Em 1960 duas imagens ocupavam a imaginação da juventude, claro que aquela com acesso às informações e açodadamente disposta a aceitar as parcelas pelo todo. Não havia uma universidade que não promovesse debates e manifestações em favor da revolução cubana, que desde 1959 registrava a onda reformista capaz de alastrar-se pelo planeta inteiro. Em especial na América Latina e na Europa, respirava-se a iminência de mudanças fundamentais na política e na economia.
Em paralelo, vinham das estepes russas, através de profundas alterações nos meios de comunicação, com ênfase para a propaganda, sinais de que a Humanidade caminhava para o socialismo. Primeiro o sputnik, depois a viagem de Iuri Gagárin ao redor do mundo, a cadelinha Laika e, mais tarde, a explosão dos jovens, de Paris para os demais quadrantes.
Exemplos redobrados de sucesso inevitável na construção de um mundo novo eram Nikita Kruschev, Mao Tse-tung, João XXIII, John Kennedy, De Gaulle, Fidel Castro, Che Guevara e, entre nós, Jânio Quadros.
Imaginávamos uma realidade composta de diferentes matizes, até conflitantes, mas todos exprimindo o anseio irresistível de mudanças estruturais. Valia à pena viver naquele limiar de conquistas que breve estaríamos gerindo e aprimorando.
O tempo passou e com ele a inevitável lei da física, de que a cada ação corresponde uma reação igual e em sentido contrário. O mundo é esse aí, mesmo, entregue à miséria, a fome e à desilusão. O dia seguinte sempre consegue ficar um pouquinho pior do que a véspera.
Essas supérfluas e incompletas considerações nos fazem não perder a esperança de uma reviravolta. Quem sabe a demissão de Geddel Vieira Lima venha a marcar a passagem do abominável para o admirável?
28 de novembro de 2016
Carlos Chagas
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