No seu primeiro pronunciamento como presidente empossado, Michel Temer lançou as bases de um governo de salvação nacional, expressão usada por De Gaulle em 1958 ao assumir o governo da França, abalada por uma série de conflitos políticos, sobretudo os decorrentes da guerra da Argélia. De Gaulle assumiu e deu fim a esse conflito. Ao assumir o Palácio do Planalto, Michel Temer usou a expressão salvação nacional como base mais sólida de sua administração, acentuando que será marcada pelo diálogo que deseja restabelecer com as forças políticas da Nação.
Salvação nacional é um bom termo para que o Brasil enfrente a crise em que se encontra, nascida da desaceleração da economia, da queda do nível de emprego, da desvalorização progressiva de salários diante das taxas de inflação.
Referiu-se genericamente à reforma da Previdência Social e da Legislação Trabalhista, ainda sem especificar os fundamentos das duas reformas. Mas foi claro ao assegurar a sequência da operação Lava Jato, a qual no fundo, pavimentou seu caminho para o poder.
DESGASTE DE DILMA
O desgaste do governo Dilma Rousseff, do PT e da liderança de Lula foi uma consequência das ondas de corrupção que inundaram o país e abalaram profundamente a Petrobrás. Não fossem os corruptos, ao lado dos corruptores e intermediários, o desgaste da legenda do PT e do Executivo não seria tão grande como foi constatado nas ruas. Além desse aspecto, a operação Lava Jato passou a representar uma conquista da sociedade brasileira.
Michel Temer colocou corretamente a questão das conquistas ocorridas nos governos que o antecederam, referindo-se explicitamente ao Bolsa Família e ao Minha Casa Minha Vida, entre outros programas de desenvolvimento social legados pelo governo às camadas mais pobres da população. Não é esse, contudo, o ponto fundamental da questão entre capital e trabalho.
PROGRAMAS SOCIAIS
O Bolsa Família e o Minha Casa Minha Vida são doações emergenciais, harmonização dos fatores capital e trabalho. Vitais para o desenvolvimento econômico, baseiam-se numa reciprocidade essencial ao progresso e à redistribuição de renda. Isso porque redistribuir a renda só pode ser obtido a partir de um esforço conjunto pautado em objetivos comuns. Não existe desenvolvimento econômico sem a participação do capital, sobretudo o capital privado. Da mesma forma, não pode haver progresso efetivo sem a valorização do trabalho humano.
CONCENTRAÇÃO DE RENDA
Ao longo da administração Dilma Rousseff, no fundo da questão, ao invés de redistribuição, o que houve foi uma concentração de renda enorme impulsionada pela corrupção, e não só por ela, mas também pela elevação do endividamento interno do país.
Esse endividamento interno custa ao Tesouro Nacional 14,25% ao ano, índice que supera o da inflação de 2015. Enquanto isso, em contraste, os salários permanecem sem atualização, o que impede a reposição das perdas inflacionárias.
São pontos colocados no roteiro do presidente Michel Temer, que terá de enfrentá-los com um esforço imenso, sobretudo porque, ao enfatizar que seu governo será de salvação nacional, ele admite tacitamente ser péssima a situação do país que encontrou no alvorecer do dia de ontem.
RECONSTRUIR A DESORDEM
O exemplo de De Gaulle ajusta-se bem a reconstrução da desordem em que o Brasil, sem dúvida alguma se encontra.
Exige, assim, um esforço coletivo para o reerguimento. Caberá ao atual presidente da República comandá-lo com serenidade, mas com a firmeza indispensável.
14 de maio de 2016
Pedro do Coutto
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