Luiza Erundina, eleita em outubro do ano passado para seu quinto mandato consecutivo de deputada federal, nem parece uma representante do Congresso que tomará posse.
Suas palavras assemelham-se muito mais às que ouvimos por aí, nas rodas de conversa, nos protestos e entre aqueles que têm horror à política.
Desanimada com os rumos de seu próprio partido e da classe da qual faz parte, ela resume de forma dura:
“Nós do PSB não representamos mais nada. E esse próximo Congresso não representa mais nada.
Que grau de legitimidade, de representatividade que tem, se nós já assumimos deixando uma dívida, mais uma, para a sociedade? Nossos honorários foram majorados de forma absurda. Um aumento sem nenhuma consideração ao momento que o país vive, de crise, de cortes, de contenção de gastos. E ainda aprovado no final da legislatura sem qualquer discussão”.
Erundina, que participa das discussões para a criação do Avante!, novo partido que contaria com a presença de lideranças dissidentes da Rede, de Marina Silva, não aposta nem mais na reforma política.
“Militei por mais de 15 anos pela reforma política. Mas agora eu vejo que tentar reformar, remendar esse tecido desgastado, poluído, só vai aumentar o problema. Nós temos é que reorientar o sistema político. Não é mudar a eleição, é algo que tem que começar de fora, da sociedade”.
NOVO CONCEITO DE PODER
Para Erundina, a saída não está pronta, mas passa por estabelecer uma relação horizontal, verdadeiramente democrática, diferente do que existe hoje nos partidos.
“É preciso refazer o conceito de poder que emana do povo. Esse poder não pode ser apropriado por qualquer um, ignorando a sociedade”, desabafa.
Sobre o PSB, diz que o desgaste não é de hoje.
“Já é desde o segundo turno das eleições. Eu era da Executiva Nacional do partido e me afastei quando houve o apoio ao Aécio (Neves). Por uma questão política, e não pessoal. Questão de projeto político. Primeiro com o Eduardo Campos e depois com a Marina (Silva) como candidatos, o discurso era de romper com a polarização entre PSDB e PT. O mais coerente então era liberar a militância para que os eleitores tomassem uma decisão e não tomar uma postura de apoio ao Aécio, de fazer campanha. Isso contradisse completamente o discurso. Deixamos de ser a terceira via e passamos a ser a segunda via. E, para mim, política é coerência”.
23 de janeiro de 2015
Ricardo Corrêa e Lucas Ragazzi
O Tempo
Nenhum comentário:
Postar um comentário