O contrato de Barroso e suspeições
Espantosa a divulgação da informação de que, há um mês, o escritório do novo Ministro do STF, Luis Roberto Barroso, fechou um contrato com uma estatal dominada por petistas, a Eletronorte.
Para quem não viu ainda, vamos reproduzir aqui o trecho do edital, até para o caso da internet falhar nos servidores do governo (esse link por exemplo não está mais disponível agora de tarde, hoje pela manhã estava normal).
A Eletronorte tem como diretor de Planejamento e Engenharia Adhemar Palocci. Sim, é irmão daquele ex-Ministro que conseguiu ser afastado por envolvimento em escândalo de violência e imoralidade, foi reabilitado pela nova Governante até cair em um escândalo de enriquecimento atípico. É a Eletronorte quem toca, por exemplo, as obras da Usina de Belo Monte.
A princípio, não há razões técnicas para questionar a escolha de Barroso para o STF. Diego Escosteguy, um jornalista de competência e lisura inquestionáveis foi um dos muitos que saudou essa escolha, até mesmo supondo que Barroso seria severo contra os mensaleiros em dois tweets: 1 e 2. Barroso é indiscutivelmente mais preparado e confiante em suas poucas participações em favor dos réus do julgamento do Mensalão até aqui.
Há um abismo de qualidade entre seus argumentos e os de outros notórios negadores de punição a algumas figuras do Mensalão no STF.
Porém, o Governo Federal, a Eletronorte e o próprio Barroso devem se explicar. Não é saudável conviver com mais esta dúvida. Se Barroso é realmente tão qualificado e reconhecido por sua capacidade, por que é que, em mais de 20 anos de sua empresa, são tão raros os contratos com o Governo Federal ?
Utilizando as ferramentas de busca convencionais encontramos apenas um contrato de 2007 dessa empresa com o Governo, contrato que não foi possível visualizar.
Seria muito absurdo uma estatal fechar contrato tão grande após a nomeação dele ao STF e antes dele fazer tão enfáticas e qualificadas defesas da impunidade em casos que beneficiam claramente petistas?
O estado das coisas no Brasil faz com que uma hipótese ultrajante dessas seja levantada como verossímil. Façamos um exercício, vamos nos imaginar que estamos no fim de 2002, após a vitória consagradora de Luis Inácio Lula da Silva para a Presidência do Brasil. Você acreditaria se alguém dissesse que:
- Aquele Governo faria contratos fajutos através de diversas estatais para financiar pagamentos frequentes, em muitos casos mensais, em dinheiro, para que deputados votassem de acordo com o Governo?
- Aquele Governo, através do Ministério da Fazenda e em parceria com jornalistas das Organizações Globo, infernizariam a vida de um caseiro que ousou dizer o que testemunhou das andanças do Ministro da Fazenda?
- Aquele Governo teria a coragem de indicar para o Supremo Tribunal Federal um advogado que serviu ao PT, a José Dirceu e que foi reprovado em todos os concursos para juiz que prestou?
- Aquele Governo violaria sigilos bancários e fiscais de familiares de candidatos de oposição?
- Aquele Governo financiaria a ditadura cubana através da importação de médicos de baixa qualificação em regime de contrato análogo à condição de escravidão?
- Aquele Governo usaria de todas as suas forças para salvar os mandatos de senador de Renan Calheiros e José Sarney, além de entregar uma estatal a Jáder Barbalho?
O Governo petista jogou nossa normalidade num fosso de absurdos imorais. Barroso, por mais que seja qualificado e honesto, deve saber que pelas decisões que tomou e pelas condições em que foi escolhido, acaba sendo contaminado no imaginário popular.
Dos petistas não esperamos satisfações quanto a esse contrato, eles já nos levaram a extremos piores e pouco se dispuseram a ser transparentes.
Quanto a Barroso, cabe a ele se diferenciar dessa gente, explicar esse contrato e reafirmar sua independência desse jogo sujo. Ou então que conviva com a pecha de “mais um daqueles”
15 de setembro de 2013
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