Há 50 anos, Nelson Rodrigues constatou que os idiotas estavam por toda parte. Maria do Rosário confirma que já são amplamente majoritários no ministério de Dilma
Em maio de 2013, milhares de fregueses do Bolsa Família congestionaram as agências da Caixa Econômica Federal antes do prazo combinado para a entrega da mesada. Também surpreendida pelas correrias daquele sábado estranho, a ministra dos Direitos Humanos, Maria do Rosário, sacou da bolsa o Twitter e mandou bala nos suspeitos de sempre:
“Boatos sobre fim do bolsa família deve (sic) ser da central de notícias da oposição. Revela posição ou desejo de quem nunca valorizou a política”. Logo se descobriu que a confusão fora provocada pelos próprios gerentes do maior programa oficial de compra de votos do mundo.
Na versão divulgada pelo alto comando da CEF, um diretor afoito ordenara, sem pedir licença aos superiores hierárquicos, que o dinheiro fosse colocado antes da hora à disposição da clientela.
Retransmitida em cadeia pelos dependentes da esmola federal, a notícia da antecipação da esmola federal espalhou-se pelo país e conferiu dimensões amazônicas às filas dos beneficiários. As coisas se agravaram quando surgiu a desconfiança de que o presente inesperado era um sinal de que o programa seria encerrado. Simples assim. A oposição não teve nada com isso. Maria do Rosário nem pediu desculpas pela mensagem imbecil. E não demoraria a deixar claro que não tem cura.
Em outubro de 2013, Joselito Müller, editor de um blog humorístico, informou que a ministra, depois de confrontada com um vídeo em que um assaltante é baleado por um policial, tomara as dores do bandido.
Colérica com a brincadeira, Maria do Rosário revidou com uma nota oficial beligerante. Além de encarregar a Polícia Federal da “criteriosa investigação e responsabilização dos autores da notícia mentirosa publicada”, a companheira do PT gaúcho “solicitara à empresa que hospeda o site que retire o conteúdo difamatório do ar”.
As solicitações deram em nada. A Polícia Federal tem mais o que fazer. E o controle social da mídia ainda é só um brilho no olhar da companheirada. Maria do Rosário teve de engolir sem engasgos tanto a piada quanto a retaliação imbecil.
Em novembro de 2013, no cemitério de São Borja, a ministra saudou a exumação dos restos mortais de João Goulart com uma discurseira de oradora de festa de batizado. “A investigação é uma missão de Estado, humanitária, cumprida com total isenção”, caprichou a sherloque convencida de que o presidente deposto em 1964 morreu não de enfarte, mas envenenado por agentes da ditadura dos generais.
”Custa menos do que uma ditadura, porque essa custou vidas, exílio, significou a morte. Estamos valorizando a democracia”.
Jango já foi devolvido à sepultura. Mas não descansará em paz enquanto a alma de Maria do Rosário continuar envenenada por teorias amalucadas que só vicejam em cabeças baldias. Ela fica especialmente excitada com a aparição de cadáveres que podem ser transformandos em instrumentos eleitoreiros.
Coerentemente, não perdeu a chance de intrometer-se, neste janeiro, na história do jovem gay cujo corpo foi encontrado sob um viaduto no centro de São Paulo.
A polícia mal começara a investigar o caso quando a a ministra incorporou simultaneamente três personagens: o delegado que identifica culpados em cinco minutos, o promotor que se dispensa da apresentação de provas para exigir a imediata punição dos carrascos e o juiz que condena sem sequer folhear os autos. E lá veio mais uma nota oficial, abaixo reproduzida em sua essência:
“A Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República (SDH/PR) vem a público manifestar solidariedade à família de Kaique Augusto Batista dos Santos, assassinado brutalmente no último sábado (11/01). (…) “As circunstâncias do episódio e as condições do corpo da vítima, segundo relatos dos familiares, indicam que se trata de mais um crime de ódio e intolerância motivado por homofobia. (…) Em 2012, houve um aumento de 11% dos assassinatos motivados por homofobia no Brasil em comparação a 2011. (…) Diante desse quadro, reiteramos a necessidade de que o Congresso Nacional aprove legislação que explicitamente puna os crimes de ódio e intolerância motivados por homofobia no Brasil, para um efetivo enfrentamento dessas violações de Direitos Humanos”.
Nesta terça-feira, a mãe de Kaique admitiu que o filho cometeu suicídio. A hipótese se ampara em mensagens escritas, filmes e depoimentos. Os que embarcaram nas fantasias de Maria do Rosário vão caindo fora da nau dos insensatos. Maria do Rosário continua por lá. E continua ministra.
Na década de 70, Nelson Rodrigues constatou que os idiotas estavam por toda parte. Mas nem o grande cronista imaginou que, menos de 50 anos depois, cretinos fundamentais seriam amplamente majoritários no primeiro escalão do governo federal.
23 de janeiro de 2014
Reinaldo Azevedo
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