Estão incompletas as duas denúncias feitas por Eduardo Cunha esta semana. A primeira, sobre o aliciamento de deputados já comprometidos com sua candidatura à presidência da Câmara. A manobra seria desenvolvida por ministros com gabinete no palácio do Planalto, sob promessas de nomeações e liberação de verbas. A outra, de que integrantes da cúpula da Polícia Federal teriam forjado a mando do governo uma suposta gravação para incriminá-lo no escândalo da Petrobras, desgastando sua pretensão de suceder Henrique Eduardo Alves.
O problema é que nos dois casos Eduardo Cunha aponta como fontes para suas acusações “deputados de sua intimidade”, mas não refere quais. Seria fundamental saber quais os deputados abordados, por que ministros e quais as promessas feitas. Tudo com nome e número no catálogo telefônico. Da mesma forma, é preciso apontar quem se referiu à cúpula da Polícia Federal, depois nomear os altos funcionários da entidade envolvidos na gravação. Tudo olho no olho, sem receio de despertar réplicas e tréplicas.
Se verdadeiras, as duas denúncias despertariam graves consequências na Câmara, mesmo antes do início da próxima Legislatura. Falsas, levariam o deputado carioca à perda de razoável número de votos às suas pretensões.
Até a presidente Dilma poderia ser responsabilizada, pois o assédio aos eleitores do PMDB teria acontecido no palácio do Planalto, além da evidência de que a Polícia Federal é subordinada a ela. Estariam em jogo as prerrogativas constitucionais dos poderes da União, com a interferência indevida do Executivo nas atribuições específicas do Legislativo.
O problema é que Eduardo Cunha não quer bater de frente com o governo, pelo menos antes de ser eleito presidente da Câmara, como parece provável. Uma postura oposicionista explícita resultaria na perda de apoio, pois governo é governo, com a caneta e o Diário Oficial na mão.
Só que hesitando entre a denúncia completa e a acomodação, o candidato se enfraquece. Perde densidade sem a contrapartida de receber boa vontade. A presidente não o engole, informada de sua disposição de promover a independência parlamentar.
EBULIÇÃO NOS TRÊS PODERES
Do que menos Dilma necessita, no entanto, é de ebulição na Praça dos Três Poderes, em meio ao óbvio desgaste de sua administração. Aumento de impostos e taxas, supressão de leis sociais, elevação de juros e provas de corrupção deslavada e jamais vista na República recomendam cautela. Mesmo no PT existem setores acusando o governo de conservador e neoliberal.
O saco de maldades aberto faz pouco assusta, irrita e desperta consequências, todas já despejadas sobre os ombros da presidente.
A guerra ainda não foi declarada entre o governo e o Congresso, mas as escaramuças já começaram. Se Eduardo Cunha for eleito, a derrota de Arlindo Chinaglia servirá para afastar ainda mais o PMDB do PT.
Com sua base parlamentar fragilizada, Dilma precisará fazer ainda mais concessões aos pequenos partidos, em especial os que vivem de chantagem. Resultado: o segundo mandato começará a acabar logo depois de haver começado…
ESTRATÉGIA ECONÔMICA
Postado na esquina da Avenida Paulista com a rua Augusta, o cidadão contava os ônibus que passavam. Extasiado com o tráfego intenso, chamava a atenção dos transeuntes pelos números que ia repetindo. Foi quando apareceu um policial, interpelando-o:
“O senhor não sabe que é proibido contar ônibus? Vou multá-lo! Para cada ônibus que contou terá de pagar cem reais!.”
Intimidado diante da autoridade, nosso personagem confessou haver contado vinte ônibus, tirando da carteira os dois mil freais correspondentes. Com o dinheiro no bolso, o policial sumiu.
Os populares em volta só não entenderam porque o indigitado contador começou a rir a mais não poder. E explicou: “Enganei a polícia: eu já havia contado mais de cinquenta ônibus.”
A historinha se conta a propósito dos “ajustes” anunciados pelo ministro Joaquim Levy…
23 de janeiro de 2015
Carlos Chagas
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