Marina Silva anunciou no domingo, finalmente, seu apoio à candidatura de Aécio Neves no segundo turno da eleição presidencial. Coerente com sua proposta eleitoral de promover uma "nova política" no País, Marina destacou o fato de seu apoio à candidatura tucana não se dar da forma "como sempre é feito", pela composição em torno de espaço no aparelho governamental e outras vantagens, mas com base "em um programa".
Com a atitude da ex-candidata do PSB, tende a se definir em seus grandes contornos o quadro eleitoral para o próximo dia 26, com provável reflexo na ampliação da vantagem de Aécio Neves sobre Dilma Rousseff, captada pelas pesquisas divulgadas até o momento.
É irrelevante qualquer especulação sobre a exata medida dos votos que o apoio de Marina Silva deve transferir para o candidato tucano, até porque as pesquisas levam a crer que a maior parte dos eleitores dela no primeiro turno já se antecipou nessa direção.
O que é realmente importante, na atitude da ex-ministra do Meio Ambiente, é a determinação e a coerência com que colocou até mesmo o timing de sua decisão a serviço de uma exemplar manifestação de que, na contramão das práticas vigentes, alianças políticas devem ser construídas em torno de propostas programáticas.
Marina fez questão de destacar que, quando Aécio Neves lhe apresentou pontos de convergência, em sua plataforma eleitoral, não o fez com o sentido de um pedido individual de apoio, mas de um compromisso de governo.
E enfatizou: "Votarei em Aécio e o apoiarei, votando nesses compromissos, dando um crédito de confiança à sinceridade de propósitos do candidato e de seu partido e, principalmente, entregando à sociedade brasileira a tarefa de exigir que sejam cumpridos".
Com certa dose de malícia, Marina comparou a "carta de compromisso com os brasileiros", proposta agora por Aécio, com a iniciativa adotada por Lula na campanha de 2002, quando lançou a famosa e surpreendente - para quem não conhecia os métodos petistas - Carta ao Povo Brasileiro, por meio da qual assumiu compromisso com a manutenção do Plano Real, abrindo diálogo com os setores produtivos.
Esse compromisso não impediu que, após a posse, Lula e os petistas passassem a chamar o Plano Real de "herança maldita". Considerando que haviam votado contra o Plano Real em 1994, pode-se aceitar que, ao assumir o governo, Lula e a companheirada tenham decidido apenas agir com coerência.
O que resulta na constatação inescapável de que a Carta ao Povo Brasileiro consumou um engodo precursor de muitos outros aplicados pelos petistas nas campanhas seguintes e de modo especial, por força do desespero, na atual.
A preocupação de Marina Silva de destacar o caráter programático de seu apoio a Aécio Neves faz ainda mais sentido e merece o aplauso de quem luta para promover a elevação do padrão ético da política brasileira quando os jornais, no mesmo dia em que estampam sua manifestação, abrem espaço para as declarações do mais deslavado oportunismo do líder do PMDB na Câmara dos Deputados, o reeleito Eduardo Cunha (RJ): "Não vejo dificuldade nenhuma de (o PMDB) se posicionar em apoio a um futuro governo Aécio".
O PMDB, depois que renegou suas origens de frente ampla de resistência à ditadura militar, fez uma clara opção por ser governo. Qualquer governo.
Mas Eduardo Cunha atingiu o ponto mais alto do "pragmatismo": "Não deixamos de integrar a base do governo, mas optamos pela independência. Tanto que não indicamos nomes para substituir ministros". É esse o parlamentar que está trabalhando para, qualquer que seja o resultado da eleição presidencial, se tornar o próximo presidente da Câmara dos Deputados.
As urnas do segundo turno se abrem daqui a 11 dias. Para quem ainda tem a capacidade de se indignar diante das aberrações da nossa política, resta lutar para que venha a se cumprir a esperança manifestada por Marina Silva de que "a alternância de poder fará bem ao Brasil".
Com a atitude da ex-candidata do PSB, tende a se definir em seus grandes contornos o quadro eleitoral para o próximo dia 26, com provável reflexo na ampliação da vantagem de Aécio Neves sobre Dilma Rousseff, captada pelas pesquisas divulgadas até o momento.
É irrelevante qualquer especulação sobre a exata medida dos votos que o apoio de Marina Silva deve transferir para o candidato tucano, até porque as pesquisas levam a crer que a maior parte dos eleitores dela no primeiro turno já se antecipou nessa direção.
O que é realmente importante, na atitude da ex-ministra do Meio Ambiente, é a determinação e a coerência com que colocou até mesmo o timing de sua decisão a serviço de uma exemplar manifestação de que, na contramão das práticas vigentes, alianças políticas devem ser construídas em torno de propostas programáticas.
Marina fez questão de destacar que, quando Aécio Neves lhe apresentou pontos de convergência, em sua plataforma eleitoral, não o fez com o sentido de um pedido individual de apoio, mas de um compromisso de governo.
E enfatizou: "Votarei em Aécio e o apoiarei, votando nesses compromissos, dando um crédito de confiança à sinceridade de propósitos do candidato e de seu partido e, principalmente, entregando à sociedade brasileira a tarefa de exigir que sejam cumpridos".
Com certa dose de malícia, Marina comparou a "carta de compromisso com os brasileiros", proposta agora por Aécio, com a iniciativa adotada por Lula na campanha de 2002, quando lançou a famosa e surpreendente - para quem não conhecia os métodos petistas - Carta ao Povo Brasileiro, por meio da qual assumiu compromisso com a manutenção do Plano Real, abrindo diálogo com os setores produtivos.
Esse compromisso não impediu que, após a posse, Lula e os petistas passassem a chamar o Plano Real de "herança maldita". Considerando que haviam votado contra o Plano Real em 1994, pode-se aceitar que, ao assumir o governo, Lula e a companheirada tenham decidido apenas agir com coerência.
O que resulta na constatação inescapável de que a Carta ao Povo Brasileiro consumou um engodo precursor de muitos outros aplicados pelos petistas nas campanhas seguintes e de modo especial, por força do desespero, na atual.
A preocupação de Marina Silva de destacar o caráter programático de seu apoio a Aécio Neves faz ainda mais sentido e merece o aplauso de quem luta para promover a elevação do padrão ético da política brasileira quando os jornais, no mesmo dia em que estampam sua manifestação, abrem espaço para as declarações do mais deslavado oportunismo do líder do PMDB na Câmara dos Deputados, o reeleito Eduardo Cunha (RJ): "Não vejo dificuldade nenhuma de (o PMDB) se posicionar em apoio a um futuro governo Aécio".
O PMDB, depois que renegou suas origens de frente ampla de resistência à ditadura militar, fez uma clara opção por ser governo. Qualquer governo.
Mas Eduardo Cunha atingiu o ponto mais alto do "pragmatismo": "Não deixamos de integrar a base do governo, mas optamos pela independência. Tanto que não indicamos nomes para substituir ministros". É esse o parlamentar que está trabalhando para, qualquer que seja o resultado da eleição presidencial, se tornar o próximo presidente da Câmara dos Deputados.
As urnas do segundo turno se abrem daqui a 11 dias. Para quem ainda tem a capacidade de se indignar diante das aberrações da nossa política, resta lutar para que venha a se cumprir a esperança manifestada por Marina Silva de que "a alternância de poder fará bem ao Brasil".
15 de outubro de 2014
Editorial O Estadão
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