Em tempos normais, em que o governo poderia esperar o apoio do PMDB para impedir a convocação da CPMI sobre a Petrobras, dificilmente a oposição teria êxito na empreitada. Mas a chamada maioria defensiva no Congresso pode não funcionar se o mal-estar entre a base aliada e o governo não for desfeito.
Desde 2006, quando houve a possibilidade real de a oposição pedir o impeachment do então presidente Lula diante das revelações sobre o caso do mensalão, a preocupação do Palácio do Planalto em gestões petistas foi montar uma base aliada a mais ampla possível, que blindasse, primeiro, Lula e, depois, Dilma de alguma ação mais agressiva da oposição, especialmente a convocação de CPIs ou de ministros para prestar esclarecimentos sobre suas áreas.
Não é à toa que vários ministros terão que desfilar pelo Congresso nos próximos dias, pois foram convocados pela oposição com o apoio da dissidência do PMDB. Agora mesmo o líder do PMDB na Câmara, deputado Eduardo Cunha, está ajudando a oposição a recolher assinaturas para a criação de uma CPMI. É um gesto de ataque ao governo, que pode ser desfeito a qualquer momento se houver um acordo entre o Planalto e a base em convulsão.
Mas pode, a qualquer gesto descuidado do governo, provocar um estrago de grandes proporções. Já é tradicional no meio político a avaliação de que se sabe como começa uma CPI, mas não se sabe como ela acaba. O governo teve uma prova disso recentemente, quando usou sua maioria para convocar a CPI do bicheiro Carlinhos Cachoeira com a intenção de envolver oposicionistas e jornalistas, e acabou tendo que desistir dela sem qualquer resultado concreto, pois sobraram acusações para todos os lados e foi impossível manipular a Comissão.
Com ou sem CPI - que o ex-presidente Fernando Henrique acha que deve ser uma comissão mista da Câmara e do Senado, uma CPMI -, a Petrobras já entrou na lista dos temas inevitáveis na campanha eleitoral, e desta vez contra o PT.
O partido que está no governo há quase 12 anos usou e abusou das estatais, especialmente a Petrobrás, para atacar a oposição nas campanhas eleitorais desde 2002, com bastante êxito. Fosse porque o PSDB não estivesse convencido de sua política de privatizações ou porque imaginava que ela não era popular ao final de oito anos de governo Fernando Henrique Cardoso, o fato é que os tucanos, nas campanhas de José Serra (duas vezes) e Geraldo Alckmin cometeram o erro político de tentar esconder o único político do partido que chegara ao poder pelo voto popular e não quiseram defender as privatizações como política acertada do Estado brasileiro.
O próprio marqueteiro do PT, João Santana, em entrevista depois das eleições, disse que se espantara como o candidato tucano não conseguira defender a privatização do sistema telefônico, que fora um sucesso. O PT utilizou um nacionalismo extemporâneo, mas ainda muito forte na imaginação popular, para demonizar as privatizações, mas perdeu seu discurso diante da realidade atual.
Hoje, além de ter tido que adotar o sistema de privatizações, vê-se o governo às voltas com um fracasso de administração da Petrobras que torna inviável o discurso utilizado anteriormente. O suposto perigo que o PSDB representava para a maior estatal brasileira, com o risco até mesmo de vendê-la - uma acusação infundada que teve muita repercussão no eleitorado -, é anulado pela realidade desastrosa da gestão petista à frente da área de energia brasileira, em especial na Petrobras.
A mistura de má gestão com corrupção fez com que as principais empresas brasileiras perdessem metade de seu valor na Bolsa, justamente na área supervisionada pela presidente Dilma desde quando era chefe da Casa Civil do presidente Lula. O rebaixamento da nota do Brasil pela S&P só faz confirmar a percepção negativa que o mercado internacional tem do país no momento.
A suposta capacidade de gestão, responsável por sua indicação a candidata à Presidência da República em 2010, hoje é o calcanhar de aquiles de Dilma na corrida pela reeleição.
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