Gravações obtidas pelo GLOBO revelam tráfico de influência na cúpula do Ministério do Trabalho. Diálogo mostra subsecretário informando a empresário que o nome da Oscip já foi retirado da lista que a impedia de receber recursos públicos. Segundo a PF, Deivson pagou R$ 300 mil para Fernando Decnop excluir o IMDC do cadastro da Controladoria Geral da União
Gravações de grampos telefônicos da operação da Polícia Federal que desbaratou um esquema de desvio de recursos públicos do Ministério do Trabalho, obtidas com exclusividade pelo GLOBO, revelam tráfico de influência na cúpula da pasta. Os áudios mostram que o presidente da Oscip Instituto Mundial do Desenvolvimento e Cidadania (IMDC), Deivson Oliveira Vidal, tratava diretamente com servidores do alto escalão do ministério.
A operação Esopo, deflagrada ontem em 11 estados e no Distrito Federal, desmantelou uma organização criminosa que desviava verbas do ministério, a partir de licitações forjadas, em conluio com o IMDC. A entidade recebeu da pasta R$ 400 milhões nos últimos cinco anos. A maior parte foi desviada.
Nos diálogos, os investigados falam sobre a exclusão da entidade do cadastro da CGU de impedidos de celebrar convênios com o governo federal.
Um dos flagrados operando para a entidade dentro do ministério foi o então subsecretário de Planejamento, Orçamento e Administração da Secretaria Executiva do Ministério do Trabalho, Antônio Fernando Decnop Martins.
Preso em Brasília, Decnop estava lotado atualmente no cargo de coordenador geral de Recursos Logísticos da Diretoria de Administração e Gestão da Funai. De acordo com as investigações, Deivson pagou uma propina de R$ 300 mil para Decnop usar sua influência na pasta e conseguir que a entidade fosse retirada da lista de impedidos da CGU.
Num diálogo gravado pela PF em 13 de abril de 2012, com autorização da Justiça, Decnop afirma a Deivson que o documento será assinado por “Paulo” — identificado pela PF na transcrição como o então ministro interino Paulo Roberto Pinto, hoje secretário-executivo do Ministério do Trabalho.
FERNANDO DECNOP - Alô, Deivson.
DEIVSON VIDAL - Tá bom, Fernando?
FERNANDO - Tudo bom, irmão? Acho que hoje a gente libera pra dar baixa, tá? Pra mandar dar baixa, tá? Me liga mais tarde um pouquinho que eu fiquei de confirmar isso.
DEIVSON - Eu ontem conversei lá embaixo...
FERNANDO - Hã?
DEIVSON - Tá na mesa do Manoel Eugênio. Nem mexeu na pasta ainda.
FERNANDO - É, mas ele te respondeu o documento ou não?
DEIVSON - Não.
FERNANDO - É. O Ministro vai te responder hoje, tá?
DEIVSON - E tá lá embaixo pro...Eu liguei lá agora... Eles: “Não, tá na mesa do Manoel Eugênio. Ele nem começou a analisar”.
FERNANDO - Eu tô sabendo, mas ele já recebeu o documento também lá, entendeu? Eu acho que...eu acho que aquilo ali que a gente tem que fazer o PAULO (Paulo Roberto Pinto, então ministro interino do Trabalho) vai pegar. Liberando isso hoje, você tira, pelo menos, e aí a gente vê depois o negócio de liberação semana que vem, tá bom?
DEIVSON - Então tá joia, Fernando.
FERNANDO - Mas tem que tirar sua INADIMPLÊNCIA. Tá bom?
DEIVSON - É. Primeira coisa é isso aí.
FERNANDO - Isso aí é a primeira coisa. Mandou tirar isso, semana que vem a gente vê o resto, tá bom irmão?
DEIVSON - Combinado, então.
Em 20 de abril, nova conversa: o empresário mineiro recebe de Antônio Fernando Decnop a notícia que tanto esperava.
FERNANDO - Fala autoridade! Acordando tarde, hein, cara! Vou cortar seu ponto aí, cara!
DEIVSON - (ininteligível). Eu tava numa reunião.(risos)
FERNANDO - Tô brincando. Ó, tá resolvido, tá?
DEIVSON - Sério?
FERNANDO - Tá tudo assinado. O chefe assina agora. Falei com ele ontem à noite. Ele me mandou subir agora, dez e meia, pra ele. Já deve tá lá, tá. Aí, dá baixa. Tá bom? Aí, depois de ele ver... “Não, você não acha nada!” Porque ele determinou na minha frente que o secretário levasse na mão dele, tá?
DEIVSON - Entendi.
FERNANDO - Ele ligou e falou assim: “Eu quero isso aqui amanhã de manhã na minha mão pra liberar". Tá bom? Como eu pedi... Ou seja, com a nota técnica. Já tava pronta, já. Quem te informou, informou errado. Aí, é sacanagem com o cara também, porque já tava pronta, entendeu? Tá?
DEIVSON - Entendi.
FERNANDO - Só faltava o secretário dele assinar, e já assinou. Tá bom, irmão? Só pra você saber. Hoje sai isso.
DEIVSON - Aí, deixa eu perguntar uma coisa pra você. Aí, como é que funciona a questão da CGU? Você sabe, Fernando?
FERNANDO - Não, é imediato. Deu baixa, aí eles já vão notificar a CGU que já tá dado baixa, tá?
DEIVSON - Mas quem que notifica?
FERNANDO - Não, o Controle Interno nosso avisa que deu baixa, tá?
DEIVSON - Então tá?
FERNANDO - Tá bom? E o sistema dá baixa também. Tá bom?
DEIVSON - Então, tá bom. Obrigado, Fernando.
FERNANDO - Fica tranquilo. Um abraço aí pra você. Um bom final de semana. Tchau!
DEIVSON - Pra você também. Obrigado!
A exclusão do IMDC do cadastro da CGU ocorreu, de fato, no dia 24 de abril daquele ano, dias depois do diálogo acima. A CGU confirmou ao GLOBO que o IMDC havia sido impedido de receber recursos públicos em função de um pedido do próprio Ministério do Trabalho no dia 27 de fevereiro de 2012. Mas, dois meses depois, no dia 23 de abril, segundo a CGU, o “MTE solicitou a exclusão da Oscip” do cadastro “sob a alegação de que os problemas antes identificados haviam sido plenamente superados. Por essa razão, a CGU procedeu à exclusão”, diz texto enviado ao GLOBO pela CGU.
10 de setembro de 2013
O Globo
A operação Esopo, deflagrada ontem em 11 estados e no Distrito Federal, desmantelou uma organização criminosa que desviava verbas do ministério, a partir de licitações forjadas, em conluio com o IMDC. A entidade recebeu da pasta R$ 400 milhões nos últimos cinco anos. A maior parte foi desviada.
Nos diálogos, os investigados falam sobre a exclusão da entidade do cadastro da CGU de impedidos de celebrar convênios com o governo federal.
Um dos flagrados operando para a entidade dentro do ministério foi o então subsecretário de Planejamento, Orçamento e Administração da Secretaria Executiva do Ministério do Trabalho, Antônio Fernando Decnop Martins.
Preso em Brasília, Decnop estava lotado atualmente no cargo de coordenador geral de Recursos Logísticos da Diretoria de Administração e Gestão da Funai. De acordo com as investigações, Deivson pagou uma propina de R$ 300 mil para Decnop usar sua influência na pasta e conseguir que a entidade fosse retirada da lista de impedidos da CGU.
Num diálogo gravado pela PF em 13 de abril de 2012, com autorização da Justiça, Decnop afirma a Deivson que o documento será assinado por “Paulo” — identificado pela PF na transcrição como o então ministro interino Paulo Roberto Pinto, hoje secretário-executivo do Ministério do Trabalho.
FERNANDO DECNOP - Alô, Deivson.
DEIVSON VIDAL - Tá bom, Fernando?
FERNANDO - Tudo bom, irmão? Acho que hoje a gente libera pra dar baixa, tá? Pra mandar dar baixa, tá? Me liga mais tarde um pouquinho que eu fiquei de confirmar isso.
DEIVSON - Eu ontem conversei lá embaixo...
FERNANDO - Hã?
DEIVSON - Tá na mesa do Manoel Eugênio. Nem mexeu na pasta ainda.
FERNANDO - É, mas ele te respondeu o documento ou não?
DEIVSON - Não.
FERNANDO - É. O Ministro vai te responder hoje, tá?
DEIVSON - E tá lá embaixo pro...Eu liguei lá agora... Eles: “Não, tá na mesa do Manoel Eugênio. Ele nem começou a analisar”.
FERNANDO - Eu tô sabendo, mas ele já recebeu o documento também lá, entendeu? Eu acho que...eu acho que aquilo ali que a gente tem que fazer o PAULO (Paulo Roberto Pinto, então ministro interino do Trabalho) vai pegar. Liberando isso hoje, você tira, pelo menos, e aí a gente vê depois o negócio de liberação semana que vem, tá bom?
DEIVSON - Então tá joia, Fernando.
FERNANDO - Mas tem que tirar sua INADIMPLÊNCIA. Tá bom?
DEIVSON - É. Primeira coisa é isso aí.
FERNANDO - Isso aí é a primeira coisa. Mandou tirar isso, semana que vem a gente vê o resto, tá bom irmão?
DEIVSON - Combinado, então.
Em 20 de abril, nova conversa: o empresário mineiro recebe de Antônio Fernando Decnop a notícia que tanto esperava.
FERNANDO - Fala autoridade! Acordando tarde, hein, cara! Vou cortar seu ponto aí, cara!
DEIVSON - (ininteligível). Eu tava numa reunião.(risos)
FERNANDO - Tô brincando. Ó, tá resolvido, tá?
DEIVSON - Sério?
FERNANDO - Tá tudo assinado. O chefe assina agora. Falei com ele ontem à noite. Ele me mandou subir agora, dez e meia, pra ele. Já deve tá lá, tá. Aí, dá baixa. Tá bom? Aí, depois de ele ver... “Não, você não acha nada!” Porque ele determinou na minha frente que o secretário levasse na mão dele, tá?
DEIVSON - Entendi.
FERNANDO - Ele ligou e falou assim: “Eu quero isso aqui amanhã de manhã na minha mão pra liberar". Tá bom? Como eu pedi... Ou seja, com a nota técnica. Já tava pronta, já. Quem te informou, informou errado. Aí, é sacanagem com o cara também, porque já tava pronta, entendeu? Tá?
DEIVSON - Entendi.
FERNANDO - Só faltava o secretário dele assinar, e já assinou. Tá bom, irmão? Só pra você saber. Hoje sai isso.
DEIVSON - Aí, deixa eu perguntar uma coisa pra você. Aí, como é que funciona a questão da CGU? Você sabe, Fernando?
FERNANDO - Não, é imediato. Deu baixa, aí eles já vão notificar a CGU que já tá dado baixa, tá?
DEIVSON - Mas quem que notifica?
FERNANDO - Não, o Controle Interno nosso avisa que deu baixa, tá?
DEIVSON - Então tá?
FERNANDO - Tá bom? E o sistema dá baixa também. Tá bom?
DEIVSON - Então, tá bom. Obrigado, Fernando.
FERNANDO - Fica tranquilo. Um abraço aí pra você. Um bom final de semana. Tchau!
DEIVSON - Pra você também. Obrigado!
A exclusão do IMDC do cadastro da CGU ocorreu, de fato, no dia 24 de abril daquele ano, dias depois do diálogo acima. A CGU confirmou ao GLOBO que o IMDC havia sido impedido de receber recursos públicos em função de um pedido do próprio Ministério do Trabalho no dia 27 de fevereiro de 2012. Mas, dois meses depois, no dia 23 de abril, segundo a CGU, o “MTE solicitou a exclusão da Oscip” do cadastro “sob a alegação de que os problemas antes identificados haviam sido plenamente superados. Por essa razão, a CGU procedeu à exclusão”, diz texto enviado ao GLOBO pela CGU.
10 de setembro de 2013
O Globo
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