A ruptura entre o PT do Rio de Janeiro e o governador do Estado, Sérgio Cabral Filho, pode até não afetar a aliança nacional com o PMDB e o mais provável é que não afete mesmo.
Há interesses federais que se sobrepõem a circunstâncias locais. O principal deles: o presidente de fato do partido, Michel Temer, quer continuar sendo vice-presidente da República. Como as pesquisas apontam a presidente Dilma Rousseff como favorita e, além disso, nessa altura o PMDB já não tem para onde nem como correr, as condições do jogo estão dadas.
Portanto, por mais que seja significativo o peso do Rio na representação da convenção pemedebista (10% do total dos votos), o rompimento da relação regional não será determinante para a saúde já combalida da aliança.
Mas, pode contribuir para reduzir de maneira acentuada uma vantagem que a presidente não está em condições de dispensar. Em suma: o litígio local é um fator de risco na subtração dos votos de Dilma no cômputo geral.
Em 2010 ela teve 1,7 milhão de votos de frente no Rio. Com o apoio do governo do Estado que, por sua vez, contou com a sustentação do PT à reeleição de Sérgio Cabral. A hipótese de uma repetição é mais que remota. A começar pelos índices de intenções de votos da presidente entre os eleitores fluminenses: cerca de 30%.
Estamos falando do terceiro colégio eleitoral do País, atrás de São Paulo - onde o PSDB tem o governo do Estado e o PT luta para se desvencilhar do desgaste de Fernando Haddad - e de Minas Gerais, cidadela do tucano Aécio Neves.
Por mais que o ex-presidente Lula da Silva e a presidente Dilma tenham feito gestos de boa vontade em relação a Cabral nesse embate, cujo acirramento vem desde setembro último, obviamente o processo deixou marcas e alimentou mágoas.
O grupo do governador e os operadores do PMDB regional interpretam que se o PT nacional (leia-se Lula) quisesse e se empenhasse poderia ter levado o partido a desistir da candidatura própria ao governo, como fez em 2010.
Do ponto de vista petista, a desistência pela via da negociação seria uma concessão excessiva. Pelo caminho da força, a intervenção, um risco de aniquilamento do partido no Rio. O exemplo de 1998, quando a direção nacional interveio forçando aliança com Anthony Garotinho, que depois rompeu chamando o PT de "partido da boquinha", ficará para sempre registrado nos anais dos grandes equívocos.
Ocorre que o PMDB, assim como o PT, vê as coisas sob a perspectiva de seus interesses. E estes apontam para a candidatura do vice-governador Luiz Fernando Pezão porque o partido avalia como boas suas chances de ganhar.
Com todo o desgaste pessoal de Cabral, o PMDB dispõe das máquinas administrativas do Estado e da prefeitura da capital, e conta com a recuperação da popularidade baseado no perfil do vice, de atributos opostos aos que provocaram a queda do governador no conceito da sociedade.
Nesse cenário de divórcio litigioso, não é de se imaginar que os pemedebistas estejam no melhor dos ânimos para pôr seus instrumentos de poder local a serviço da candidatura de Dilma.
Pela lógica da dinâmica de medição de forças políticas, o mais provável é que tomem outra direção e, ainda que extraoficialmente, à revelia da decisão oficial do partido em âmbito nacional, ofereçam o patrimônio à oposição.
Mais especificamente a Aécio Neves, com quem Cabral e o prefeito Eduardo Paes mantêm relações estreitas e hoje muito mais pacíficas do que com o governo federal.
Um movimento de independência que guarda semelhança com aquele feito pelo governador de Pernambuco, Eduardo Campos, em decorrência de divergências com o PT local por causa da eleição para a prefeitura do Recife em 2012.
Há interesses federais que se sobrepõem a circunstâncias locais. O principal deles: o presidente de fato do partido, Michel Temer, quer continuar sendo vice-presidente da República. Como as pesquisas apontam a presidente Dilma Rousseff como favorita e, além disso, nessa altura o PMDB já não tem para onde nem como correr, as condições do jogo estão dadas.
Portanto, por mais que seja significativo o peso do Rio na representação da convenção pemedebista (10% do total dos votos), o rompimento da relação regional não será determinante para a saúde já combalida da aliança.
Mas, pode contribuir para reduzir de maneira acentuada uma vantagem que a presidente não está em condições de dispensar. Em suma: o litígio local é um fator de risco na subtração dos votos de Dilma no cômputo geral.
Em 2010 ela teve 1,7 milhão de votos de frente no Rio. Com o apoio do governo do Estado que, por sua vez, contou com a sustentação do PT à reeleição de Sérgio Cabral. A hipótese de uma repetição é mais que remota. A começar pelos índices de intenções de votos da presidente entre os eleitores fluminenses: cerca de 30%.
Estamos falando do terceiro colégio eleitoral do País, atrás de São Paulo - onde o PSDB tem o governo do Estado e o PT luta para se desvencilhar do desgaste de Fernando Haddad - e de Minas Gerais, cidadela do tucano Aécio Neves.
Por mais que o ex-presidente Lula da Silva e a presidente Dilma tenham feito gestos de boa vontade em relação a Cabral nesse embate, cujo acirramento vem desde setembro último, obviamente o processo deixou marcas e alimentou mágoas.
O grupo do governador e os operadores do PMDB regional interpretam que se o PT nacional (leia-se Lula) quisesse e se empenhasse poderia ter levado o partido a desistir da candidatura própria ao governo, como fez em 2010.
Do ponto de vista petista, a desistência pela via da negociação seria uma concessão excessiva. Pelo caminho da força, a intervenção, um risco de aniquilamento do partido no Rio. O exemplo de 1998, quando a direção nacional interveio forçando aliança com Anthony Garotinho, que depois rompeu chamando o PT de "partido da boquinha", ficará para sempre registrado nos anais dos grandes equívocos.
Ocorre que o PMDB, assim como o PT, vê as coisas sob a perspectiva de seus interesses. E estes apontam para a candidatura do vice-governador Luiz Fernando Pezão porque o partido avalia como boas suas chances de ganhar.
Com todo o desgaste pessoal de Cabral, o PMDB dispõe das máquinas administrativas do Estado e da prefeitura da capital, e conta com a recuperação da popularidade baseado no perfil do vice, de atributos opostos aos que provocaram a queda do governador no conceito da sociedade.
Nesse cenário de divórcio litigioso, não é de se imaginar que os pemedebistas estejam no melhor dos ânimos para pôr seus instrumentos de poder local a serviço da candidatura de Dilma.
Pela lógica da dinâmica de medição de forças políticas, o mais provável é que tomem outra direção e, ainda que extraoficialmente, à revelia da decisão oficial do partido em âmbito nacional, ofereçam o patrimônio à oposição.
Mais especificamente a Aécio Neves, com quem Cabral e o prefeito Eduardo Paes mantêm relações estreitas e hoje muito mais pacíficas do que com o governo federal.
Um movimento de independência que guarda semelhança com aquele feito pelo governador de Pernambuco, Eduardo Campos, em decorrência de divergências com o PT local por causa da eleição para a prefeitura do Recife em 2012.
28 de janeiro de 2014
Dora Kramer, O Estado de S. Paulo
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