Dois novos “partidos políticos” acabam de nascer no Brasil e ainda temos mais um no forno.
Um deles responde pela adequada sigla PROS (Partido Republicano da Ordem Social) e já nasceu falando que é pró governo. O outro chama-se Solidariedade e é propriedade daquele Paulinho da Força, nosso velho conhecido que doravante passa a ser Paulinho da ex-Força, e diz que vai ser da oposição, ainda que estejam ambos abertos a negociações.
Com isso o Brasil chega ao recorde de 32 partidos políticos, a caminho de 33 porque há pelo menos mais um em gestação, fato que absolutamente não quer dizer que existam 33 maneiras diferentes de se gerir a coisa pública que é o critério que, pelo mundo afora, faz partidos políticos nascerem. Mas explica porque o Brasil tem 40 ministérios quando ninguém no resto do mundo passa muito dos 10.
Desde a Queda do Muro em 1989 há consenso de que não existem sequer duas maneiras de gerir a coisa pública. Uma e meia, talvez, a diferença resumindo-se a permitir ou não permitir que, nos momentos de crise, o Estado ponha a ponta de um de seus pezinhos dentro da economia.
Por isso são raros, hoje, os países onde haja mais que dois partidos, sendo as exceções admitidas em modelos parlamentaristas que abrigam partidos dedicados a temas específicos como os “verdes”, que adoram essa cor, ou os “piratas” que propõem a livre roubalheira de trabalho alheio e doses maiores de “democracia direta” não muito honesta via internet.
Porque, então, nascem tantos partidos no Brasil?
Primeiro, porque a função dos governos no Brasil não é gerir a coisa pública, é roubar a coisa pública. E para disputar tão gigantesco butim há muito mais do que apenas dois candidatos.
Segundo, porque o povo brasileiro e a representação política do Brasil são entidades absolutamente divorciadas entre si, não havendo nenhuma possibilidade de contato entre ambas salvo nos momentos em que os eleitores são chamados a sancionar a hierarquia da roubalheira dos próximos quatro anos negociada previamente entre essas 30 e mais agremiações especializadas no alto “comércio de governabilidade”, que é o nome que se atira à imprensa para descrever as idas e vindas de cada ladrão ao longo de cada temporada oficial de saque à Nação.
Trata-se de um jogo no qual só se ingressa constituindo-se um “partido político” e no qual a moeda de troca é o tempo de exposição no “horário gratuito eleitoral”.
A regra é acertada entre os próprios contendores. Formar um partido é a parte mais fácil. Basta juntar 101 asseclas dispostos a tudo, criar a marca do novo produto e colher assinaturas de 1/1000 dos eleitores que votaram na última eleição em 9 estados. Escolhendo os 9 estados de menor eleitorado bastarão 7.641 assinaturas.
Conseguido isso, só por ter aderido à máfia, sem ter feito nada por ninguém, sem ter tido de pedir nada a ninguém, o “partido” já recebe, automaticamente, um cacife inicial bancado por nós todos para entrar num jogo em que disputa-se montanhas de dinheiro.
Funciona assim:
O “horário eleitoral gratuito” colocará candidatos no ar em rede nacional dizendo o que quiserem dentro da melhor embalagem que conseguirem comprar, sem contraditório que fica proibido nos meses que antecedem as eleições, durante 30 minutos por dia.
Dez desses 30 minutos serão distribuídos “igualitariamente” pelo numero de partidos existentes. Se forem 32, cada um terá 18 segundos e 75 centésimos. Se forem 33, 0’18”18 centésimos.
Os outros 20 minutos serão distribuídos pelos 513 deputados federais eleitos e atribuídos ao partido a que eles estiverem filiados no momento, o que dá 0’02”33 centésimos para cada um.
É, no entanto, uma propriedade inalienável desse deputado, que ele leva com ele independentemente de trair ou não o seu eleitor.
Aí começa o jogo que consiste nos partidos roubarem deputados eleitos uns dos outros fazendo a eles a melhor oferta de posicionamento privilegiado para futuros assaltos à coisa pública em caso de vitória da agremiação à qual se aliou.
Essa primeira fase desse jogo de rouba-montinho envolve todos contra todos. O Solidariedade, ex-Força, por exemplo, nas mãos de um veterano de comprovada competência na modalidade, garante que já vai nascer com 46 deputados tirados do alheio.
Isso lhe daria um cacife de 2 minutos 10 segundos e 58 centésimos por dia na TV (2”33 x 46 = 107”60 + 18”75 de cacife inicial = 126 segundos e 35 centésimos ou, /60 = 2’10”58 centésimos).
Aí começa a segunda etapa do jogo que, a essa altura, passa a ser de rouba-montão. É quando os donos de partidos negociam entre si a qual dos dois partidos mais cotados para a disputa final eles vão entregar os seus preciosos minutos, e em troca de quais ministérios, autarquias, empresas estatais ou simples encruzilhadas boas de assaltar em caso de vitória.
Esses minutos valem tanto assim porque este é um país onde até os universitários, ou pelo menos 38% deles, são analfabetos funcionais, interessados exclusivamente em ver bundas na televisão e se compor, futuramente, com os ladrões postos no seu caminho pra ver se garantem algumas migalhas no mole para si mesmos.
Pro resto os contendores desse jogo nem olham porque não são suficientemente numerosos para mudar nada nas eleições. Uma vez eleitos, eles cuidarão de manter o sistema de educação pública com o nível de eficiência necessário para parir, na próxima geração, uma igual proporção de otários e miseráveis, contingente que tem de ser amplamente majoritário para que eles possam seguir comprando-os eternamente com bundas e com migalhas.
Passada a eleição começa a fase do rouba-bilhão onde cada voto no Congresso, cada gatuno pego no pulo, cada julgamento que chega ao judiciário, cada crise, cada pânico nacional é uma nova oportunidade de faturamento tanto maior quanto mais grave for a ameaça envolvida. Nessas ocasiões, não é ajuda que vendem, é só a promessa de não atrapalhar.
De modo que se você sonha sair dessa arapuca um dia, comece por fazer tudo que você puder para destruir esse tal de “horário gratuito” mantido o qual não há esperança de nada.
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