"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quarta-feira, 21 de março de 2018

MILICIANOS INVESTEM EM JÓIAS, CARROS E FAZENDAS PARA ESCONDER SEUS LUCROS

 (Foto: Divulgação)
Carlinhos Três Pontes, morto em 2017
Joias, carros de luxo e fazendas. O ganho obtido por milicianos com a exploração de serviços em comunidades da Região Metropolitana do Rio de Janeiro está sendo investido em regiões bem distantes das favelas dominadas por este grupo. É o que mostram investigações da Polícia Civil, do Ministério Público estadual e processos na Justiça do RJ aos quais o G1 teve acesso.
Esta reportagem da série Franquia do Crime mostra que um chefe de milícia foi preso com R$ 56 mil em joias. Outro homem apontado por agentes como sendo um chefe miliciano comprou uma fazenda de um político da Região Serrana do RJ. No local, ele tinha até animais exóticos.
OPERAÇÃO CONJUNTA – A fazenda foi descoberta após um trabalho conjunto entre a Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco) e o Laboratório de Lavagem de Dinheiro da Polícia Civil do Rio de Janeiro. No inquérito, policiais apuram a compra de uma fazenda em Sapucaia, no Norte Fluminense, por Marco Figueiredo, conhecido como Marcos Catiri, investigado por chefiar uma milícia na Zona Oeste do Rio.
Atualmente, Catiri figura como acusado em dois processos: um por organização criminosa na Vara Criminal de Bangu, e outro por posse de arma e receptação no juízo criminal de Sapucaia. Ele responde em liberdade.
De acordo com policiais, Catiri comprou a fazenda que já pertenceu a um ex-prefeito de Teresópolis. O político não é investigado pela Polícia Civil. Os investigadores querem entender a intermediação de um empresário da Baixada Fluminense no negócio. Em operação no local, os policiais encontraram emus, araras, avestruz, cavalos de raça e um lago com pedalinho.
ESCOPETA E COLETE – No interior da casa, também foi encontrada uma escopeta de fabricação turca e um colete à prova de balas. Atualmente a propriedade está lacrada. Policiais da Draco investigam se a fazenda foi comprada com dinheiro adquirido com extorsões a moradores de comunidades. Os investigadores já descobriram que a quadrilha cobra R$ 1 mil por semana de motoristas de vans que circulam no bairro de Bangu, na Zona Oeste do Rio.
Em uma ação de busca e apreensão, os policiais apreenderam anotações numa cooperativa de vans de Bangu. Na documentação, há a comprovação de que o pagamento do aluguel de um apartamento no condomínio Ocean Front, na Barra da Tijuca, era feito pela cooperativa. Para os policiais, isso indica influência de Marquinho no transporte.
NA PRAÇA SECA – Em 24 de fevereiro deste ano, policiais da Delegacia de Atendimento à Mulher (Deam) de Niterói prenderam Horácio Souza Carvalho, apontado como um dos chefes da milícia da Praça Seca, na Zona Oeste do Rio. A região ganhou a atenção de autoridades da Segurança Pública do RJ porque, desde dezembro, vem sendo alvo de disputa entre milicianos diariamente.
De acordo com investigações da Draco, a milícia local “rachou” levando a confrontos quase que diários. Segundo policiais que prenderam Horácio, no momento da prisão, ele ofereceu dinheiro para ser libertado. Preso por formação de quadrilha, corrupção ativa e organização criminosa, o criminoso foi encontrado em um apartamento na Barra da Tijuca.
As joias que usava foram apreendidas e encaminhadas ao Instituto de Criminalística Carlos Éboli (ICCE). Uma perícia preliminar avaliou o cordão de ouro que Horácio usava em R$ 40 mil. Cada anel que ele usava custa R$ 8 mil cada um.
EM SANTA CRUZ – Há um ano, policiais da Draco prenderam Cleber de Oliveira Silva, chamado de Clebinho, que pertenceria a uma milícia instalada em Santa Cruz. O criminoso estava em um apartamento na Avenida Lúcio Costa, na Barra da Tijuca.
Na garagem, os policiais encontraram um Camaro, avaliado em R$ 150 mil. Ao revistarem o veículo, os investigadores encontraram uma mala com R$ 180 mil em dinheiro. Foi apreendida também uma Hilux na operação – em favor do Estado do RJ.
As investigações apontam que Clebinho usou um “laranja” para adquirir o veículo. Em sua defesa, ele alega ser dono de um posto de gasolina, mas a polícia descobriu que o local não está no nome de Clebinho. Uma perícia do ICCE no apartamento encontrou ainda R$ 180 mil em joias.
EXPLORAÇÃO DE AREIA – Uma das maiores milícias do Rio investe na exploração de saibro. O empresário responsável pelo negócio é Luís Antônio da Silva Braga, irmão de Wellington da Silva Braga, o Ecko, procurado por chefiar a milícia com influência em Campo Grande, Paciência, Santa Cruz, Cosmos e Inhoaíba.
Ecko assumiu o grupo após a morte de outro irmão, Carlos da Silva Braga, o Carlinhos Três Pontes. De acordo com promotores do Ministério Público, Luiz Antonio é o sócio da Macla Extração e Comércio de Saibro. Luiz Antonio foi preso pela Draco em 2015 acompanhado por dois seguranças – um deles policial militar. O empresário acabou liberado no Plantão Judiciário.
Em depoimento no Ministério Público, um miliciano, preso em 2016, que não teve o nome divulgado, apontou a extração de areia e saibro como uma das atividades mais rentáveis do grupo, que seria proprietário de um depósito de gás e de uma loja de venda de baterias para carro.

21 de março de 2018
Felipe Grandin, Henrique Coelho, Marco Antônio Martins e Nicolás Satriano
G1 Rio de Janeiro

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