"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quarta-feira, 15 de outubro de 2014

SEM LUTA DE CLASSES

A democracia brasileira já evoluiu demais para uma campanha presidencial ficar reduzida ao anacronismo da luta de classes, que o país já superou há muito tempo. Embora algumas lideranças menos preparadas queiram transformar a disputa eleitoral num confronto de pobres contra ricos, ou de uma região geográfica contra outra, o povo brasileiro não vai cair nesta armadilha, até mesmo porque os desequilíbrios sociais _ que ainda existem e não podem ser ignorados _ têm sido sistematicamente combatidos desde a conquista da estabilidade econômica.

As próprias pesquisas de opinião pública entendem que, no dia 26, a eleição será decidida em boa parte por uma classe média intermediária, disposta a assegurar conquistas dos últimos anos, mas sem abrir mão de avanços sob o ponto de vista de qualidade de vida.
O bom senso, portanto, recomenda que essas pretensões sejam devidamente levadas em conta pelos candidatos em disputa no segundo turno.

Em recente reportagem sobre o processo eleitoral, o jornal espanhol El País chama atenção para a simplificação da campanha, argumentando que o discurso de uma classe social contra outra está ultrapassado.


Há ainda menos sentido nisso num país como o Brasil, que saiu do mapa da pobreza, na avaliação das Nações Unidas, e tem agora uma maioria de classe média.

Foi dessa parcela da sociedade, que hoje tenta assegurar conquistas ameaçadas pela instabilidade econômica, que muitos jovens saíram recentemente às ruas lutando por mais qualidade de vida no cotidiano.

Alguns pressupostos de um salto nessa área _ como melhorias no transporte urbano, mais segurança, maior eficiência na saúde e na educação _ seguem entre as aspirações dos brasileiros. Ainda assim, nem sempre merecem o destaque apropriado por parte dos candidatos.

Institutos de opinião pública, como o Datafolha, confirmam que, com a consolidação dos votos nos extremos da classificação socieconômica, essa faixa da população, com mais acesso à informação, terá papel decisivo nos rumos da eleição. Habilita-se, assim, a merecer maior atenção nos planos de quem pretende comandar o país.


Depois de, em grande parte, terem ascendido socialmente, os eleitores têm o direito de esperar mais propostas concretas para o seu dia a dia e menos discussão de interesse dos candidatos. Quanto mais isso ficar claro, mais a democracia ficará próxima dos anseios dos cidadãos.

 
15 de outubro de 2014
Editorial Zero Hora

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