"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quarta-feira, 15 de março de 2017

SÓ A RUA SALVA DA PIZZA A OPERAÇÃO LAVA JATO


SAO PAULO, SP, BRASIL, 20-11-2016, 17h00: Movimento Vem Pra Rua faz manifestacao na avenida Paulista, perto do Masp, para ato em apoio ao projeto 10 medidas contra a corrupcao e a Operacao Lava Jato. (Foto: Eduardo Anizelli/Folhapress, PODER)
Sem novos protestos, a grande pizza logo sai do forno
No seu depoimento ao juiz Sergio Moro, Emílio Odebrecht soltou uma palavra que reflete a ansiedade da oligarquia nacional diante da Lava Jato. 
Discutia-se a identidade do “Italiano” das planilhas de capilés do empreiteiro e ele esclareceu que o apelido é muito comum, mas era possível que se referisse também ao “nosso Palocci”. 
O uso do “nosso” não indica propriedade, mas apenas familiaridade.
É enorme a admiração de Odebrecht pelo doutor Antonio, ex-ministro da Fazenda de Lula e da Casa Civil de Dilma Rousseff. Em poucos minutos doou-lhe nove adjetivos, entre eles “inteligente”, “bem informado”, “homem de visão de estadista”.
FORMARAM UM CORO – A lista da Procuradoria-Geral da República contém os beneficiários de capilés da “nossa” Odebrecht. Empresários de todos os calibres, políticos de todos os grandes partidos, os três ex-presidentes vivos e pelo menos dois ministros do Supremo Tribunal Federal formaram um coro destinado a embaralhar a discussão dos capilés. 
Caixa dois seria uma coisa, propina seria outra, dinheiro embolsado seria uma coisa, dinheiro gasto na campanha, bem outra. Jurisconsulto de renome, o doutor Gilmar Mendes fica devendo uma tabelinha capaz de diferenciar urubu de carcará.
A principal estridência desse coro ocorre quando se vê que se planeja uma anistia para delinquentes que se recusam a confessar. Todos operam no caixa dois, diz o coro, mas eu nunca operei, responde cada um dos cantores.
A Lava Jato foi na jugular da oligarquia politica e de boa parte da oligarquia empresarial do país. (Está na memória nacional o pato amarelo que ficava diante da Fiesp, do “nosso” Paulo Skaf, mencionado em colaborações da Odebrecht como receptáculo de R$ 6 milhões.) 
Ferida, essa oligarquia joga com o tempo, com as peças de Brasília e com o cansaço da choldra. Afinal, um dia a Lava Jato haverá de ser um assunto chato, se já não é.
ESTÁ NO FORNO – 
A grande pizza começa a ser assada fabricando-se um tipo de anistia parlamentar e/ou judiciária para o caixa dois. Em seguida as propinas virarão caixa dois e estamos conversados.
Mas isso não pode ser tudo. Se o caixa dois é uma anomalia da contabilidade das campanhas eleitorais, deve-se criar um novo modelo. Qual? O do financiamento público.
Como dizia Renato Aragão, você da poltrona que já paga impostos para receber (se receber) obras superfaturadas pagará as campanhas eleitorais dos candidatos que mordem as empresas para botar ou tirar jabutis de Medidas Provisórias.
VOTO DA LISTA – Parece maluquice, mas já desengavetaram um corolário do financiamento público: o voto de lista. Assim, o sujeito paga pela obra superfaturada, financia a campanha dos candidatos e ainda perde o direito de votar em quem quer. (Pelo sistema atual o sujeito votava em Delfim Netto e elegia Michel Temer, mas indiscutivelmente votara em Delfim, não em Temer.)
Junte-se a isso que nenhum dos listados pela Procuradoria Geral irá a julgamento em menos de quatro anos.
Só a rua pode evitar que assem a pizza. Não é coisa fácil, pois uma parte da turma do “Fora Temer” tem o pé esquerdo na “nossa” Odebrecht e parte do coro do “Fica Temer”, tem o pé direito. Sem a rua, a oligarquia unida jamais será vencida. 
Ela fez esse milagre no século 19 e o Brasil foi o último país independente das Américas a acabar com a escravidão.

15 de março de 2017
Elio Gaspari
Folha/O Globo

NOTA AO PÉ DO TEXTO

Se a sobrevivência da Lava Jato depender das ruas, o que me parece a grande utopia planejada para acabar com a Lava Jato, pois não existe organização social suficientemente forte para impor silêncio e ordem a um Congresso que sempre esteve de costas para a nação, cuidando apenas dos próprios interesses, ficaremos parados no porto da esperança, aguardando a chegada de um novo D. Pedro com seu intestino frouxo à beira do Ipiranga.
Por princípio temos uma democracia de fachada. Falar em Democracia é uma grande piada... Assistimos alguns espetáculos em que a Constituição, tão ciosamente exaltada nos discursos de palanque, foi deixada à margem por decisões autoritárias e monocráticas, sem qualquer pudor.
E o que assistimos, com a conivência veemente dos investigados na Lava Jato é a descarada pressão para jogá-la no esquecimento, como algo que está atrapalhando a "democracia" tão zelosamente cultivada pelas oligarquias políticas e empresariais.
Começo a desconfiar que há uma nova definição de 'democracia' que ainda não é do meu conhecimento...
m.americo

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