno Bruto (PIB) será muito lenta. A aposta da instituição espanhola é de que o crescimento deste ano, não considerando a hipótese de racionamento de energia elétrica, ficará em apenas 0,3%. Em 2016, quando Levy e o Banco Central esperam ver a inflação caminhando para o centro da meta, será possível a economia cravar alta de 1,3%.

SEQUÊNCIA DE ZEROS
Ninguém descarta, contudo, a possibilidade de o país registrar três anos perdidos em termos de crescimento — 2014, 2015 e 2016. Será uma sequência de taxas de expansão próximas de zero sem precedentes nos últimos 30 anos.
“A ordem dentro do governo é para mantermos o otimismo. Não é possível que, depois de anunciarmos tantas medidas impopulares, como o aumento da energia elétrica e as restrições a benefícios sociais, a credibilidade da política econômica continue no chão. Investidores e empresários vão se render ao pragmatismo do governo, cedo ou tarde”, diz um ministro com bom trânsito no Palácio do Planalto.

23 de janeiro de 2015
Vicente Nunes
Correio Braziliense

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