Da nova equipe econômica, que vai se formando com a confirmação de alguns nomes e a escolha de outros, já se pode dizer que tem excelência técnica e experiência diversificada. Todos os que foram anunciados ontem ou são integrantes do governo ou já fizeram parte dele. A tarefa que enfrentarão é enorme e não depende apenas de que eles tenham bom desempenho.
Oeconomista Ilan Goldfajn é considerado um dos melhores do país. Ele assumirá a presidência do Banco Central, onde já esteve como diretor, depois de ter passado pelo FMI. Trabalhou como consultor, antes de dirigir o Departamento Econômico do banco Itaú Unibanco.
Para o Ministério da Fazenda, o ministro Henrique Meirelles escolheu dois economistas que têm conhecimento profundo da crise fiscal brasileira. Marcelo Caetano, que será o secretário de Previdência, tem uma série de estudos sobre o tema como economista do Ipea, e Mansueto Almeida, ex-Ipea, que será o secretário de Acompanhamento Econômico, é grande especialista em finanças públicas. Carlos Hamilton, que será o secretário de política econômica do Ministério, já trabalhou com Henrique Meirelles no Banco Central. A equipe se reuniu neste fim de semana para avaliar a situação em que o país está e começar a pensar nas primeiras medidas. Meirelles decidiu manter dois secretários, o do Tesouro, Otávio Ladeira, e o da Receita, Jorge Rachid. Completa o time o secretárioexecutivo, Tarcísio Godoy, que já ocupou o mesmo cargo na época de Joaquim Levy.
O primeiro problema a resolver será o tamanho do déficit de 2016. E eles estão no seguinte dilema: se adotarem uma meta que não possam cumprir, pode haver o desgaste de ter que pedir nova alteração. Se elevarem muito a projeção do rombo, pode passar a ideia de que o governo se prepara para ampliar os gastos. E há diversos esqueletos aparecendo.
— Temos que colocar sol sobre esta herança recebida. Para entender e explicar as dificuldades que recebemos. E temos que passar a ideia de que daqui para a frente será diferente — disse um integrante da equipe.
Pela lei orçamentária, o governo tem que divulgar até o 20º dia útil do segundo mês de cada bimestre o relatório de receita e despesa. Como a meta ainda em vigor é a do Orçamento, que prevê superávit de R$ 24 bilhões, o governo teria que anunciar um contingenciamento para se adequar a esse objetivo. O problema é que a meta é irreal e não se sabe exatamente o tamanho do rombo para propor novo número. Como o governo Dilma previa déficit de R$ 96 bi, a nova equipe considera, diante de despesas já sabidas e não previstas, que se o déficit for de R$ 100 bilhões a meta será muito apertada, mas se for de R$ 150 bi pode parecer relaxada demais. O governo precisa definir a nova meta para que seja votada pelo Congresso até o fim do mês.
— O problema é que os números são voláteis e a cada momento há um novo esqueleto — disse um membro da equipe.
Um desses esqueletos é o da Eletrobras, que está desequilibrada pelas decisões tomadas pelo governo durante a crise de energia e foi vítima dos desvios em contratos como tem revelado a Lava-Jato. Ela não tem conseguido dimensionar as perdas com corrupção e por isso avisou que não vai apresentar a tempo seu relatório financeiro ao órgão regulador americano. Será retirada de lista da Bolsa de Nova York, o que pode produzir impacto fiscal. Outro problema é a negociação com os estados, que também vai produzir perda de receita.
Quando Meirelles anunciou os integrantes da equipe econômica, não tinha ainda os nomes dos presidentes dos bancos públicos. Para o BNDES, que responde ao Planejamento, foi escolhida a economista Maria Silvia Bastos Marques, que tem um currículo de bom desempenho tanto no setor público quanto no privado. Ela terá um duro trabalho pela frente. O banco funcionou nos últimos anos na base de enormes cheques enviados pelo Tesouro. Mas essa fonte secou. Hoje, deve R$ 500 bilhões ao Tesouro. Maria Silvia terá que dar nova forma à atuação no banco de desenvolvimento.
A estratégia no governo é de anunciar medidas de curto prazo, depois preparar reformas que serão divulgadas num segundo momento e que terão mais impacto na confiança, como a reforma da previdência. O jogo será duro, mas o que se pode dizer é que o time está bem escalado.
20 de maio de 2016
Miriam Leitão, O Globo
Oeconomista Ilan Goldfajn é considerado um dos melhores do país. Ele assumirá a presidência do Banco Central, onde já esteve como diretor, depois de ter passado pelo FMI. Trabalhou como consultor, antes de dirigir o Departamento Econômico do banco Itaú Unibanco.
Para o Ministério da Fazenda, o ministro Henrique Meirelles escolheu dois economistas que têm conhecimento profundo da crise fiscal brasileira. Marcelo Caetano, que será o secretário de Previdência, tem uma série de estudos sobre o tema como economista do Ipea, e Mansueto Almeida, ex-Ipea, que será o secretário de Acompanhamento Econômico, é grande especialista em finanças públicas. Carlos Hamilton, que será o secretário de política econômica do Ministério, já trabalhou com Henrique Meirelles no Banco Central. A equipe se reuniu neste fim de semana para avaliar a situação em que o país está e começar a pensar nas primeiras medidas. Meirelles decidiu manter dois secretários, o do Tesouro, Otávio Ladeira, e o da Receita, Jorge Rachid. Completa o time o secretárioexecutivo, Tarcísio Godoy, que já ocupou o mesmo cargo na época de Joaquim Levy.
O primeiro problema a resolver será o tamanho do déficit de 2016. E eles estão no seguinte dilema: se adotarem uma meta que não possam cumprir, pode haver o desgaste de ter que pedir nova alteração. Se elevarem muito a projeção do rombo, pode passar a ideia de que o governo se prepara para ampliar os gastos. E há diversos esqueletos aparecendo.
— Temos que colocar sol sobre esta herança recebida. Para entender e explicar as dificuldades que recebemos. E temos que passar a ideia de que daqui para a frente será diferente — disse um integrante da equipe.
Pela lei orçamentária, o governo tem que divulgar até o 20º dia útil do segundo mês de cada bimestre o relatório de receita e despesa. Como a meta ainda em vigor é a do Orçamento, que prevê superávit de R$ 24 bilhões, o governo teria que anunciar um contingenciamento para se adequar a esse objetivo. O problema é que a meta é irreal e não se sabe exatamente o tamanho do rombo para propor novo número. Como o governo Dilma previa déficit de R$ 96 bi, a nova equipe considera, diante de despesas já sabidas e não previstas, que se o déficit for de R$ 100 bilhões a meta será muito apertada, mas se for de R$ 150 bi pode parecer relaxada demais. O governo precisa definir a nova meta para que seja votada pelo Congresso até o fim do mês.
— O problema é que os números são voláteis e a cada momento há um novo esqueleto — disse um membro da equipe.
Um desses esqueletos é o da Eletrobras, que está desequilibrada pelas decisões tomadas pelo governo durante a crise de energia e foi vítima dos desvios em contratos como tem revelado a Lava-Jato. Ela não tem conseguido dimensionar as perdas com corrupção e por isso avisou que não vai apresentar a tempo seu relatório financeiro ao órgão regulador americano. Será retirada de lista da Bolsa de Nova York, o que pode produzir impacto fiscal. Outro problema é a negociação com os estados, que também vai produzir perda de receita.
Quando Meirelles anunciou os integrantes da equipe econômica, não tinha ainda os nomes dos presidentes dos bancos públicos. Para o BNDES, que responde ao Planejamento, foi escolhida a economista Maria Silvia Bastos Marques, que tem um currículo de bom desempenho tanto no setor público quanto no privado. Ela terá um duro trabalho pela frente. O banco funcionou nos últimos anos na base de enormes cheques enviados pelo Tesouro. Mas essa fonte secou. Hoje, deve R$ 500 bilhões ao Tesouro. Maria Silvia terá que dar nova forma à atuação no banco de desenvolvimento.
A estratégia no governo é de anunciar medidas de curto prazo, depois preparar reformas que serão divulgadas num segundo momento e que terão mais impacto na confiança, como a reforma da previdência. O jogo será duro, mas o que se pode dizer é que o time está bem escalado.
20 de maio de 2016
Miriam Leitão, O Globo
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