"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

segunda-feira, 28 de novembro de 2016

ALELUIA, IRMÃO! ENFIM APARECE UMA CITAÇÃO DE MARX À DITADURA DO PROLETARIADO



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Ao contrário de Marx, Lenin era adepto da violência política













Numa edição de “Marx, Vida e Obra”, o escritor Leandro Konder discorre sobre a Ditadura do Proletariado e cita Joseph Weidemeyer, amigo de Marx, que recebera uma carta deste e na qual, sem dúvidas, é explicitada, pelo próprio Marx, a Ditadura do Proletariado. Pesquisei na Internet e envio, abaixo, o trecho em questão, retirado do site marxists.org.
Londres, 5 de Março de 1852
[…] No que me diz respeito, não me cabe o mérito de ter descoberto nem a existência das classes na sociedade moderna nem a sua luta entre si. Muito antes de mim, historiadores burgueses tinham exposto o desenvolvimento histórico desta luta das classes, e economistas burgueses a anatomia econômica das mesmas. O que de novo eu fiz, foi: 1) demonstrar que a existência das classes está apenas ligada a determinadas fases de desenvolvimento histórico da produção; 2) que a luta das classes conduz necessariamente à ditadura do proletariado; 3) que esta mesma ditadura só constitui a transição para a superação de todas as classes e para uma sociedade sem classes. […]
No entanto, Newton, essa questão é de extrema importância, pois, exatamente por ela, abre-se uma porta para interpretarmos que o comunismo de Marx nada tinha de antidemocrático. Basta que se estude, sobre isso, a divergência entre Marx e o francês Louis Auguste Blanqui. Este pregava, abertamente, a violência como questão fundamental na resolução dos problemas sociais. Por isso, criticou a Comuna de Paris por ter sido “excessivamente democrática”. Marx e Engels acharam corretos os aspectos democráticos da Comuna e viram neles elementos positivos da Ditadura do Proletariado, segundo Leandro Konder. (“Marx, Vida e Obra”, 5º edição, pg. 166).
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UMA VISÃO LIBERAL DE MARX
Carlos Newton
Agradeço ao Carlos Cazé o oportuno envio desta correspondência de Marx a Weidemeyer, que eu desconhecia e que confirma a realidade que descrevemos aqui no artigo deste domingo, pois na extensa obra de Marx e Engels, não há uma só citação à Ditadura do Proletariado. No minucioso Dicionário do Pensamento Marxista, de Tom Bottomore, sequer existe o verbete “Ditadura do Proletariado”, expressão que é citada “en passant” na polêmica com Blanqui. Vamos conferir o que Bottomore escreveu:
Marx não definiu o que entendia por “Ditadura do Proletariado”, embora seja um conceito fundamental do seu pensamento político, por ser vista como momento intermediário necessário para se chegar a uma sociedade sem classes.
No texto “A Guerra Civil na França”, sobre a Comuna de Paris, é que Marx elabora um pouco mais esse conceito. O aspecto mais significativo da Comuna era que, ao contrário de todas as revoluções anteriores, ela começou a desmontar o aparelho estatal e a dar poder ao povo. A Comuna assumiu iniciativas que eram do Estado e abriu mão de outras, como quando ela extingue a polícia e substitui o exército pelo povo armado. Assim a Comuna devolveria ao corpo social todas as forças absorvidas pelo Estado.
Logo, a ditadura do proletariado, para Marx, deveria ser liberal, uma forma de governo com a classe operária realmente governando, abrindo mão de muitas tarefas executadas pelo Estado, também um regime em que o proletariado exerceria a hegemonia até então exercida pela burguesia.
Essa visão da ditadura como sendo tanto uma forma de governo como de regime foi retomada em “O Estado e a Revolução’, de Lenin. Essa obra, porém, em vez de trabalhar com o conceito “Ditadura do Proletariado”, utiliza “Ditadura do Proletariado Sob a Direção do Partido”, conceito que prevaleceu na União Soviética. No livro “A Revolução Proletária e o Renegado Kautsky”, a defesa que Lenin faz do uso da violência contra a burguesia para conquistar e manter a ditadura revolucionária constrangeu dirigentes dos partidos comunistas em países capitalistas, o que fez com que muitos retirassem oficialmente “a ditadura do proletariado” de seus programas.
MARX DEMOCRÁTICO – Portanto, reafirmo o que escrevi, pois  o próprio Cazé veio agora ratificar minha colocação, ao afirmar que “essa questão é de extrema importância, pois, exatamente por ela, abre-se uma porta para interpretarmos que o comunismo de Marx nada tinha de antidemocrático”.
Essa é justamente a tese que proponho e precisa ser debatida, porque equivocadamente Marx e Engels passaram a ser vistos como defensores da violência política das ditaduras que se declararam comunistas. Não se pode aceitar que dois pensadores de tal nível fossem adeptos da violência, tese infelizmente defendida com clareza por Lenin, em seu livro “O Estado e a Revolução”, publicado em 1917, muito depois da morte de Marx e Engels.
O comunismo é uma utopia, é claro. Mas ser utópico faz bem à alma. Fico chocado com o desconhecimento que existe sobre a importância do trabalho de Marx e Engels, tratados como se fossem dois sanguinários homicidas. Espero que nosso amigo Carlos Cazé volte a tratar do tema.

28 de novembro de 2016
Carlos Cazé

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