"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

terça-feira, 10 de setembro de 2013

NO BRASIL MARAVILHA DOS TRUQUES E TRAMBIQUES "CONTÁBEIS": DÍVIDA CRESCE E ASSUSTA


 
A estratégia do governo de estimular o consumo das famílias por meio do aumento do crédito, assim que o mundo ruiu com a quebra do banco norte-americano Lehman Brothers, em 15 de setembro de 2008, fez com que a dívida pública do Brasil desse um salto monumental. 

 Dados do Fundo Monetário Internacional (FMI) mostram que, nos últimos cinco anos, o endividamento bruto passou de 63,5% para 67,2% do Produto Interno Bruto (PIB), nível superior ao registrado por vários países da Zona do Euro antes do estouro da bolha imobiliária dos Estados Unidos. A França, por exemplo, tinha, ao fim de 2007, um índice de 64,2%.

O salto da dívida bruta brasileira foi estimulado, sobretudo, pela injeção de recursos, pelo Tesouro Nacional, nos bancos públicos. Apenas o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) recebeu mais de R$ 300 bilhões, criando, no entender do economista Mansueto Almeida, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), um orçamento paralelo, que ajudou a minar a confiança dos agentes econômicos no país.

Para ele, o desconforto é enorme, pois, não bastasse a transferência de recursos às instituições públicas, o secretário do Tesouro, Arno Augustin, com o aval do ministro da Fazenda, Guido Mantega, recorreu a truques fiscais para dar às contas públicas uma saúde que elas não têm. A maquiagem nos números foi tão intensa que o Brasil está sob ameaça de rebaixamento pelas agências de classificação de risco. 

Foi justamente a expressiva recuperação do país logo depois do estouro da bolha imobiliária que levou essas empresas a concederem à economia brasileira o tão sonhado grau de investimento, chancela de porto seguro para o capital.

Hoje, porém, o que impera no Brasil é o pessimismo. 
Em especial porque o reforço de capital dos bancos públicos, que já respondem por mais de 50% do crédito concedido no Brasil, teve outro efeito colateral: 
o endividamento excessivo das famílias. 
Pelos cálculos do Banco Central, em setembro de 2008, 32% da renda dos lares brasileiros estavam comprometidos com o pagamento de dívidas. 
Em junho deste ano, último dado disponível, 45% do orçamento familiar vinham sendo usados para a quitação de juros e das parcelas de débitos contraídos com os bancos.

Inflação Na avaliação do estrategista-chefe do Banco Mizuho do Brasil, Luciano Rostagno, as ações do governo no auge da crise mundial foram louváveis, porque permitiram ao país sair rapidamente de um severo processo recessivo. O problema foi ter insistido nas medidas de incentivo ao consumo além do recomendável. Pior: em vez de o Brasil ter impulsionado o crescimento, o que se viu foi o aumento da inflação e a desaceleração da atividade, uma vez que o poder de compra dasfamílias foi corroído.

Para o economista Andrew Storfer, da Associação Nacional dos Executivos de Finanças (Anefac), as fragilidades do Brasil cinco anos depois da quebra do Lehman Brothers foram se acentuando à medida que ficou clara a saída dos países desenvolvidos da recessão.

"Diante de tantos buracos na economia, o capital ficou receoso e passou a buscar oportunidades menos arriscadas nos países desenvolvidos, principalmente nos Estados Unidos, que voltaram a crescer", assinala. "Com isso, fica claro que o Brasil está jogando fora a oportunidade de ser um país melhor a médio e longo prazos. O que todos esperavam era uma nação que mostrasse uma face para o mundo de mais investimento, mais amigo do capital, e não criando insegurança."

No entender de Rostagno, infelizmente, se os ajustes vierem, será somente em 2015, depois das eleições presidenciais. O problema é que, até lá, os entraves acumulados exigirão um esforço redobrado para botar ordem na casa. E a fatura, mais uma vez, acabará no colo do lado mais fraco, a população, sobretudo a mais pobre.
 
» Nova ordem global
O estrategista-chefe do Banco Mizuho do Brasil, Luciano Rostagno, considera que a velha ordem global está de volta. Com os países ricos saindo do atoleiro no qual se meteram a partir de setembro de 2008, e os emergentes sentindo o baque da desconfiança, a tendência é de que as nações mais ricas voltem a responder pela maior parte do crescimento mundial e, claro, de que fiquem com a maior parcela dos investimentos que circulam pelo mundo.
 
» Aperto
Saldo da crise levou Brasil a acumular dívida superior à da França no pré-crise
Disparada  
Para turbinar a economia, governo injetou dinheiro em bancos públicos, o que elevou dívida bruta (% do PIB)...

Brasil
 
2007    65,2
2008    63,5
2009    66,9
2010    65,1
2011    64,9
2012    68,5
2013*    67,2
2014*    65,8

França  2007    64,2
2008    68,2
2009    79,2
2010    82,3
2011    86,0
2012    90,2
2013*   92,7
2014*  94,0
 
*Projeção
Orçamento apertadoNa mesma toada, seguiu o endividamento das famílias brasileiras, que é
recorde


Comprometimento da renda (em %)
Set/08    32,21
Dez/09    35,41
Dez/10    39,16
Dez/11    41,70
Dez/12    43,41
Jun/13    44,82

Portas fechadas
Desde a crise, sete bancos já foram liquidados extrajudicialmente
Banco Morada
Cruzeiro do Sul
Banco Prosper
BVA
Banco Simples
Banco Rural
Banco Mais

Troca de controle Outras instituições, que também tiveram problemas financeiros, acabaram vendidas para concorrentes
Unibanco
Panamericano
Schahin
Matone
Fonte: Banco Central e FMI

10 de setembro de 2013
Correio Braziliense

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