A indicação do novo ministro da Justiça foi mais um capítulo da disputa novelesca que agita os bastidores do Planalto, entre os grupos do presidente Michel Temer e do ministro Eliseu Padilha, da Casa Civil.
Até recentemente, eram mantidas as aparências, com intrigas e tramas ocorrendo na surdina. Mas começaram a vir à tona em setembro, quando ocorreu o episódio do desentendimento de Padilha com o então ministro Fábio Medina Osório, da Advocacia-Geral da União, considerado o maior especialista do país em leis anticorrupção.
Até recentemente, eram mantidas as aparências, com intrigas e tramas ocorrendo na surdina. Mas começaram a vir à tona em setembro, quando ocorreu o episódio do desentendimento de Padilha com o então ministro Fábio Medina Osório, da Advocacia-Geral da União, considerado o maior especialista do país em leis anticorrupção.
Medina Osório tinha ido pessoalmente à Curitiba para manifestar apoio à força-tarefa da Lava Jato, Padilha então se enfureceu e mandou a Assessoria de Imprensa do Planalto montar uma campanha difamatória contra o chefe da AGU. A situação foi se complicando, até que no dia 8 de setembro houve uma discussão pesada no Palácio do Planalto entre Medina Osório e Padilha, que lhe ordenou que apoiasse a Lava. A recusa foi imediata, e o ministro da Casa Civil, como se fosse presidente da República, então anunciou que o chefe da AGU estava demitido.
DESGASTE DA RELAÇÃO – Temer só ligou para Medina Osório no dia seguinte, para confirmar a demissão. Mas é claro que não aceitou essa usurpação de seus poderes, e assim começou o desgaste de sua relação com Padilha, que continuou agindo como se fosse primeiro-ministro de regime presidencialista, criando casos com importantes integrantes do governo, como Henrique Meirelles (Fazenda) e José Serra (Relações Exteriores), que sempre o desprezaram solenemente.
Ainda em setembro, Temer deu a primeira estocada em Padilha, ao nomear à revelia dele o tucano Alexandre Parola como secretário de Comunicação Social e porta-voz do governo. Mas não adiantou, Padilha deu risada. Na prática, a Assessoria de Imprensa seguia comandada pela Casa Civil, e Padilha habilmente esvaziou o porta-voz, hoje uma figura decorativa no governo.
JUNTO COM MOREIRA – O clima no Planalto visivelmente se deteriorou, aos poucos o presidente passou a ser acompanhado por Moreira Franco nos compromissos políticos. Ao mesmo tempo, a imagem de Padilha começou a sofrer forte desgaste, devido a sucessivas matérias publicadas pela grande mídia sobre crimes ambientais e diversas atividades irregulares do chefe da Casa Civil.
Em novembro, a demissão de Geddel Vieira (Secretaria do Governo) enfraqueceu Padilha ainda mais. Vieram Natal e Ano Novo, nada mudou no front de Brasília. Até que, no último dia 3, Temer deu uma nova estocada, ao nomear o tucano Antonio Imbassahy para o lugar de Geddel e ao recriar a Secretaria-Geral, dando status de ministro a Moreira Franco, que passou a comandar no Planalto a Comunicação Social (incluindo a estratégica Assessoria de Imprensa), o Cerimonial e a Administração da Presidência, que até então estavam subordinadas à Casa Civil.
ENFIM, O REVIDE – Padilha não passou recibo, engoliu calado a redução de poderes e só veio a revidar na semana passada, quando mandou a Assessoria de Imprensa plantar notícias de que seu assessor Gustavo do Vale Rocha (subchefe de Assuntos Jurídicos da Casa Civil) estava cotado para o Ministério da Justiça.
Foi uma enxurrada de matérias inventadas pelo assessor de imprensa Márcio de Freitas Gomes, que só faz o que Padilha manda e continua sem dar a menor satisfação a Moreira Franco.
Foi uma enxurrada de matérias inventadas pelo assessor de imprensa Márcio de Freitas Gomes, que só faz o que Padilha manda e continua sem dar a menor satisfação a Moreira Franco.
A coisa chegou a tal ponto que nesta quinta-feira, poucas horas antes de ser anunciada a nomeação de Osmar Serraglio, a Folha ainda publicava com destaque uma notícia sob o seguinte título: “Chefes dos Ministérios Públicos estaduais apoiam assessor de Temer para a Justiça”.
MENTIRA DUPLA – A informação passada pelo Planalto à Folha era duplamente mentirosa: 1) Gustavo Rocha nunca foi assessor de Temer, sempre trabalhou (e trabalha) para Padilha; 2) Jamais recebeu nem receberia apoio dos chefes dos Ministérios Públicos estaduais, e apenas Leonardo Bessa, do DF, que é amigo pessoal dele, manifestou-se a seu favor.
Por fim, ao convidar Osmar Serraglio, de quem é amigo pessoal há cerca de 30 anos, Temer lhe pediu que se mantivesse neutro em relação à Lava Jato. Ou seja, sem manifestar apoio entusiástico nem fazer críticas acerbas. Serraglio topou, até porque essa postura coincide com seu perfil político, que é moderado em todos os sentidos.
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PS – Se o clima no Planalto está mesmo sinistro, então por que Temer não demite logo Padilha? Bem, a história é longa. Começou quando o PMDB perdeu Marcos Freire, Ulysses Guimarães, Severo Gomes, Freitas Nobre e outros grandes políticos. O então deputado Michel Temer assumiu a presidência e o partido foi dominado pelos mais corruptos de seus parlamentares – Renan, Jucá, Sarney, Barbalho, Lobão, Henrique Alves e Geddel, que depois foram recebendo a adesão de Cunha, Raupp, Eunício, Cabral e outros personagens que se aliaram ao PT, ao PP e a outros partidos para formar a maior quadrilha que já infestou a política brasileira.
PS – Se o clima no Planalto está mesmo sinistro, então por que Temer não demite logo Padilha? Bem, a história é longa. Começou quando o PMDB perdeu Marcos Freire, Ulysses Guimarães, Severo Gomes, Freitas Nobre e outros grandes políticos. O então deputado Michel Temer assumiu a presidência e o partido foi dominado pelos mais corruptos de seus parlamentares – Renan, Jucá, Sarney, Barbalho, Lobão, Henrique Alves e Geddel, que depois foram recebendo a adesão de Cunha, Raupp, Eunício, Cabral e outros personagens que se aliaram ao PT, ao PP e a outros partidos para formar a maior quadrilha que já infestou a política brasileira.
É por isso que Temer não pode demitir Padilha, assim como não demitiu Jucá, Henrique Alves e Geddel, pois todos eles lhe fizeram a gentileza de pedir exoneração. E assim la nave va, sempre à deriva, como diz o comandante do Exército, o outrora discreto general Eduardo Villas Bôas. (C.N.)
24 de fevereiro de 2017
Carlos Newton
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