Mercado dá sinais de que acredita tanto em decolagem como em derrapagem dos EUA
A CALMARIA nos mercados financeiros, em especial no centro do mundo, nos Estados Unidos, tem algo de esquisito, além de ser sempre relevante para nós, Brasil, um barquinho que balança bem quando o vento começa a soprar na finança global.
Duas das "mercadorias" mais importantes da praça financeira estão com preços que dão sinais em tese contraditórios. Um preço indica, em teoria, que a economia dos Estados Unidos vai crescer mais devagar do que o estimado por agora. Outro indica que o PIB americano vai rodar a 3% ao ano, as empresas crescerão e seus lucros também.
Esses dois ativos financeiros são as ações e os títulos da dívida de longo prazo do governo americano.
Depois de uns saltos na segunda metade do ano passado, as taxas de juros dos títulos da dívida americana de mais de dez anos de prazo recuaram. Num resumo muito breve, isso quer dizer que pelo menos os detentores de tais papéis não esperam uma recuperação econômica mais rápida dos EUA, com inflação em alta. Não esperam que o banco central aperte em breve a folgadíssima política monetária, elevando as taxas básicas de juros.
O rendimento de tais papéis (os "juros") varia na direção contrária de seus preços. Se as taxas de juros sobem, isso quer dizer que os preços dos títulos caem. Perde-se capital, num resumo grosso da coisa. Quem comprou título norte-americano, pois, não espera nem aceleração norte-americana nem teme riscos como um tumulto na economia chinesa.
As Bolsas, por outro lado, estão risonhas e francas. Os preços das ações batem recordes como se a economia americana fosse decolar, assim como suas empresas. Ou, pelo menos, quem compra ações espera que as empresas americanas continuem a fazer dinheiro esfolando o trabalhador (os salários médios vão mal nos EUA). Ou, enfim, espera surfar na alta de preços enquanto durar a farra proporcionada pelo capital quase grátis, cortesia do Fed, o banco central americano.
Não se trata de dizer que tais incongruências sejam aberrações, dada a série de extravagâncias radicais dos mercados financeiros, notadamente depois dos anos 1990.
No entanto, ainda parece esquisito. Fica-se com a impressão de que, quando a cair a ficha, para um lado ou para outro (os EUA crescem ou não), vai haver solavancos feios nos mercados, um "ajuste", uma "correção" de preços, episódios nos quais a gente sempre sai um tanto chamuscado.
CERVEJA
O governo deu para trás no aumento do imposto sobre a cerveja, que decidira no início do mês, à cata de qualquer troco a fim de fechar suas contas estropiadas.
Obviamente, aumento de cerveja pega mal, ainda mais depois de um ano em que o consumo da bebida caiu, raridade; mais ainda quando vai começar um período de samba, suor de futebol e, claro, cerveja, a Copa.
Fábricas e varejo, de resto, disseram que a bebida ficaria mais cara do que o estimado pelo governo e que poderia haver até demissões. Pode ser exagero, mas haveria, claro, algum problema.
Resumo da ópera, o governo não consegue planejar nem o imposto da cerveja ou calcular suas repercussões.
A CALMARIA nos mercados financeiros, em especial no centro do mundo, nos Estados Unidos, tem algo de esquisito, além de ser sempre relevante para nós, Brasil, um barquinho que balança bem quando o vento começa a soprar na finança global.
Duas das "mercadorias" mais importantes da praça financeira estão com preços que dão sinais em tese contraditórios. Um preço indica, em teoria, que a economia dos Estados Unidos vai crescer mais devagar do que o estimado por agora. Outro indica que o PIB americano vai rodar a 3% ao ano, as empresas crescerão e seus lucros também.
Esses dois ativos financeiros são as ações e os títulos da dívida de longo prazo do governo americano.
Depois de uns saltos na segunda metade do ano passado, as taxas de juros dos títulos da dívida americana de mais de dez anos de prazo recuaram. Num resumo muito breve, isso quer dizer que pelo menos os detentores de tais papéis não esperam uma recuperação econômica mais rápida dos EUA, com inflação em alta. Não esperam que o banco central aperte em breve a folgadíssima política monetária, elevando as taxas básicas de juros.
O rendimento de tais papéis (os "juros") varia na direção contrária de seus preços. Se as taxas de juros sobem, isso quer dizer que os preços dos títulos caem. Perde-se capital, num resumo grosso da coisa. Quem comprou título norte-americano, pois, não espera nem aceleração norte-americana nem teme riscos como um tumulto na economia chinesa.
As Bolsas, por outro lado, estão risonhas e francas. Os preços das ações batem recordes como se a economia americana fosse decolar, assim como suas empresas. Ou, pelo menos, quem compra ações espera que as empresas americanas continuem a fazer dinheiro esfolando o trabalhador (os salários médios vão mal nos EUA). Ou, enfim, espera surfar na alta de preços enquanto durar a farra proporcionada pelo capital quase grátis, cortesia do Fed, o banco central americano.
Não se trata de dizer que tais incongruências sejam aberrações, dada a série de extravagâncias radicais dos mercados financeiros, notadamente depois dos anos 1990.
No entanto, ainda parece esquisito. Fica-se com a impressão de que, quando a cair a ficha, para um lado ou para outro (os EUA crescem ou não), vai haver solavancos feios nos mercados, um "ajuste", uma "correção" de preços, episódios nos quais a gente sempre sai um tanto chamuscado.
CERVEJA
O governo deu para trás no aumento do imposto sobre a cerveja, que decidira no início do mês, à cata de qualquer troco a fim de fechar suas contas estropiadas.
Obviamente, aumento de cerveja pega mal, ainda mais depois de um ano em que o consumo da bebida caiu, raridade; mais ainda quando vai começar um período de samba, suor de futebol e, claro, cerveja, a Copa.
Fábricas e varejo, de resto, disseram que a bebida ficaria mais cara do que o estimado pelo governo e que poderia haver até demissões. Pode ser exagero, mas haveria, claro, algum problema.
Resumo da ópera, o governo não consegue planejar nem o imposto da cerveja ou calcular suas repercussões.
16 de maio de 2014
Vinicius Torres Freire, Folha de SP
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