Já vi o Brasil passar por grandes dificuldades e grandes crises. Nas últimas décadas, tivemos de tudo: crises de endividamento externo, hiperinflação, confisco de ativos financeiros, estagnação econômica prolongada, acordos com o FMI etc. Mas nada do que vi se compara ao que estamos atravessando hoje no campo econômico e no campo político. Estou muito longe, do outro lado do planeta, mas acompanho, angustiado, a deterioração do quadro econômico-social e os reveses que a democracia brasileira vem sofrendo.
Um aspecto pouco discutido no Brasil: as implicações internacionais da crise brasileira. Um país dividido perde influência, obviamente. Mas a aguda crise política e a intensa polarização da sociedade brasileira, exacerbada pelo processo de impeachment, nos levam muito mais longe: fragilizam a posição internacional do país e colocam em risco a autonomia nacional.
“A house divided against itself cannot stand” (Uma casa dividida contra si mesma não pode subsistir), disse Abraham Lincoln em discurso célebre.
TRUNFOS IMPORTANTES
Sei que o Brasil ainda tem trunfos importantes. Durante todo o período recente, apesar das dificuldades econômicas e políticas, mantivemos reservas internacionais muito elevadas — atualmente em US$ 355 bilhões.
Os choques de balanço de pagamentos foram absorvidos pelas flutuações de câmbio e pelo uso de instrumentos financeiros indexados ao dólar, permitindo preservar as reservas internacionais. Em grande medida, graças à depreciação do real, o déficit do balanço de pagamentos em transações correntes vem caindo consideravelmente, o que também diminui a nossa vulnerabilidade externa.
Mas esses trunfos econômicos não impedem o enfraquecimento da posição nacional. Como brasileiro que vive há algum tempo no exterior, posso dar testemunho direto disso.
ESTRAGO ENOME
Até pouco tempo, a percepção do Brasil era das mais favoráveis. Éramos vistos como nação dinâmica e respeitados como jovem democracia com instituições sólidas. Tudo isso foi colocado em xeque pelos acontecimentos recentes.
Não tenham dúvida: o estrago foi enorme. E o nosso prestígio não será restabelecido rapidamente. Pior: haverá forças externas que tentarão se aproveitar da confusão brasileira para fazer avançar seus interesses econômicos e políticos em detrimento dos interesses nacionais.
O colapso emocional do brasileiro é um risco em si mesmo.
COMPLEXO DE VIRA-LATAS
O complexo de vira-latas voltou com força total. Há até quem defenda recorrer ao FMI… A esses cabe explicar porque um país com reservas internacionais tão altas precisaria se submeter a um programa com o FMI!
O estrago que foi feito não é irreparável. As grandes nações passam por crises profundas, sofrem muito, mas se restabelecem. O Brasil acabará se refazendo e encontrando um caminho de volta.
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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – Paulo Nogueira Batista Jr. sempre se posicionou contra o impeachment. É simpático ao PT, foi nomeado por Lula para representar o Brasil no Fundo Monetário Internacional e depois Dilma o colocou com vice-presidente do Novo Banco de Desenvolvimento, criado pelos BRICs e sediado em Xangai, na China. Neste artigo, o economista não deixa claro se defende a tese do “golpe”, que tanto tem contribuído para deteriorar a imagem do Brasil, que começou a ser demolida pelo maior escândalo de corrupção do mundo, protagonizado pelos governos do PT. (C.N.)
NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – Paulo Nogueira Batista Jr. sempre se posicionou contra o impeachment. É simpático ao PT, foi nomeado por Lula para representar o Brasil no Fundo Monetário Internacional e depois Dilma o colocou com vice-presidente do Novo Banco de Desenvolvimento, criado pelos BRICs e sediado em Xangai, na China. Neste artigo, o economista não deixa claro se defende a tese do “golpe”, que tanto tem contribuído para deteriorar a imagem do Brasil, que começou a ser demolida pelo maior escândalo de corrupção do mundo, protagonizado pelos governos do PT. (C.N.)
14 de maio de 2016
Paulo Nogueira Batista Jr.
O Globo
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