"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

sábado, 14 de maio de 2016

COM GOVERNO DE SALVAÇÃO NACIONAL, TEMER REVIVE DE GAULLE NA FRANÇA EM 58





Charge do Sponholz (sponholz.arq.br)
No seu primeiro pronunciamento como presidente empossado, Michel Temer lançou as bases de um governo de salvação nacional, expressão usada por De Gaulle em 1958 ao assumir o governo da França, abalada por uma série de conflitos políticos, sobretudo os decorrentes da guerra da Argélia. De Gaulle assumiu e deu fim a esse conflito. Ao assumir o Palácio do Planalto, Michel Temer usou a expressão salvação nacional como base mais sólida de sua administração, acentuando que será marcada pelo diálogo que deseja restabelecer com as forças políticas da Nação.
Salvação nacional é um bom termo para que o Brasil enfrente a crise em que se encontra, nascida da desaceleração da economia, da queda do nível de emprego, da desvalorização progressiva de salários diante das taxas de inflação.
Referiu-se genericamente à reforma da Previdência Social e da Legislação Trabalhista, ainda sem especificar os fundamentos das duas reformas. Mas foi claro ao assegurar a sequência da operação Lava Jato, a qual no fundo, pavimentou seu caminho para o poder.
DESGASTE DE DILMA
O desgaste do governo Dilma Rousseff, do PT e da liderança de Lula foi uma consequência das ondas de corrupção que inundaram o país e abalaram profundamente a Petrobrás. Não fossem os corruptos, ao lado dos corruptores e intermediários, o desgaste da legenda do PT e do Executivo não seria tão grande como foi constatado nas ruas. Além desse aspecto, a operação Lava Jato passou a representar uma conquista da sociedade brasileira.
Michel Temer colocou corretamente a questão das conquistas ocorridas nos governos que o antecederam, referindo-se explicitamente ao Bolsa Família e ao Minha Casa Minha Vida, entre outros programas de desenvolvimento social legados pelo governo às camadas mais pobres da população. Não é esse, contudo, o ponto fundamental da questão entre capital e trabalho.
PROGRAMAS SOCIAIS
O Bolsa Família e o Minha Casa Minha Vida são doações emergenciais, harmonização dos fatores capital e trabalho. Vitais para o desenvolvimento econômico, baseiam-se numa reciprocidade essencial ao progresso e à redistribuição de renda. Isso porque redistribuir a renda só pode ser obtido a partir de um esforço conjunto pautado em objetivos comuns. Não existe desenvolvimento econômico sem a participação do capital, sobretudo o capital privado. Da mesma forma, não pode haver progresso efetivo sem a valorização do trabalho humano.
CONCENTRAÇÃO DE RENDA
Ao longo da administração Dilma Rousseff, no fundo da questão, ao invés de redistribuição, o que houve foi uma concentração de renda enorme impulsionada pela corrupção, e não só por ela, mas também pela elevação do endividamento interno do país.
Esse endividamento interno custa ao Tesouro Nacional 14,25% ao ano, índice que supera o da inflação de 2015. Enquanto isso, em contraste, os salários permanecem sem atualização, o que impede a reposição das perdas inflacionárias.
São pontos colocados no roteiro do presidente Michel Temer, que terá de enfrentá-los com um esforço imenso, sobretudo porque, ao enfatizar que seu governo será de salvação nacional, ele admite tacitamente ser péssima a situação do país que encontrou no alvorecer do dia de ontem.
RECONSTRUIR A DESORDEM
O exemplo de De Gaulle ajusta-se bem a reconstrução da desordem em que o Brasil, sem dúvida alguma se encontra.
Exige, assim, um esforço coletivo para o reerguimento. Caberá ao atual presidente da República comandá-lo com serenidade, mas com a firmeza indispensável.

14 de maio de 2016
Pedro do Coutto

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