É impressionante o que está acontecendo com o governo de Michel Temer, iniciado em 12 de maio e que surgiu envolto num clima de muita esperança. A Secretaria de Comunicação Social do Planalto simplesmente não funciona, trata-se de um órgão inexistente.
O presidente da República pode sofrer ataques de toda sorte, quem aparece para se defender é o próprio Temer, porque a Assessoria de Imprensa e a Subchefia Jurídica da Casa Civil não se manifestam – ou seja, não atuam nem de forma pró-ativa nem de forma reativa. Este fim de semana foi um massacre. Entre as revistas semanais de informação, que são muito importantes em função de seus reflexos no restante da mídia (jornais, rádio e televisão), a goleada foi de 3 a 1 contra o Planalto.
Apenas a IstoÉ saiu com uma matéria favorável ao presidente, mostrando a inconsistência da denúncia feita contra Temer pelo delator Sérgio Machado. Nas outras revistas, o presidente da República foi capa em situações constrangedoras.
A capa da IstoÉ foi uma excelente reportagem de Débora Bergamasco e Sérgio Pardella sobre o envolvimento de Lula em tráfico de influência a favor da empreiteira OAS. Nas outras revistas, o assunto Sérgio Machado teve tratamento radical. Apesar de não existir nenhuma prova concreta e o delator Machado ter dito que Temer lhe pedira uma “doação oficial” para a campanha do candidato Gabriel Chalita em São Paulo, a Veja, a Época e a Carta Capital deram o “corrupto” Temer nas capas, com efeito demolidor, embora todos saibam que a expressão “doação oficial” signifique caixa um, ou seja, patrocínio dentro da lei, mas o importante é vender mais exemplares, buscar o sucesso de qualquer forma.
Ao contrário da IstoÉ, que questionou a fragilidade da acusação de Machado, as outras revistas consideraram Temer como se ele já estivesse condenado em última instância e sem possibilidade de recurso.
Acontece que na Justiça Eleitoral há 16 doações do Diretório Nacional do PMDB para a campanha de 2012, num total de R$ 11,83 milhões. As doações oficiais são de diversos valores, de R$ 130 mil a R$ 2,5 milhões. Há uma de R$ 1,5 milhões, dia 28/09/2012, mas a campanha de Chalita recebeu apenas R$ 1 milhão e o próprio candidato diz que a Queiroz Galvão não o apoiou. Aliás, em outra reportagem, a própria Carta Capital já havia reconhecido que não há como se comprovar nada.
DEU NA ÉPOCA – A revista semanal da Organização Globo veio na mesma balada da Carta Capital, sob o título “Doutor Michel & Mister Temer”, parodiando o romance “O Médico e o Monstro”, mas reconhecendo que Michel Temer pediu a Machado que conseguisse “doações oficiais” para a campanha de Chalita em São Paulo.
“O encontro, segundo Machado, se deu em uma sala reservada da Base Aérea em Brasília, em setembro de 2012. Machado afirma que todos do PMDB que faziam tais pedidos sabiam que o dinheiro viria das propinas pagas por empresas que mantinham contratos com a Transpetro. Machado afirma ter atendido ao pedido de Temer com uma doação oficial de R$ 1,5 milhão da empreiteira Queiroz Galvão ao Diretório Nacional do PMDB, a ser repassada à campanha de Chalita”, diz a Época, sem comprovar a denúncia.
Essas matérias demonstram como se publicam bobagens na mídia. Mesmo se Temer tivesse pedido a Machado alguma “doação ilegal”, isso seria crime eleitoral, nada a ver com “atos estranhos ao mandato”, como dizem erradamente a Carta Capital e a Veja, sem saber que essa situação se refere apenas a crimes de responsabilidade e crimes comuns.
TRADUÇÃO SIMULTÂNEA – Não é difícil defender Temer neste contexto das denúncias de Machado. Pedir “doação oficial” não representa crime algum, apenas uma iniciativa legal e legítima de auxiliar o partido político, na forma da lei vigente em 2012.
A denúncia de Machado não tem consistência nem valor jurídico, conforme a IstoÉ assinalou. Apesar dessa realidade, o procurador-geral Rodrigo Janot usou o argumento falacioso para denunciar ao Supremo a existência de “organização criminosa, corrupção ativa, corrupção passiva e lavagem de dinheiro, com envolvimento do vice-presidente da República, de senadores e deputados federais”.
Ainda não satisfeito, Janot também comunicou ao Supremo que a ascensão de Temer à Presidência foi uma trama diabólica para obstruir a Lava-Jato. “Os efeitos desse estratagema estão programados para serem implementados com a assunção da (sic) Presidência da República pelo vice-presidente Michel Temer e deverão ser sentidos em breve, caso o Poder Judiciário não intervenha”, disse Janot, pedindo a 12 de maio que o Supremo interviesse no processo político e destituísse Temer, exatamente no dia em que o vice teve de substituir a presidente afastada Dilma Rousseff.
Como perguntava o ex-governador mineiro Francelino Pereira, que está muito vivo e não nos deixa mentir: “Que país é esse?”. E a resposta seria: “Isso ninguém consegue entender”.
19 de junho de 2016
Carlos Newton
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