Ou, ainda, o palco onde o melodrama entra de fininho no lugar da comédia; tanto na crônica policial quanto na política.
Basta ver a peça encenada pelo deputado de Rondônia (isso mesmo, deputado) Natan Donadon. Que desfecho mais previsível!
Quando exibiu os punhos marcados pela pressão das algemas, um silêncio sepulcral tomou conta do plenário. Nem um pio se ouvia naquele espaço barulhento.
A performance – presenciada também por familiares – continha elementos melodramáticos capazes de gerar comoção e catarse: a falta d’água no meio do banho, o deputado ensaboado valendo-se de três garrafinhas com água do companheiro da cela ao lado, as algemas, o camburão, a garantia de que jamais cometera um crime, o pai exemplar, um rosário de repetições que, ao fim e ao cabo, despertaram em grande parte dos ouvintes os sentimentos que a psicologia designa como projeção e identificação.
Suas excelências viram projetadas naquele painel suas trajetórias, vitórias e percalços, passando a se identificar com a novela. Poderia acontecer comigo, muitos devem ter pensado.
Assim, a corrente solidária, amarrada ao tronco corporativista, ensejou a nossos alegres trópicos uma das mais insólitas cenas da história republicana: a de um cidadão com direitos políticos cassados pela Suprema Corte de posse de mandato popular. Uma contradição ou, melhor, uma aberração jurídica, que o STF deverá corrigir.
EXTRAVAGÂNCIA
Não é de se admirar que a fenomenologia da extravagância teime em aprofundar raízes no território, principalmente num ciclo de plantio de sementes limpas no terreno dos costumes. Inauguramos uma era de transformações na fisionomia político-institucional sob pressão de grupamentos organizados.
Seria extemporânea, portanto, qualquer atitude parlamentar que, mesmo de maneira tênue, pudesse ser entendida como retrocesso e, pior, repulsa às demandas sociais por dignidade, moral e ética na política. Se isso ocorre, é porque os parlamentares põem o corporativismo – a prática voltada para salvar companheiros da corporação – acima de qualquer outro escopo.
Na verdade, na esfera política, a evolução tem sido lenta. O cipoal legislativo até incorpora instrumentos de controle, mas os vícios do passado continuam presentes. Ressuscitamos uma modalidade de “neocoronelismo”, como escreveu Emil Farhat em “O genro, o grande culpado”:
“Novas condições (…) forçaram o velho tipo municipal a uma retirada estratégica – o coronel foi para o fundo do cenário. Mas, cautelosamente, deixou no primeiro plano, na direção política de seu feudo, o genro-doutor, a fachada moderna do coronelismo como força política”.
15 de setembro de 2013
(transcrito de O Tempo)
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