Analisando bem o panorama político que está envolvendo o Brasil de hoje, verifica-se que até assumiu um caráter dramático, na medida em que o presidente Michel Temer jogou o destino de seu mandato a um confronto com o ex-presidente da Transpetro, Sérgio Machado, que em sua delação o acusou de haver participado do recebimento de recursos ilícitos para a campanha de Gabriel Chalita à Prefeitura de São Paulo. É exatamente isso que revela o repórter Eduardo Barreto, na edição de O Globo de sexta-feira.
Tanto é assim que o presidente da República, ao rebater a acusação, afirmou textualmente que “se tivesse cometido crime não poderia presidir o país”.
Na mesma edição do jornal, matéria de Vinicius Sassine e Renata Mariz, Sérgio Machado reafirmou a denúncia que dirigiu contra Michel Temer. Portanto, o episódio desafiador assume uma dimensão enorme.
TEM DE PROVAR – Claro, cabe a Sérgio Machado comprovar a versão, mas este aspecto legal e moral não reduz o aspecto decisivo do confronto traçado pelo próprio chefe do Executivo. Pois é indispensável levar-se em conta que Sérgio Machado nada tem a perder, a não ser deixar escapar a redução da pena a que se encontra exposto.
No plano antagônico, Michel tem tudo a perder, a começar pela Presidência da República. É verdade que ele colocou em xeque a hipótese de ter cometido um crime. Receber dinheiro para uma campanha eleitoral de seu próprio partido não configura crime, se o intermediário não souber da forma com que foram obtidos os valores.
Mas este é o aspecto legal. No caso da acusação de Sérgio Machado, que levou Temer a rebater com um desafio tão extremo quanto estranho, não está em jogo a letra da lei, mas o reflexo moral e ético do desafio. Nele, se dúvida, o chefe o Executivo jogou o próprio mandato e também seu destino.
É GRAVE A CRISE – Para repetir uma expressão antiga, a crise que atinge o Brasil é muito mais grave do que alguém, antes da explosão chamada Sérgio Machado pudesse supor. Catarina Alencastro, Simone Iglésias e também Eduardo Barreto, na mesma edição de O Globo, destacam que o ex-presidente da Transpetro, com suas revelações premiadas, derrubou três ministros no curto espaço de apenas cinco semanas. Cairam Jucá, Fabiano Silveira e Henrique Alves. Logo, presume-se que os disparos de Sérgio Machado atingiram três alvos. Sobretudo porque nenhum dos três negou fortemente o conteúdo das acusações, tampouco decidiu processar o acusador. Portanto, as delações, presume-se, funcionaram. Pois em casos assim o silêncio não pode valer como resposta, muito menos como negativa.
FATO INÉDITO – A queda de três ministros em pouco mais de um mês, em decorrência de explosões praticadas pelo mesmo detonador, é efetivamente fato inédito na moderna história política do país. Colocada no espelho do tempo, a atual fase acentua com nitidez a profundidade de uma crise estraçalhadora que começou com o mensalão e, ao invés de refluir, pelo contrário, agigantou-se através do Petrolão com as consequências que se encontram expostas aos olhos da nação.
Basta dizer que avançou ao ponto de levar um presidente da República a jogar sua permanência no Planalto a um verdadeiro duelo na planície da razão e das comprovações. Inclusive – vale notar – Michel Temer viu-se na obrigação de fazer um pronunciamento público à população, através de convocação coletiva à Imprensa.
Nunca houve na história do Brasil um detonador de crises como Sérgio Machado. E ele está disposto a manter o próprio recorde que estabeleceu no país.
19 de junho de 2016
Pedro do Coutto
Nenhum comentário:
Postar um comentário