Ainda que muitos não olhem para os ataques aos templos cristãos e aos próprios cristãos que vem ocorrendo pelo mundo, este fato apresenta um dos grandes objetivos para muitos nos tempos atuais: a destruição da Igreja. Ocorre que esta situação não vem ocorrendo apenas com atentados terroristas, mas também sem o uso de nenhuma força física.
Houve um tempo em que as igrejas eram o grande ponto de referência nas cidades, pois além de ser a construção mais alta na localidade, tinham o toque do sino que lembrava a todos que Deus estava ali perto, chamando, cuidando de cada um. Este mesmo badalar era também uma forma de lembrar a todos que alguém estava rezando por eles e ao mesmo tempo convida-los a vir rezar também. O dobrar do sino era a voz do Bom Pastor chamando suas ovelhas, tanto que o poeta inglês John Donne escreveu: E por isso não perguntes por quem os sinos dobram; eles dobram por ti.
Hoje, com o passar do tempo, muitas igrejas já não são nem vistas, pois ficaram escondidas entre os grandes prédios, algo natural ao se ver a evolução da arquitetura e engenharia. O interessante é conseguir se fazer um paralelo entre este esconder (ainda que involuntário - ou não) os templos da vista de todos, com aqueles que tentam cada vez mais sumir o papel da religião na sociedade. A moda agora é assumir o discurso francês trazido por sua danosa revolução no sentido de que "religião é algo íntimo e pessoal, não deve influenciar a sociedade", em uma clara forma de restringir a religião a guetos, semelhante ao que os nazistas fizeram com os judeus.
Ainda, os mesmos sinos que muitas vezes já não são mais ouvidos diante de tanto barulho nas cidades, muitos tentam que sejam silenciados. Já aconteceu em Brasília, São Paulo, e tantas outras cidades no país e no mundo. Muitos não querem mais ouvir a voz do Bom Pastor chamando, ou até mesmo é uma forma de silenciar a Igreja, pois dizem que ela não se moderniza, não se adequa aos novos tempos, não muda seu discurso, não fala o que agrada aos ouvidos de uma sociedade cada vez mais egoísta, relativista e hedonista.
Esta é a Igreja sendo destruída por fora, seja com atentados terroristas ou atos menos explosivos e ao mesmo tempo impactantes. Os primeiros criam mártires, aqueles que morrem pela fé, os segundos vão minando a Igreja e até mesmo destruindo a fé de muitos.
Dentro de uma conceituação simples e rude, ter uma religião é crer na existência de um poder ou princípio superior, sobrenatural, do qual depende o destino do ser humano e ao qual se deve respeito e obediência. Religião é uma fé, uma devoção ao que é considerado sagrado, mas hoje muitos estão destruindo a Igreja Católica por dentro, deixando de lado o Sagrado.
A base do cristianismo é a ação de Deus junto ao homem, desde a sua criação até a sua morte, tanto em grupo quanto individualmente. A celebração da Missa traz todo o mistério desta obra divina, de Deus que se fez homem e veio resgatar a humanidade entregando-se à morte para a expiação dos pecados, para ao final mostrar seu poder na ressurreição. Revivemos em todas as Santas Missas o sacrifício de Deus por nós. Não é uma festa, não é apenas uma reunião para rezarmos juntos, é muito mais que isso. Ver tantos tratarem a celebração eucarística como algo banal, é a prova de que o Sagrado foi deixado de lado.
Quando vemos a CNBB defendendo usar as Missas para discurso político, se vê que o caminho que muitos pastores preferiram trilhar, esquecendo o que é importante na celebração. Quando se vê vários sacerdotes que tratam a liturgia como descartável, vemos o caminho que muitos resolveram trilhar, talvez com o incentivo de seus bispos. Quando observamos leigos fazendo o que querem nas paróquias ou capelas, com a autorização ou omissão dos párocos, pode-se chegar à conclusão de que temos um barco sem comando.
Papa Francisco |
Papa Francisco insiste que a Igreja não é e nem pode se tornar uma ONG, mas parece que muita gente está fazendo uma força contrária. Há uma forte religiosidade, mas não uma vivência religiosa, uma verdadeira crença no intangível e no Sagrado. A forma mais simples de se constatar isso é a forma como muitos vão comungar.
Não faço considerações sobre a pessoa ter confessado e etc., isso entre ela e Deus, no entanto, tantas pessoas entram nas filas para a comunhão como se estivessem na fila da padaria, recebe a Eucaristia nas mãos como se tivesse pegando o pão no balcão da padaria e só coloca na boca depois de virar as costas ao sacerdote ou ao Ministro (que deveria ser) Extraordinário (mas é cada vez mais ordinário) da Comunhão Eucarística. Cadê o zelo ao Sagrado? Cadê a veneração ao Cristo que verdadeiramente se faz presente na Eucaristia? (Recomendo a leitura deste meu texto - O esvaziamento da Igreja Católica)
Outro equívoco que vejo são os sacerdotes que acreditam que a assembleia que assiste a Missa sabe o que ali acontece e conhece os mistérios das celebrações. Um exemplo prático: durante as celebrações do Tríduo Pascal, pergunte-se aos que se fizerem presentes o que realmente acontece ali. Quantos saberão explicar o mistério de amor de Cristo ao dar vida? Aliás, por que ele teve que dar a vida? Por que ele é chamado de Cordeiro de Deus? Por que quando Cristo morreu o véu do templo rasgou-se de cima a baixo? A princípio são coisas que todos deveriam aprender na catequese ... a principio, mas aprenderam? Se ouviram nas aulas, entenderam?
Não se pode ficar na impressão de que as pessoas saibam, tem que se falar, e repetir, repetir, repetir, ..., até que saibam, entendam e vivam estes mistérios. Infelizmente muitos sacerdotes não falam, nem mesmo nas catequeses muitos não falam, e se espera que as pessoas saibam. Como se formar um povo santo se ele não conhece os principais mistérios divinos?
Nem vou falar de lixos como a teologia da libertação, que só gerou danos à Igreja, hoje me preocupo mais com a formação de fé que tem se dado.
Nós católicos não podemos mais nos omitir e pressupor que as pessoas saibam, temos que anunciar antes de tudo o querigma (o cerne da fé cristã) e depois disso formar o povo. Na Exortação Apostólica Evangelii Gaudium, temos isso bem claro:
165. Não se deve pensar que, na catequese, o querigma é deixado de lado em favor duma formação supostamente mais «sólida». Nada há de mais sólido, mais profundo, mais seguro, mais consistente e mais sábio que esse anúncio. Toda a formação cristã é, primariamente, o aprofundamento do querigma que se vai, cada vez mais e melhor, fazendo carne, que nunca deixa de iluminar a tarefa catequética, e permite compreender adequadamente o sentido de qualquer tema que se desenvolve na catequese. É o anúncio que dá resposta ao anseio de infinito que existe em todo o coração humano.
Precisamos resgatar a nossa missão como católicos. A Igreja precisa de renovação, e não é na doutrina ou tradição, mas no povo e em especial nos que tem a obrigação de conduzi-lo: o clero. Eu me preocupo com esses sacerdotes ruins e fracos, porque temos o risco de se tornarem bispos, depois cardeais, depois Papas. Precisamos trabalhar para diminuir cada vez mais este risco, ajudando a formar um povo novo.
Alguns anos atrás tínhamos menos gente com a visão correta e menos sacerdotes piedosos e fiéis à Igreja, o que mudou um pouco com o trabalho que alguns resolveram fazer. Precisamos de mais gente empenhada nesta missão, de mais gente pensando antes de tudo no resgate de sua fé para depois auxiliar os demais, senão poderemos ter cegos guiando cegos.
Papa Bento XVI |
Papa emérito Bento XVI, em entrevista ao Jornal Avvenire, explica bem o crise que sofremos:
Se é verdade que os grandes missionários do século XVI ainda estavam convencidos de que aqueles que não eram batizados estavam perdidos para sempre, e isso explica o seu empenho missionário, na Igreja Católica depois do Concílio Vaticano II, tal convicção foi definitivamente abandonada. Disso derivou uma dupla e profunda crise. Por um lado, isso parece remover toda motivação a um futuro empenho missionário. Por que se deveria tentar convencer as pessoas a aceitarem a fé cristã quando elas podem se salvar mesmo sem ela? Mas para os cristãos também emergiu uma questão: tornou-se incerta e problemática a obrigatoriedade da fé e da sua forma de vida.
Não podemos deixar esta crise crescer, algo tem que se mudado imediatamente. Que comece por mim e por você, crescendo na fé, vivendo na fé e testemunhando a fé.
24 de julho de 2017
André Brandalise
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