Sem reformas da política e do sistema judiciário brasileiro, nenhuma alteração no governo resultará em melhoras para o País e suas instituições. A opinião é do coordenador da força-tarefa da Lava Jato, em Curitiba, procurador da República Deltan Dallagnol. “Tiramos água com balde nas mãos quando nós acusamos criminalmente conduta a conduta. O que precisamos, se queremos evitar que novos escândalos de corrupção aconteçam, é mudar as condições, mudar o sistema.”
Deflagrada em março de 2014, a Lava Jato é a maior investigação do País de combate à corrupção. “Nos preocupa que, mesmo revelado tudo isso, mesmo dois anos depois do começo das investigações não existiu movimento concreto e consistente de reforma política. Não existiu nenhum movimento concreto de bandeiras erguidas com pessoas caminhando no Congresso, nas grandes instituições, por reforma do sistema de Justiça, que é feito para não funcionar e que está funcionando episodicamente”, afirmou o procurador.
PREOCUPAÇÃO
Em pelo menos duas ocasiões nos últimos dez dias, a força-tarefa da Lava Jato expressou publicamente sua preocupação em relação a expectativa popular de que a troca de presidentes resolva os crimes do colarinho branco. Para o procurador, na prática, o Ministério Público Federal tem visto e comprovado que “as condições hoje no Brasil favorecem a corrupção.”
“Por isso temos clamado por alterações legislativas que mudem o sistema de Justiça criminal, tornando efetivo e não gerando a impunidade, que é a regra na maioria dos casos, e reformas políticas que tornem o ambiente menos propício à prática continuada de crimes de corrupção.”
COLARINHO BRANCO
Uma delas é a proposta de 10 Medidas de Combate à Corrupção, apresentada pelo Ministério Público Federal, a partir de uma iniciativa de dois procuradores da Lava Jato, em Curitiba, com objetivo de endurecer as punições a criminosos do colarinho branco.
“Sem mudança do sistema, o que vai acontecer é que vamos continuar enxugando gelo, dando murro em ponta de faca. Esse caso Lava Jato, que não podemos contar vantagem, porque ainda não se encerrou, é sem dúvida um ponto fora da curva”, assinalou o procurador Dallagnol.
14 de maio de 2016
Ricardo Brandt, Fausto Macedo e Julia Affonso
Estadão
Nenhum comentário:
Postar um comentário