"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

terça-feira, 21 de outubro de 2014

VOTO DE CABRESTO OFICIAL

A primeira pauta pós-eleições será necessariamente a Petrobrás, diante da perspectiva da publicidade da delação premiada do ex-diretor de Abastecimento da estatal, Paulo Roberto Costa, cujos vazamentos parciais indicam um escândalo político sem precedentes.

Juntados esses vazamentos, que incluem nomes expressivos do quadro partidário brasileiro, com o depoimento de Costa não submetido ao segredo de justiça, tem-se um duto de recursos públicos desviados para irrigar campanhas e políticos de PT,PMDB e PP, o que pode alcançar as campanhas da presidente Dilma de 2010 e a atual, ainda que à revelia da candidata.

É um quadro que seria avassalador para qualquer governo em campanha pela reeleição, dado que o tempo de mandato do PT soma 12 anos, dando-lhe o monopólio dessa gestão marginal em favor do partido e de aliados. Com um tesoureiro cumprindo pena pelo mensalão, o partido já tem o segundo na mira da justiça.

O que diferencia o esquema sob investigação de outros ao longo da história política nacional é a sua característica sistêmica, como pilar de um processo de sustentação política de um projeto de permanência no poder, abrangendo três grandes partidos da base governista.

A recente informação de que a Petrobrás poderá sofrer sanções nos Estados Unidos, onde a legislação prevê consequências mesmo para empresas estrangeiras lá sediadas, estende as investigações ao plano internacional, um sólido sinal de consistência do conteúdo da delação do ex-diretor da estatal no Brasil.

Tal cenário leva a outra questão: como o governo, em condições tão adversas que inclui ainda a economia em recessão técnica e alta rejeição da candidata, pode alcançar índice próximo a 50% na disputa e aponto de torná-la tão acirrada?

Aqui entra o dado essencial: o bolsa família. O programa dá ao PT o conforto de um patamar de largada eleitoral de 34,6% em qualquer eleição. São 13.738.798 famílias beneficiadas, estimando-se 1,6 eleitor por cada uma, e considerando-se que 85% dos beneficiários votam com o governo, tem-se aí 14,9 milhões dos 43,3 milhões de votos obtidos por Dilma no primeiro turno, já subtraídas as abstenções totais.

É o maior voto de cabresto de que se tem notícia e que explica a falsa conotação ideológica no confronto sul-sudeste versus nordeste, que o PT explora como a luta entre ricos e pobres, a partir do monopólio do programa que se tornou arrimo eleitoral do partido.

Por isso, a oposição considera indispensável que já no próximo ano seja feita uma reforma conceitual no programa Bolsa Família, de maneira que ele se torne uma ação de Estado e não de governo, via emenda constitucional.


21 de outubro de 2014
João Bosco Rabello, O Estadão

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