"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

terça-feira, 10 de setembro de 2013

O OCASO DE UM JORNAL



A primeira guerra mundial foi funesta para a Alemanha. Sua rendição e a subsequente assinatura do Tratado de Versailles impuseram enorme humilhação ao povo germânico. A Alemanha teve que admitir a responsabilidade única pela guerra, foi obrigada a pesadas reparações, num total de $6.600.000 (32 bilhões de marcos), perdeu território para a França, Polónia, Bélgica e Dinamarca, e foi forçada a desistir de suas colônias e de sua marinha. O resultado foi o caos econômico, uma inflação de nove zeros, e o crescimento exponencial de sua dívida externa.
Em 1924 uma nova constituição foi elaborada na cidade de Weimar, que optou pelo modelo federalista parlamentarista. O novo regime não conseguiu equacionar os problemas nacionais e, no meio da intensa agitação social reinante, elementos do Partido Nazista, liderado por Adolf Hitler e pelo general Ludendorf tentaram um golpe de Estado em Munique.
Fracassado o golpe, Hitler fica preso por oito meses e, ao sair da prisão parecia que sua carreira política estava acabada. Seu partido recebeu apenas 3% dos votos.
A Alemanha ia conseguindo se recuperar quando a crise de 1929 interrompeu o processo. Aí começou a ascensão dos nazistas, que prometiam emprego, controle de preços, uma mudança no modelo democrata e forte oposição aos comunistas e judeus.
Em 1932 o Partido Nazista recebeu 37% dos votos e em 1933 Hitler foi nomeado Chanceler. Após o incêndio do Reichstag, o parlamento alemão, em fevereiro de 1933, em março Hitler recebeu plenos poderes para combater a desordem no país. Por meio da intimidação e da violência, de prisões, sequestros e assassinatos ele acaba tomando o poder de fato e, com a morte do presidente Hindemburg, se apossa também desse cargo e se torna o ditador absoluto da Alemanha, o líder, o führer.
Desde o começo da carreira de Hitler, em 1920, um jornal pressentiu o perigo que ele representava para a democracia: O Münchener Post. Esse periódico dedicou uma atenção toda especial à organização nazista, denunciando suas ações violentas e criminosas, tentando alertar a população para os riscos que a nação estava correndo ao conceder votos e apoio àquele partido.
O Münchener, um jornal pobre e modesto, combatia toda e qualquer ameaça à democracia, viesse de onde viesse, dos nazistas ou de qualquer outro partido ou organização. Mais atento a Hitler, por estar sediado em Munique, denunciou seus excessos com exaltação cada vez maior. Sem medo da tirania tornou-se um bastião intimorato da democracia. Sabiam todos seus jornalistas os perigos que estavam correndo, mas foram fiéis à verdade até sua destruição física pelos nazistas em 1933.
Na Rússia moderna, a Novaya Gazeta, fundada em 1993, é um jornal independente e de oposição ao atual Czar, Vladimir Putin. Essa posição independente inibe o número de anunciantes e a Gazeta só sobrevive graças ao apoio financeiro do banqueiro Alexander Lebedev, portador de 39% das ações e parceiro de Mikhail Gorbatchov, que possui outros 10%.
Embora não se possa provar que o governo russo esteja por trás dos atentados, quatro jornalistas da Gazeta foram assassinados por suas posições oposicionistas. Ninguém foi preso por esses crimes. Essa impunidade contribui para que a maneira de demonstrar descontentamento pela posição de jornalistas de oposição seja assassiná-los. 
A Rússia é o terceiro país mais perigoso para o exercício do jornalismo no mundo.
Mas esses crimes em nada diminuem a determinação de continuar defendendo os valores democráticos, de continuar acossando o poder, de continuar aferrado à verdade, defendendo os ideais que fazem a grandeza da profissão de jornalista.
Num país chamado Brasil existe um jornal de enorme circulação, parte de uma organização que conta com emissoras de rádio e TV, detentora uma parcela enorme da audiência nacional de telespectadores e de leitores das edições impressas. Por um motivo ou por outro, não parece ter problemas financeiros, nem sofre carência de assinantes ou anunciantes.
Porém, seus proprietários atuais tem um desprezo profundo pela verdade, manifestam o mais condenável desrespeito pela memória e pelas atitudes daqueles verdadeiros jornalistas aos quais devem seu sobrenome e sua atual fortuna.
Seu jornal não é pobre de dinheiro, como a Novaya Gazeta. Também não é um modesto jornal de província como o Münchener Post. Não tiveram jornalistas assassinados. E nem eles, proprietários, tem motivos para temer por sua integridade física.
Mas lhes falta o principal para o exercício do jornalismo de primeira linha: o caráter! Por não estarem acostumados ao trato com a verdade, renegam aquela defendida por seus pais. Por terem herdado emprego e patrimônio, mas não a noção de honra jornalística, desmentem as palavras de seus maiores. Por terem o caráter voltado para os aspectos grosseiros do imediatismo, não tiveram olhos de ver e ouvidos de apreender os exemplos que lhes foram abundantemente prodigalizados por aqueles que os precederam.
E venderam as almas ao diabo, por medo, por covardia, por terem motivos para temer ações fiscais do governo, por fisiologismo, por mera bajulação, sabe-se lá. Tornaram-se merecedores do desprezo da classe jornalística e cobriram de vergonha um nome respeitável.
Ao contrário de seus pais, será um nome enxovalhado que deixarão para seus descendentes.

10 de setembro de 2013
José Gobbo Ferreira é Coronel na reserva do EB.

PS.: Sobre o Münchener Post, sugiro o livro: A Cozinha Venenosa – Um Jornal contra Hitler, de Silvia Bittencourt.

Um comentário:

  1. Prezados leitores do blog, o caminho é boicotar a Rede Globo e sua afiliadas, assim como também suas publicações O Globo e Época, principalmente .
    BOICOTE ÀS ORGANIZAÇÕES GLOBO JÁ! SEM AUDIENCIA, PERDEM A FORÇA!
    Além disso, há ótimos jornais no SBT, Gazeta, Band com excelentes reportagens e repórteres e jornalistas apresentadores opinativos e corajosos - os apresentadores do JN são apáticos, covardes, meros leitores da pauta imposta pela direção da emissora .
    O POVO NÃO É BOBO! ABAIXO A REDE GLOBO !

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