A declaração pública do presidente Michel Temer, ao lado dos presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ) e do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), mostra que o chamado caso Geddel foi um duro golpe na Operação Abafa, montada pelos caciques do PMDB e dos demais partidos da base aliada para inviabilizar a Lava Jato. Desta vez, Temer deixou patente a decisão de não “patrocinar” qualquer movimento em favor da aprovação de emenda de anistia a crimes relacionados a doação eleitoral.
“FALHA DE COMUNICAÇÃO – O mais interessante foi Rodrigo Maia dizer que há uma falha de comunicação no tema sobre a anistia aos crimes eleitorais. “Começamos a discutir algo que não existe. Então, acho que a reunião de hoje é importante para esclarecer que essa emenda de anistia nunca existiu. Nenhum representante partidário assinou essa emenda, então ela não existe. Não estamos votando as dez medidas (de combate à corrupção) para anistiar nenhum crime”, afirmou Maia, ao tentar justificar o injustificável.
A propósito dessa argumentação, comentamos aqui na Tribuna da Internet que Maia precisa explicar melhor o que significa “falha de comunicação”, porque o que está parecendo que aconteceu foi “falha da conspiração”.
AINDA EM CURSO – Seria muita ingenuidade achar que a Operação Abafa está sepultada. Na verdade, esse movimento suprapartidário continua em curso e o próprio Temer aventou a possibilidade de a anistia ao caixa 2 ser aprovada e ele ter de vetá-la.
Além disso, há o projeto ressuscitado por Renan Calheiros para coibir abusos de autoridades, cujo objetivo é emparedar o Ministério Público, a Polícia Federal e a Receita Federal, que atuam em conjunto no combate à corrupção político-administrativa.
E também está em pauta a articulação para mudar os acordos de leniência previstos pela Lei de Improbidade Administrativa. A meta inicial da reforma era punir os empresários, mas preservar as empresas, em nome do interesse dos trabalhadores, mas o líder do Governo, deputado André Moura (PSC-SE), resolveu ampliar as benesses, estendendo a isenção de culpa aos próprios empresários que conduziram os esquemas de corrupção.
NENHUMA PALAVRA – Na declaração conjunta deste domingo, nenhuma palavra sobre os projetos do abuso de autoridade e da leniência das empresas. Pode ser que essas duas propostas indecentes também venham a ser sepultadas na mesma cova rasa da anistia ao caixa 2 e outros crimes, é isso que a opinião pública espera, mas todo cuidado é pouco, porque a Operação Abafa vem sendo desenvolvida desde o governo anterior.
Dilma Rousseff também fez o possível e o impossível para inviabilizar a Lava Jato, chegando até a nomear um ministro (Navarro Dantas) para o Superior Tribunal de Justiça, com a incumbência de libertar Marcelo Odebrecht e os demais empreiteiros, mas o plano “vazou” e os demais ministros derrotaram Navarro Dantas por unanimidade, mantendo a prisão dos empresários.
Foi aberto inquérito no Supremo contra a ex-presidente Dilma, o ex-presidente do STJ Francisco Falcão e o próprio Navarro Dantas, mas todos sabem como as coisas andam no Supremo. O relator da Lava Jato, ministro Teori Zavascki, tem mais de 7 mil questões (inquéritos e processos) para tocar. Parece brincadeira, mas é verdade. Com diz Gilberto Gil, na versão do reggae clássico de Bob Marley, é melhor deixar pra lá…
28 de novembro de 2016
Carlos Newton
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