"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

PÉ NA PORTA, FACA NO PESCOÇO


O que mais coloca grilo em um parlamentar? A expectativa de não ser reeleito. E o que leva a essa funesta expectativa? Uma crise de imagem, seja individual ou coletiva. Difícil crer, portanto, que a “absolvição” de Natan Donadon pelo plenário da Câmara, na semana passada, tenha tido todos os riscos calculados. Melhor supor que os colegas que se abstiveram naquela triste noite e os outros que se compadeceram da condição do preso sentenciado apenas gostariam de dar o recado deles. O resultado saiu pior do que a encomenda.
 
Fazia só 60 dias que o Congresso andava cercado por milhares de manifestantes, o terror no rosto dos vigilantes, e os deputados se prestam a um papel daqueles! Manter o mandato de um cidadão preso em regime fechado! É caso do mais completo absurdo jurídico. Donadon está na impossibilidade de exercer o mandato porque não pode ir à Câmara, ora. Nonsense à brasileira: “Vossa Excelência pode se recolher na carceragem por favor?”

Constata-se que as excelências que ainda gozam do direito de ir e vir só funcionam bem com o pé na porta e a faca no pescoço. Elas têm um prisma especial pelo qual enxergam e se relacionam com a realidade porque são especiais. Multidões na cola dos parlamentares atraem o constrangimento de câmeras, holofotes e, a partir deles, mais “hordas de cidadãos”.

O preocupante é o marasmo, é o aparente bom andamento das Casas, a quase certeza de cassação de um condenado pelo Supremo. O que nasce desses momentos? Surpresas desabonadoras para o Legislativo, para a democracia e para o país. Sobre moleques, a vigília deve ser constante para se evitarem molecagens. Ah, nossos representantes são incansáveis.

REFORMA POLÍTICA???

O tema da vez, desde os protestos de junho, é a reforma política, clamor dos mais audíveis nas ruas. Trata-se de um cipoal complexo, difícil até de se avaliar? Sim. Logo, é compreensível estar em discussão há duas décadas, quase sem sair do lugar? Sim, mas falta vontade também.

Não resta mais dúvida de que qualquer medida a ser tomada para conferir mais moralização à prática política não é espontaneamente desejada pela maioria. Se não fosse um projeto popular com 1,5 milhão de assinaturas, sairia a Lei da Ficha Limpa? Claro que não. Da mesma forma, se não tiver pressão, não teremos nem reforma, nem emenda, nem nada.

O grupo de trabalho da Câmara que se debruça (tomara) sobre o tema já sentenciou que não vislumbra mudança para valer no ano que vem. E assim a banda toca. Vamos esperar o sábado: no 7 de Setembro, o grito não vai ser só dos excluídos, mas de milhões de insatisfeitos.

Mas tem um senão: se a reforma política só sai com o pé na porta, é imprescindível o mínimo de conhecimento. As propostas requerem entendimento, parcimônia e muita discussão mesmo. A combinação da vontade com ciência seria imbatível.

(transcrito de O Tempo)

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