Na reta final de uma eleição equilibrada, que vai definir os destinos do País, o mínimo de racionalidade indispensável a uma escolha criteriosa do próximo presidente da República está escoando pelo ralo. Para conquistar votos, candidatos devem ser capazes de falar, sempre honestamente, tanto à razão quanto à emoção dos eleitores. Mas pelo motivo óbvio de que programas de governo lidam com questões objetivas - problemas concretos - a emoção não se pode dissociar da razão na hora de se decidir o voto. Boas causas com dose maior de apelo emocional, como direitos humanos e justiça social, impõem-se porque são, por definição, racionalmente justas, não por serem emocionalmente defensáveis - e exigem soluções racionais.
O marketing, porém, tende a subverter os valores numa campanha eleitoral quando parte do princípio de que os fins justificam os meios. E essa subversão cresce na medida em que aumenta a falta de escrúpulos de candidatos e marqueteiros. Todos sabem o que Collor fez contra Lula na eleição de 1989. Os petistas aprenderam com aquele exemplo e o resultado é que nunca antes na história deste país, como agora, houve tanta apelação e baixaria numa eleição presidencial.
O que se viu no "debate" da quinta-feira no SBT foi deplorável. Por iniciativa de Dilma, o recurso marqueteiro da "desconstrução" do adversário foi reduzido ao mais baixo nível da odiosa demolição de caráter com ataques à honra pessoal do adversário e seus familiares. Não lhe restando opção senão responder à altura, Aécio teve a habilidosa precaução de pedir desculpas aos telespectadores por trazer à luz a nomeação do irmão de Dilma, Igor Rousseff, para um cargo, na Prefeitura de Belo Horizonte, onde recebia sem trabalhar. Faltam ainda dois "debates"!
Nenhum dos candidatos merece medalha de bom comportamento pelo que têm feito e dito nas entrevistas, nos palanques, na propaganda e nos debates. A candidata do PT, no entanto, fiel à convicção que Lula incutiu na mente da companheirada, de que valores éticos e morais são preconceitos "pequeno-burgueses", coisa de "udenistas" e de "babacas", deu carta branca para que seu marqueteiro fizesse "o diabo". E bota diabo nisso, porque a necessidade é premente.
Os petistas proclamam que têm uma proposta política "diferenciada", porque voltada para o interesse e as necessidades da população mais pobre. E por essa razão confrontam as "elites", que só pensam em dinheiro e em explorar os despossuídos. São, portanto, os petistas, gente "do bem", enquanto as elites congregam todos os que são "do mal". E aos paladinos do bem tudo é permitido.
Dividindo os brasileiros entre "nós" e "eles", "bons e maus", "ricos e pobres", inspirada na lógica da luta de classes que ruiu com o Muro de Berlim, o lulopetismo se proclamou detentor do monopólio da virtude e da representação dos fracos e oprimidos. Desde que Lula subiu pela primeira vez no palanque dos metalúrgicos em Vila Euclides, ninguém mais no Brasil tem legitimidade para falar em nome dos trabalhadores.
O combustível dessa pretensa luta dos oprimidos contra os opressores comandada pelo PT é o ódio, ardilosamente insuflado com argumentos essencialmente emocionais. Lula ensina as pessoas a odiar porque... são odiadas. É, portanto, um ódio do bem, legítima defesa.
Lula sempre se esmerou em disseminar o ódio. E sempre teve esmerados aprendizes. Provou-o no momento de sua trajetória política em que vislumbrou pela primeira vez a possibilidade real de chegar ao poder, em 2002, e por conveniência eleitoreira travestiu-se, temporariamente, em "Lulinha paz e amor". Durou pouco, até o mensalão.
As agruras do mundo moderno oferecem motivos para que as pessoas se tornem cada vez mais agressivas no relacionamento social cotidiano. É o que se vê nas manifestações de rua, no trânsito, nos campos de futebol. O PT sabe, portanto, que a semente do ódio tem campo fértil para vicejar - e, assim, fez um projeto de poder sustentado na cizânia social.
Lula declarou em junho, quando a campanha eleitoral começava a esquentar: "Em 2002 lutamos para que a esperança vencesse o medo. Agora, é preciso que a esperança vença o ódio". Que assim seja.
O marketing, porém, tende a subverter os valores numa campanha eleitoral quando parte do princípio de que os fins justificam os meios. E essa subversão cresce na medida em que aumenta a falta de escrúpulos de candidatos e marqueteiros. Todos sabem o que Collor fez contra Lula na eleição de 1989. Os petistas aprenderam com aquele exemplo e o resultado é que nunca antes na história deste país, como agora, houve tanta apelação e baixaria numa eleição presidencial.
O que se viu no "debate" da quinta-feira no SBT foi deplorável. Por iniciativa de Dilma, o recurso marqueteiro da "desconstrução" do adversário foi reduzido ao mais baixo nível da odiosa demolição de caráter com ataques à honra pessoal do adversário e seus familiares. Não lhe restando opção senão responder à altura, Aécio teve a habilidosa precaução de pedir desculpas aos telespectadores por trazer à luz a nomeação do irmão de Dilma, Igor Rousseff, para um cargo, na Prefeitura de Belo Horizonte, onde recebia sem trabalhar. Faltam ainda dois "debates"!
Nenhum dos candidatos merece medalha de bom comportamento pelo que têm feito e dito nas entrevistas, nos palanques, na propaganda e nos debates. A candidata do PT, no entanto, fiel à convicção que Lula incutiu na mente da companheirada, de que valores éticos e morais são preconceitos "pequeno-burgueses", coisa de "udenistas" e de "babacas", deu carta branca para que seu marqueteiro fizesse "o diabo". E bota diabo nisso, porque a necessidade é premente.
Os petistas proclamam que têm uma proposta política "diferenciada", porque voltada para o interesse e as necessidades da população mais pobre. E por essa razão confrontam as "elites", que só pensam em dinheiro e em explorar os despossuídos. São, portanto, os petistas, gente "do bem", enquanto as elites congregam todos os que são "do mal". E aos paladinos do bem tudo é permitido.
Dividindo os brasileiros entre "nós" e "eles", "bons e maus", "ricos e pobres", inspirada na lógica da luta de classes que ruiu com o Muro de Berlim, o lulopetismo se proclamou detentor do monopólio da virtude e da representação dos fracos e oprimidos. Desde que Lula subiu pela primeira vez no palanque dos metalúrgicos em Vila Euclides, ninguém mais no Brasil tem legitimidade para falar em nome dos trabalhadores.
O combustível dessa pretensa luta dos oprimidos contra os opressores comandada pelo PT é o ódio, ardilosamente insuflado com argumentos essencialmente emocionais. Lula ensina as pessoas a odiar porque... são odiadas. É, portanto, um ódio do bem, legítima defesa.
Lula sempre se esmerou em disseminar o ódio. E sempre teve esmerados aprendizes. Provou-o no momento de sua trajetória política em que vislumbrou pela primeira vez a possibilidade real de chegar ao poder, em 2002, e por conveniência eleitoreira travestiu-se, temporariamente, em "Lulinha paz e amor". Durou pouco, até o mensalão.
As agruras do mundo moderno oferecem motivos para que as pessoas se tornem cada vez mais agressivas no relacionamento social cotidiano. É o que se vê nas manifestações de rua, no trânsito, nos campos de futebol. O PT sabe, portanto, que a semente do ódio tem campo fértil para vicejar - e, assim, fez um projeto de poder sustentado na cizânia social.
Lula declarou em junho, quando a campanha eleitoral começava a esquentar: "Em 2002 lutamos para que a esperança vencesse o medo. Agora, é preciso que a esperança vença o ódio". Que assim seja.
21 de outubro de 2014
Editorial O Estadão
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