Os últimos acontecimentos da tragicomédia política brasileira culminaram no pedido de exoneração de um ministro e na demissão de outro ministro, ambos do Poder Executivo. O titular da Secretária de Governo (ou Articulação Política), Geddel Vieira Lima, saiu por ter pressionado o ministro da Cultura, em favor de interesses particulares relativos a um empreendimento imobiliário em área de preservação cultural na cidade de Salvador. Marcelo Calero, do Ministério da Cultura, pediu demissão, incomodado com a pressão intensa para liberar a obra e afastar do cargo a presidente do Instituto do Patrimônio Histórico Nacional. O fato aumentou a pressão sobre a crise econômica, moral e ética que acomete o país.
Fica claro agora o motivo da fritura do ex-ministro Medina Osório, da Advocacia-Geral da União. Ao contrário de Calero, Medina não saiu atirando para todos os lados. Deu apenas uma explosiva entrevista à Veja, denunciando a Operação Abafa, e ficou recolhido. Por ter mais experiência, o advogado sabe que o mundo dá muitas voltas e que o silêncio lhe garantiria um reconhecimento público mais à frente.
O ex-ministro da Cultura também prestou um serviço a sociedade. Deve ser preservado pelo Poder Judiciário, pois enfrentou o sistema e poderá sofrer represálias. Até os falcões do PSDB criticaram Calero, principalmente Aécio Neves, que perdeu o bonde para ser presidente da República ao ser derrotado por Dilma. Se perdeu para Dilma, como conseguirá vencer um candidato mais forte?
SEM INTERVENÇÃO – Discordando dos brasileiros que acham que uma intervenção armada poria fim na corrupção, entendo que nenhum movimento fora da Constituição teria o condão de resolver os mais graves problemas brasileiros. Já sabemos o que dá, pela experiência do governo Vargas e dos governos pós – 64: um regime de exceção. A primeira perda é a liberdade de ir e vir e a segunda é a liberdade de imprensa.
Uma vez instalados os militares no Poder, não saberemos mais nada de tudo. Voltariam os censores nas redações, nos teatros, nas produtoras de cinema e nas gravadoras, até as músicas seriam novamente censuradas, e depois que as tropas voltarem aos quartéis, os corruptos voltariam triunfalmente. Não, mil vezes não. Nunca tivemos tanta liberdade para escrever e criticar nossos representantes como agora. Acreditar em quebra do processo eleitoral e democrático é dar um cheque em branco ao imponderável.
Nós vamos sair dessa crise de corrupção generalizada. As bases para impedir a continuidade da roubalheira foram dadas pelo Mensalão e pela Lava Jato. Será muito difícil parar esse processo de saneamento da vida pública. Acredito piamente que o Brasil está mudando e mudará muito mais. É inexorável.
NOVA UTOPIA – Os brasileiros precisam de uma nova utopia para viver. Pois a ideologia da corrupção generalizada, o toma lá dá cá, o interesse privado antes do interesse público, tudo isso virou regra no andar de cima e no andar de baixo do estrato social.
O andar de cima extrapolou na gatunagem do erário público. Criou-se a ideologia do enriquecimento ilícito e a lavagem do dinheiro roubado aqui e levado para paraísos fiscais e que agora está retornando, pois até os suíços estão entregando os ladrões.
E não se diga que são comunistas os ladrões, pois o comunismo não viceja aqui por essas bandas quentes. Outra coisa: dizer que Lula e os petistas são de esquerda é a maior piada do planeta.
28 de novembro de 2016
Roberto Nascimento
Nenhum comentário:
Postar um comentário