José Fucs, colunista da revista Época, faz uma pergunta que tem todo o sentido: Que governo dos trabalhadores é esse? Mais que qualquer bravata revolucionária, não há nada mais relevante para um governo mostrar a que veio do que o veto da má dama à correção de 6,5% na tabela do Imposto de Renda.
A decisão da presidente Dilma de vetar a correção da tabela do Imposto de Renda (IR) em 6,5%, publicada hoje no Diário Oficial da União, dá o que pensar sobre o seu governo e o PT.
Mais que qualquer bravata revolucionária, do tipo que gera frisson nas hostes vermelhas do PT, e mais que qualquer medida do “saco de maldades” anunciado ontem pelo novo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, a correção da tabela do Imposto de Renda tem um impacto direto no bolso dos brasileiros todos os meses.
Não há nada mais emblemático do que isso para um governo mostrar a que veio. Afinal, trata-se de uma medida que atinge todos os assalariados do país, sem exceção, que pagam na fonte ao Fisco uma parte considerável de seus ganhos. É um contingente calculado em cerca de 6,5 milhões de pessoas, fora os mais de 7,5 milhões de trabalhadores que se declaram autônomos ou empresários e também dão o seu quinhão.
Apesar de o PT se considerar “o legítimo representante dos trabalhadores” desde a sua fundação, em 1980, detentor de uma espécie de direito divino para falar em nome dos fracos e oprimidos, o veto de Dilma mostra que se foram os tempos em que o partido honrava o seu nome, se é que algum dia isso realmente aconteceu.
Embora a inflação tenha sido de 6,4% no ano passado, Dilma vetou o reajuste de 6,5%, aprovado pelo Congresso Nacional, e pretende atualizar a tabela do IR em apenas 4,5% – uma forma velada de aumentar a mordida do Leão mais uma vez. Desde 1996, incluindo os governos petistas, que agravaram o problema, a defasagem da correção da tabela do IR já chega as 66,3%, segundo um estudo do Sindicato Nacional dos Auditores-Fiscais da Receita Federal (Sindifisco Nacional) – um confisco explícito de poupança popular.
Além da tabela do IR, os depósitos dos trabalhadores no FGTS também têm sido corrigidos abaixo da inflação – 3% ao ano, fora a variação da TR, de 0,86% em 2014. Trocando em miúdos, isso significa que o saldo das contas do FGTS está diminuindo em termos reais (descontando a inflação), em vez de engordar, a cada mês.
O que era para ser uma poupança destinada a proteger os assalariados em caso de demissão, doença grave ou compra de casa própria, acabou se transformando num úbere generoso para cobrir o rombo do governo, que cresceu dramaticamente nos últimos anos.
Diante da garfada de Dilma e do PT no FGTS e na tabela do Imposto de Renda, cabe a pergunta:
Que governo dos trabalhadores é esse? Do jeito que a coisa vai, logo, logo, discurso de Robin Hood do PT, que resiste bravamente a todos os escândalos, vai caducar para sempre. Por causa de medidas como essas, fica cada vez mais claro que o grande compromisso do partido é mesmo com o seu projeto de poder.
23 de janeiro de 2015Magu
in giulio sanmartini
Nenhum comentário:
Postar um comentário