Em seu discurso de posse, o novo presidente do Banco Central foi incisivo ao garantir mudança na execução da política monetária. Deixou nítido que o tripé macroeconômico (regime de metas de inflação, fiscais e câmbio flutuante) retorna integralmente com seus fundamentos já conhecidos da comunidade econômica brasileira, inclusive destacando que a taxa de câmbio será verdadeiramente flutuante, com o objetivo de cumprir essencialmente a meta de inflação, mirando, inicialmente, o ponto central do intervalo da meta.
Esta iniciativa demonstra ser completamente diferente do que os economistas do mercado financeiro imaginavam quanto à missão do seu predecessor Tombini, que, na realidade, teve como uma equivocada estratégia, acomodar sua luta contra a inflação às compressões determinadas pela política fiscal, procurando atingir não o centro, mas o teto superior da meta de inflação.
Diante de adversidades encontradas no ambiente econômico internacional e nas circunstâncias degenerativas em que se encontra nossa economia, vai ser extremamente gratificante e plenamente educador acompanhar o cumprimento desta inevitável promessa.
Goldfajn terá que demonstrar ser um notável “equilibrista”, já que deverá manusear a política monetária com inusitada maestria para que seja possível conseguir dois propósitos que na teoria são eminentemente antagônicos - a redução dos juros para favorecer os investimentos e, paralelamente, estimular o crescimento da economia sem excitar prematuramente a demanda de consumo e, consequentemente, sem alimentar a inflação.
Pelo visto, não será uma tarefa fácil, uma vez que vivenciamos uma situação que nos dá uma sensação de estarmos envolvidos numa “dominância fiscal”, quando as indispensáveis medidas de ajuste fiscal ainda se encontram tramitando no âmbito das intenções.
Quando se analisa o atual ambiente econômico em que é inevitável o reequilíbrio das contas públicas, que deverá ser resolvido rapidamente, fica bem mais fácil entender a sutileza do desafio que aguarda o novo presidente do BC.Todos esses cortes e limites de gastos públicos que estão sendo apresentados na mídia econômica pretendem, com muita objetividade, frear a trajetória explosiva da dívida pública. Mas, nisso tudo, temos que levar em consideração também, que nesta situação em que nos encontramos, com ausência de um vigoroso crescimento econômico, nem se supõe, amparando-se numa visão otimista, se o Congresso aceitará inteiramente o acentuado corte previsto por este governo e se a conta irá fechar.
Alguns cálculos elaborados por analistas econômicos deixam patente que nem aceitando toda a contenção de despesas firmadas, inclusive a criação de um limite de gastos sem reajuste real ao longo do tempo, haveria possibilidade de se consolidar a dívida pública em prazo e níveis compatíveis.
Portanto, sem elevar a carga tributária, como ambiciona o empresariado e grande parte da base aliada de sustentação do governo Temer, dentro e fora do Congresso, mesmo apresentando um crescimento médio em torno de 2% ao ano, provavelmente, se tudo correr bem, somente a partir de 2017 a dívida pública, que hoje se situa um pouco inferior a 70% do PIB (Produto Interno Bruto) estagnaria. E ainda assim, seguramente, num patamar superior a 90% do PIB.
A grande questão a ser observada é que a solução para nossa retomada do crescimento, passando por um cruel ajuste fiscal, se não se apoiar também em aumento de tributos, dependerá exclusivamente dos aspectos que foram produzidos para se obter um crescimento mais significativo. Se verificarmos na nossa história econômica, a demonstração empírica mostra que, sem fortalecer os investimentos, oriundos essencialmente do aumento da oferta em infraestrutura com destaque para o segmento industrial, a economia não progredirá de forma mais duradoura nem sequer sustentável.
É uma condição indiscutível que os custos de financiamentos e as taxas de retorno são pontos fundamentais para formar uma decisão antes de se investir. Portanto, os níveis das taxas de juros praticadas terão um papel decisivo em conjunto com as taxas de câmbio exercidas. Sobre esses dois fatores, conjuntamente, dentro da profunda essência de um regime de câmbio flutuante limpo, é importante saber que eles são inteiramente conectivos e atuam em direções contrárias.
Desejo, pessoalmente, pleno sucesso ao Prof. Dr. Ilan Goldfajn neste seu novo desafio. Que ele possa através dos seus vastos conhecimentos acadêmicos aliados a uma consistente experiência profissional, encontrar o desejável BEP - “Break-even Point “(ponto de equilíbrio) em que a taxa de juros seja bastante atrativa para ressuscitar os investimentos e, no vácuo traga a economia, sem que a taxa de câmbio seja impelida a uma desvalorização que venha a pressionar a devastadora inflação.
19 de junho de 2016
Arthur Jorge Costa Pinto é Administrador, com MBA em Finanças pela UNIFACS (Universidade Salvador).
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