"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

domingo, 15 de setembro de 2013

DEMOCRACIA BRASILEIRA: UMA ÓPERA BUFA

REFERENDAR O BANDITISMO POLÍTICO É UM ATENTADO CONTRA A DEMOCRACIA


O Brasil acordou de ressaca por causa do Supremo Tribunal Federal, que na tarde de quarta-feira (11) avançou na discussão sobre a admissibilidade dos embargos infringentes, o que, em caso positivo, permitirá a reabertura do julgamento do Mensalão do PT para uma dúzia de condenados.

Há quem garanta que a cizânia aberta no Supremo demonstra que a mais alta Corte do Judiciário reflete a maturidade da democracia brasileira, mas tal interpretação convém a uma ínfima minoria, em detrimento de dezenas de milhões de brasileiros que desejam apenas e tão somente o cumprimento do que está na lei.
Na verdade, o que a sociedade cobra, e com razão, é o estrito respeito à Constituição Federal, a maior de todas as leis do País.

Considerando que todo estrago, seja qual for, sempre tem um culpado, a chicana jurídica que recobre a Ação Penal 470 não foge à regra. A culpa nesse caso, como em tantos outros que vilipendiam a nação, é da classe política, que permitiu que o País chegasse a uma situação em que marginais com mandato são beneficiados por interpretações jurídicas de encomenda.
Muitos dizem que a divergência de opiniões no Supremo Tribunal Federal mostra que a Corte está representando a pluralidade do anseio popular, mas não é isso que está em discussão.
Em jogo está a institucionalização do banditismo político, prática que ganhou força depois da chegada de Lula ao poder central.

Quando busca-se um culpado pelo escárnio que se ergue a partir do plenário do STF, o indicador deve ser prontamente apontado na direção do Congresso Nacional, responsável pelas muitas mazelas que corroem o País de maneira ininterrupta.

Por ocasião da descoberta do Mensalão do PT, o maior escândalo de corrupção da história nacional de que se tem notícia, os partidos de oposição tiveram nas mãos a oportunidade de defenestrar Lula da política, apeando-o do cargo, mas o discurso visguento e malemolente da “governabilidade” ocupou a cena. A responsabilidade maior por defender essa tese é do PSDB, que de cima do salto alto acreditava ser fácil derrotar Lula em 2006. O que não aconteceu.

É quase impossível derrotar quem está no poder, exceto quando esse desiste de concorrer a novo mandato. Do contrário, a vitória do status quo é favas contadas.
Lula foi o vértice maior de um esquema criminoso e corrupto que começou antes da posse, com direito a crimes eleitorais de toda ordem, mas, mesmo assim, a oposição, sempre soberba, preferiu apostar no impossível, como se o jogo da política não fosse uma roleta viciada.

O Parlamento brasileiro é um faz de conta interminável que provoca náuseas a quem procura compreendê-lo, mesmo que mínima e superficialmente. Nesse joguinho chicaneiro e combinado, o Congresso consegue caminhar na contramão da lógica e defender os interesses apenas dos seus integrantes. É o tal do corporativismo. Lixe-se o que espera e pensa a população brasileira, pois política é negócio bilionário e exclusividade de um grupelho que se alimenta da mesmice criminosa.

Não bastasse o equívoco que foi ignorar a possibilidade de ejetar Lula do Palácio do Planalto, o Congresso aprovou de maneira pasteurizada, como sempre faz e continuará fazendo, a indicação de ministros das instâncias superiores do Judiciário. Não se tem notícia de que a indicação de um ministro do Supremo, por exemplo, tenha sido barrada pelo Congresso. E se isso tivesse ocorrido, jamais os brasileiros saberiam quem votou contra, pois o tal do voto secreto, uma aberração da democracia brasileira, protege os covardes com mandato eletivo.

É o que ocorreu no caso de José Antonio Dias Toffoli, que usa o dicionário rocambolesco da Justiça para camuflar uma incompetência conhecida e que há muito é alvo de chistes entre os operadores do Direito.

Fosse apenas um ignaro em termos jurídicos, o que permitiria que atuasse como um paspalho útil, Dias Toffoli é debochado e não faz questão de esconder esse viés “détraqué” de sua personalidade. Durante o seu voto sobre a aceitação dos embargos infringentes, era claro o sorriso de lagarto que o magistrado prendia entre os lábios, como se a Corte fosse a versão tupiniquim do Coliseu, onde um grupo que defende o mal se digladia com o que defende o bem.

Rui Barbosa foi profético ao afirmar:

“De tanto ver triunfar as nulidades; de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça. De tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da honra e a ter vergonha de ser honesto”.

O nosso Águia de Haia parecia antever o escândalo do Mensalão do PT e os efeitos nefastos do julgamento do caso. É exatamente assim, envergonhado diante da própria honestidade, que cada brasileiro de bem sente-se depois da ópera bufa que teve lugar no plenário do Supremo.

Culpa, queiram ou não, é como reticência, pois há sempre algo novo a se acrescentar ao enunciado infinito que se abre com o sinal gráfico.
Outrossim, a culpa por esse “déblocage” da legalidade é do povo brasileiro que elege ao parlamento quem desconhece e, pior, deixa os eleitos agirem à solta, dando as costas à necessidade de acompanhá-los e cobrá-los a todo instante.

Chorar sobre o leite derramado não resolve e muito menos devolve o produto perdido ao recipiente original. Ademais, a vida segue e o rebanho leiteiro continua a pastar.
Por isso, que o brasileiro tome a decisão sobre os embargos infringentes, independentemente do resultado, como divisor de águas para uma nova postura política em regime dito democrático, no qual, por teoria, o poder emana do povo, pois não será com o desdém do cidadão que o Brasil avançará na proporção de sua aludida grandeza.

15 de setembro de 2013
Editorial
ucho haddad

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