“Enriquecer é glorioso. Socialismo não é pobreza”.
Deng Xiaoping não estava brincando quando, ao suceder Mao no governo chinês, trocou o livrinho vermelho da ideologia delirante pelo livro caixa da eficiência pragmática.
Aí está a China com o segundo PIB do mundo, a caminho de tornar-se o primeiro, com seu misterioso socialismo de mercado, e às vésperas de transformações mais profundas que pretendem aprofundar “a busca de uma relação adequada entre governo e mercado”.
A terceira reunião plenária do 18o Congresso do Partido Comunista Chinês, agora liderado por Xi Jinping, terminou na terça-feira com o anúncio de “reformas econômicas e sociais “aprofundadas”que darão papel decisivo à iniciativa privada e ao mercado, segundo a agência estatal Xinhua, de acordo com relato do correspondente Raul Juste Lores, da “Folha de S.Paulo”.
Enquanto os sinólogos de todo o mundo se debruçam sobre a lista de 15 prioridades anunciadas no comunicado do partido transmitido pela agência, tentando extrair o significado mais profundo de cada uma delas, duas coisas parecem evidentes: não haverá reformas imediatas na estrutura de poder da China,o PC continuará como guia e mestre único, mas a economia vai sofrer transformações que enfatizarão o consumo e o mercado interno e ordenarão de certa forma o fluxo das populações rurais para as cidades.
As peculiaridades de uma economia socialista de mercado - o que parece à primeira vista um oximoro - indicam que a elite dirigente chinesa está em busca de aperfeiçoamentos em seus rumos, sem que a palavra democracia seja sequer citada em nenhum momento.
Vale lembrar, nesse sentido, mais uma das frases lapidares de Deng Xiaoping: “Quando se abrem as janelas no Verão, junto com o ar fresco entra sempre alguma mosca”. Não há como evitar que a frase remeta aos eventos trágicos da praça da Paz Celestial, onde algumas moscas foram aniquiladas.
A intenção declarada da elite dirigente chinesa de encaminhar as reformas no sentido de fortalecer de alguma forma o papel do mercado na economia, que aliás é também um esforço que o governo cubano tem tentado executar (ainda que muito desajeitadamente), contrasta com a tara estatista que afeta alguns países da América Latina, principalmente os mais atingidos pela febre bolivariana.
Incentivar saques às lojas, tentar baixar preços não pela concorrência livre mas pelo voluntarismo ou simplesmente pela força bruta, são caminhos já percorridos por outros regimes populistas na América Latina, e sempre com resultados desastrosos e trágicos.
Nicolás Maduro, um populista primitivo que cultua espíritos que lhe aparecem em forma de passarinhos, poderia aprender, se soubesse ler em mandarim, que a democracia, o livre mercado e a abundância não se fabricam em mausoléus.
15 de novembro de 2013
Sandro Vaia
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