Na semana passada, o senador Romero Jucá apresentou uma proposta ousada. Ele queria mudar a Constituição para impedir que os presidentes da Câmara e do Senado sejam alvo de investigações. Os ocupantes dos dois cargos atendem pelos apelidos de “Botafogo” e “Índio” na lista da Odebrecht. Se o texto fosse aprovado, eles poderiam tatuar o nome da empreiteira na nuca com a certeza de que jamais seriam incomodados pela polícia.
Para azar da dupla, a manobra veio à tona antes da hora e teve que ser abortada. O Congresso escapou de mais um vexame, mas Jucá não se convenceu de que a ideia era imprópria. Nesta segunda (20), ele subiu à tribuna para reclamar do episódio.
“Parece que estamos vivendo o período da Inquisição. Alguém gritava ‘ele é um bruxo’, e em uma semana estava na fogueira”, protestou.
Os senadores não pareceram sintonizados com a Idade Média, e Jucá improvisou um salto na história. “Estamos vivendo a Revolução Francesa. Um ‘J’accuse’ levava as pessoas sumariamente para um tribunal do povo e para a guilhotina”, discursou.
LEMBRANDO O NAZISMO – A lembrança de Robespierre não foi capaz de comover o plenário, e o senador arriscou uma última comparação: “Estamos vivendo a época do nazismo. Diz-se que um político é judeu. Então a Gestapo, o grupo de extermínio, toma conta dele”.
Como candidato a historiador, Jucá é um grande presidente do PMDB. Se ele estiver mesmo interessado no ofício, poderia começar com um tema mais contemporâneo: seu famoso diálogo com Sérgio Machado.
O líder do governo Temer poderia esclarecer, por exemplo, por que defendeu o impeachment como a única saída para “estancar a sangria”. Ele também teria a chance de explicar como funcionaria um acordo nacional “com o Supremo, com tudo”.
Na tribuna, o senador preferiu deixar essa aula para depois. “Nós só vamos comentar isso no processo. Não vou comentar aqui, porque investigação se faz nos autos”, desconversou.
24 de fevereiro de 2017
Bernardo Mello Franco
Folha
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