Ao afirmar que atendia a apelos de seus apoiadores, o deputado Eduardo Cunha enfim anunciou sua renúncia a presidência da Câmara Federal. Ele renunciou na realidade a uma posição que já lhe escapara das mãos por decisão unânime do Supremo Tribunal Federal. Sua situação era insustentável ao extremo, sobretudo depois do conselho que recebeu do presidente Michel Temer, há duas semanas, para que abrisse mão do comando daquela Casa do Congresso. E não foi só este o fato dominante. Na quarta-feira as manchetes principais de O Globo e de O Estado de São Paulão já eram arrasadores para ele.
A primeira referia-se a propinas articuladas na Caixa Econômica Federal. A segunda, à manifestação de Petrobrás acusando-o diretamente de ter enriquecido com a corrupção praticada e, com isso, ter causado uma sangria nos cofres da empresa.
O poderoso chefão que tudo controla, aliás controlava, é o título de reportagem de Vinicius Sassine no Globo. No Estado de São Paulo a reportagem é de Gustavo Aguiar.
SEM ALTERNATIVA – Eduardo Cunha não tinha outra saída. Na verdade a primeira, porque existe a segund,a que é a encruzilhada em que se encontra em consequência de a Corte Suprema tê-lo suspendido do mandato parlamentar por tempo indeterminado. Todo esse quadro representa a inutilidade da manobra que idealizou, através da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara, para adiar a cassação de seu mandato.
Em primeiro lugar, o voto do relator terá que ser apreciado pelos membros da CCJ, e depois em votação em plenário da Casa. O adiamento não o ajudará em nada. Ele não escapará de si próprio e do cerco que em decorrência do seu protagonismo se estabeleceu em torno dele. Qual será o reflexo da sua renúncia formal à presidência da Câmara? A meu ver, nenhum.
DESGASTA PROGRESSIVO – O seu enfraquecimento já estava desenhado desde as decisões do STF e agravado pelo comportamento escapista que pretendia transformar em fuga, através de um projeto que não deu certo, nem poderia dar.
Ele, Eduardo Cunha, já é réu em dois processos no STF e ainda possivelmente o Procurador Geral da República, Rodrigo Janot, ainda não encerrou a série de denúncias que vêm se dividindo em capítulos contra o deputado do PMDB-RJ. Pois agora as ondas subiram ainda mais com a caracterização concreta da influência que exercia na Petrobrás e na Caixa Econômica Federal.
Vale acentuar que a denúncia da Petrobrás só se tornou possível com a concordância de seu atual presidente, Pedro Parente, nomeado por Michel Temer. Logo, se existia alguma ponte política entre Temer e Cunha, ela foi detonada pela iniciativa de Pedro Parente.
APENAS AGUARDAR – Qual o caminho que resta a Eduardo Cunha? Aguardar seu julgamento pelo Supremo Tribunal Federal.
Enquanto isso, a Câmara vai proceder a eleição de seu sucessor, já que a posição de Waldir Maranhão está fora de cogitações.
Não adianta, nesta altura da ópera, Eduardo Cunha procurar eleger um de seus aliados, simplesmente porque o principal aliado presumível, Michel Temer, que chegou à Presidência da República em face da aceitação do processo de impeachment contra Dilma Rousseff, já se afastou do ex-presidente da Câmara em caráter definitivo.
08 de julho de 2016
Pedro do Coutto
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