1 – Copa do Mundo seria melhor com um pouco menos de patriotadas. No México havia (ainda há?), pouco antes da competição, a cerimônia de “embandeiramento” do time nacional.
Nesse momento o time passava a representar a nação. No Brasil, sem a mesma pompa de Estado, mas presente ao fundo uma enorme bandeira nacional, o anúncio dos jogadores convocados procurou igual efeito.
O técnico Luiz Felipe Scolari, antes de desfiar a lista, pediu que todos – “comissão técnica, direção da CBF, imprensa, torcedores” – nos unamos em tomo do mesmo “norte”, ainda que discordando desta ou daquela convocação. Mais tarde, ao vivo no Jornal Nacional, disse que era hora de todos os brasileiros vestirem a “camisa amarela”. À sua maneira, embandeirou a seleção.
2 – Copa do Mundo também seria melhor sem intoxicação publicitária. Mais do que ninguém os publicitários deveriam saber que tudo o que é excessivo cansa. E, no entanto, dá-lhe Felipão vendendo carro, televisores, assinatura de telefone celular. Dá-lhe Neymar vendendo tudo. Antes de começar a Copa já enjoou. Sorte que depois do apito inicial do jogo inicial o enjoo passa. Cura-o a atração irresistível da bola correndo.
3 – Felipão preocupou-se à toa com eventuais discordâncias agudas na convocação. Não houve dissenso nem poderia haver. Tirando Neymar, os outros 22 poderiam ser substituídos por outros 22 sem diferenças acentuadas. Isso não é sinal de pujança do futebol brasileiro; é sinal de nivelação por baixo dos estoques de craques.
4 – Outra razão para a falta de dissenso é a carência de identificação dos torcedores com os jogadores. Muitos dos convocados saíram tão cedo do país que nem disputaram campeonatos de primeira divisão no Brasil.
De repente aparece um sujeito chamado Luiz Gustavo, ou um sujeito chamado Hulk, de quem nunca se ouvira falar e que, sem ter vestido a camisa de nenhum grande clube brasileiro, agora é titular da seleção. Ou é reserva, como o sujeito chamado Dante.
Além das torcidas clubísticas, havia também as rivalidades regionais. Paulistas e cariocas disputavam quem forneceria mais quadros para a seleção.
Hoje, a disputa possível seria se serão convocados mais ingleses ou mais espanhóis, quer dizer: mais entre os que jogam na Inglaterra ou mais entre os que jogam na Espanha.
5 – Felipão é esperto. Ao embandeirar a seleção, busca duplo efeito. Primeiro, formar a famosa “corrente pra frente”. Segundo, dividir responsabilidades. Mostrando-se desunidos, os brasileiros serão também culpados, se sobrevier a cruel desdita da derrota.
Ele tem plena noção da carga que lhe pesa nos ombros. O pior cenário é a desclassificação prematura. Já nas oitavas de final, é mais do que possível que o Brasil venha a enfrentar ou a Holanda, que o desclassificou em 2010, ou a Espanha, a campeã naquela ocasião.
Derrotado o time de Felipão, o torneio passaria a ser uma festa de argentinos, espanhóis, italianos, ingleses e outros, com o Brasil pagando a conta. As massas poderão se excitar.
6 – Pior que o vexame no campo de jogo será o eventual vexame do despreparo para o evento. Prometeram-se investimentos que não vieram. A famosa “mobilidade urbana” será a de sempre, com forte tendência imobilizante, atenuada quem sabe apenas por puxadinhos nos aeroportos e decretação de feriados em dias de jogo. Alguns dos estádios só ficarão prontos na última hora, e tomara que se mostrem seguros. Tomara que não falte energia no pico das comunicações que cruzarão o planeta. Se isso tudo ocorrer razoavelmente a contento (completamente a contento não é mais possível) e se não houver torcedor com volúpia de jogar vaso sanitário no adversário, será um alívio.
7 – A Copa continua um risco para o governo, mas na semana passada funcionou a favor. O craque Renan Calheiros, agora com cabeleira que ameaça a de David Luiz. soube jogar de olho na tabela – tanto enrolou que fez a CPI da Petrobras enroscar com a Copa. O assunto Petrobras morreu. Agora é Copa. O embandeiramento da seleção marcou o início de seu reinado.
O técnico Luiz Felipe Scolari, antes de desfiar a lista, pediu que todos – “comissão técnica, direção da CBF, imprensa, torcedores” – nos unamos em tomo do mesmo “norte”, ainda que discordando desta ou daquela convocação. Mais tarde, ao vivo no Jornal Nacional, disse que era hora de todos os brasileiros vestirem a “camisa amarela”. À sua maneira, embandeirou a seleção.
2 – Copa do Mundo também seria melhor sem intoxicação publicitária. Mais do que ninguém os publicitários deveriam saber que tudo o que é excessivo cansa. E, no entanto, dá-lhe Felipão vendendo carro, televisores, assinatura de telefone celular. Dá-lhe Neymar vendendo tudo. Antes de começar a Copa já enjoou. Sorte que depois do apito inicial do jogo inicial o enjoo passa. Cura-o a atração irresistível da bola correndo.
3 – Felipão preocupou-se à toa com eventuais discordâncias agudas na convocação. Não houve dissenso nem poderia haver. Tirando Neymar, os outros 22 poderiam ser substituídos por outros 22 sem diferenças acentuadas. Isso não é sinal de pujança do futebol brasileiro; é sinal de nivelação por baixo dos estoques de craques.
4 – Outra razão para a falta de dissenso é a carência de identificação dos torcedores com os jogadores. Muitos dos convocados saíram tão cedo do país que nem disputaram campeonatos de primeira divisão no Brasil.
De repente aparece um sujeito chamado Luiz Gustavo, ou um sujeito chamado Hulk, de quem nunca se ouvira falar e que, sem ter vestido a camisa de nenhum grande clube brasileiro, agora é titular da seleção. Ou é reserva, como o sujeito chamado Dante.
Além das torcidas clubísticas, havia também as rivalidades regionais. Paulistas e cariocas disputavam quem forneceria mais quadros para a seleção.
Hoje, a disputa possível seria se serão convocados mais ingleses ou mais espanhóis, quer dizer: mais entre os que jogam na Inglaterra ou mais entre os que jogam na Espanha.
5 – Felipão é esperto. Ao embandeirar a seleção, busca duplo efeito. Primeiro, formar a famosa “corrente pra frente”. Segundo, dividir responsabilidades. Mostrando-se desunidos, os brasileiros serão também culpados, se sobrevier a cruel desdita da derrota.
Ele tem plena noção da carga que lhe pesa nos ombros. O pior cenário é a desclassificação prematura. Já nas oitavas de final, é mais do que possível que o Brasil venha a enfrentar ou a Holanda, que o desclassificou em 2010, ou a Espanha, a campeã naquela ocasião.
Derrotado o time de Felipão, o torneio passaria a ser uma festa de argentinos, espanhóis, italianos, ingleses e outros, com o Brasil pagando a conta. As massas poderão se excitar.
6 – Pior que o vexame no campo de jogo será o eventual vexame do despreparo para o evento. Prometeram-se investimentos que não vieram. A famosa “mobilidade urbana” será a de sempre, com forte tendência imobilizante, atenuada quem sabe apenas por puxadinhos nos aeroportos e decretação de feriados em dias de jogo. Alguns dos estádios só ficarão prontos na última hora, e tomara que se mostrem seguros. Tomara que não falte energia no pico das comunicações que cruzarão o planeta. Se isso tudo ocorrer razoavelmente a contento (completamente a contento não é mais possível) e se não houver torcedor com volúpia de jogar vaso sanitário no adversário, será um alívio.
7 – A Copa continua um risco para o governo, mas na semana passada funcionou a favor. O craque Renan Calheiros, agora com cabeleira que ameaça a de David Luiz. soube jogar de olho na tabela – tanto enrolou que fez a CPI da Petrobras enroscar com a Copa. O assunto Petrobras morreu. Agora é Copa. O embandeiramento da seleção marcou o início de seu reinado.
16 de maio de 2014
Roberto Pompeu de Toledo, VEJA
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