Nunca se viu nada igual. Desde os tempos dos três primeiros irmãos Marinho (Roberto, Rogério e Ricardo), que sucederam ao jornalista Irineu Marinho e construíram um dos maiores impérios de comunicação do mundo, a Organização Globo sempre se caracterizou pela cautela na linha editorial. Mas agora, sob direção dos três novos irmãos Marinho (Roberto Irineu, João Roberto e José Roberto, não necessariamente nessa ordem) , a antiga estratégia de apoiar qualquer governo foi abandonada, a partir de setembro de 2013, quando reconheceram que o pai, Roberto Marinho, tinha errado ao apoiar incondicionalmente o regime militar.
Naquela época, fase final do primeiro mandado de Dilma Rousseff, a economia já entrara em parafuso, surgiam os protestos nas ruas, o desemprego avançava, mas a Organização Globo e a grande mídia continuavam apoiando o governo petista.
ENCONTRO COM SENADORES – Em agosto de 2015, quando começou a ganhar corpo o movimento pelo impeachment de Dilma Rousseff, o empresário João Roberto Marinho tomou a iniciativa de se reunir com nove dos treze senadores do PT, para hipotecar solidariedade ao governo petista.
Mas não houve jeito, o apoio da Organização Globo e da grande mídia nada significou, porque Dilma e seu ministro Guido Mantega tinham caído na besteira de maquiar as contas públicas, a Lava Jato já estava nas ruas caçando políticos corruptos, o impeachment se tornara inevitável.
Com Dilma derrubada, o vice Michel Temer assumiu em maio de 2016, e a grande mídia manteve o apoio ao governo, vida que segue, como dizia nosso amigo João Saldanha.
GRAVAÇÃO NO SUBSOLO – A lua-de-mel da Organização Globo com Temer durou até 17 de maio deste ano, quando o colunista Lauro Jardim divulgou que o empresário Joesley Batista havia gravado uma conversa nada republicana com o chefe do governo, na calada da noite, fora da agenda presidencial e no subsolo do Palácio Jaburu. Dois dias depois, O Globo publicou um duríssimo editorial, exigindo a renúncia do presidente.
O presidente mandou o ministro Moreira Franco tentar um acordo com João Roberto Marinho, mas não houve conversa. De lá para cá, o bombardeio da Organização Globo é permanente. O Planalto então resolveu contra-atacar, usando os sites e blogues ligados ao PT, que passaram a ser municiados com informações sobre problemas tributários da Organização Globo.
Foi nesse embalo que surgiu a reportagem-bomba da TV Record, dando conta de que o ex-ministro Antonio Palocci iria denunciar que o governo do PT salvou a Globo da falência.
DÍVIDAS DA GLOBO – Os sites e blogues petistas fizeram um festival, não se fala em outra coisa na internet, inundada de matérias e notas contra a Organização Globo, que de repente passou a ser uma das maiores devedoras do BNDES. O jornal “O Dia” entrou nessa onda e na semana passada denunciou que o deputado Rodrigo Maia e a direção da Globo se uniram para derrubar Temer. O ex-prefeito Cesar Maia logo deu entrevista, para dizer que seu filho não está conspirando contra o presidente.
A matéria de O Dia, que atribuiu as informações ao Planalto, anunciou que Temer declarou guerra à Gobo e ordenou a execução das dívidas da emissora com a União, referentes a impostos e financiamentos no BNDES, um boato que há semanas circula na web.
A briga é boa e sem possibilidade de cessar-fogo. Enquanto não derrubar Temer, a Globo não interrompe o bombardeio, que só está sendo mantido também pela Veja. Os demais veículos já se acalmaram, até porque o governo federal é o maior anunciante, tem a chave do cofre, e a crise econômica não está para brincadeiras.
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P.S. – Nessa guerra midiática, o Planalto revela um amadorismo constrangedor. Deveria concentrar o foco nos pontos-fracos da Globo, que são muitos, a partir das negociatas com a CBF/Fifa e a retenção de impostos para se beneficiar do Refis, como outras grandes corporações também fazem, tipo JBS, Bradesco e até estatais. Mas espalhar que a Globo foi salva da falência e está pendurada no BNDES só pode ser Piada do Ano. Desde 2014, quando passou o pepino da NET para o bilionário mexicano Carlos Slims (Telmex, Embratel e Claro), a Globo não deve um níquel ao BNDES e em 2015 até comprou por R$ 54,7 milhões a participação que o banco estatal tinha na NET, pagando ágio de 30% acima da cotação das ações. Você sabia? (C.N.)
24 de julho de 2017
Carlos Newton
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