Assim como Dilma não consegue impedir a Lava Jato de seguir o seu rumo, não o conseguirá Temer se presidente. Uma vez na Presidência, se ficar evidente que também cometeu crime de responsabilidade, também ele será devidamente deposto pelas leis.
As revelações feitas pelos executivos da Andrade Gutierrez parecem pôr um ponto final às esperanças ou artimanhas daqueles que imaginavam, a exemplo do ministro Marco Aurélio, do Supremo, que a crise que aí está se resolve com uma reunião de senhores da guerra, como sugeriu este que abriu mão de ser magistrado para ser uma espécie de porta-voz do governo de turno entre os togados.
Em sua delação, a Andrade Gutierrez admite que as empresas que participaram do consórcio de Belo Monte aceitaram pagar a fabulosa soma de R$ 150 milhões em propina — ou 1% do que obteriam em contratos. Nota: Teori Zavascki, relator do petrolão, já homologou tal delação. E isso significa que os indícios apresentados pelos delatores são consistentes e ajudam a desvendar a tramoia.
Os recursos teriam sido pagos ao longo da obra, fraternalmente divididos entre PT e PMDB, na forma de doações legais de campanha em 2010, 2012 e 2014. Segundo a delação, os valores foram pagos pelo conjunto das empresas do consórcio, a saber, consideradas as várias fases do projeto: além da Andrade Gutierrez, há Odebrecht, Camargo Corrêa, Queiroz Galvão, Mendes Júnior, Serveng-Civilsan, Contern, Cetenco, Gaia, Galvão e J.Malucelli.
O ministro Teori Zavascki decidiu manter sigilo sobre o conteúdo: “Em matéria de delação premiada, a lei estabelece que tudo tem que ser mantido em sigilo. Enquanto as partes não abrirem mão do sigilo, eu vou manter a lei”. A Procuradoria-Geral da República tende a concordar com o procedimento.
Não custa lembrar de um detalhe nada irrelevante: essa é a delação da segunda maior empreiteira do país: a Andrade Gutierrez. Nada se sabe ainda do que pode ser revelado pela primeira, a Odebrecht. O acordo está em curso.
Assistimos, nos dias que correm, à mais desavergonhada negociação de que tem notícia na República para tentar manter no cargo a presidente. Os métodos a que recorre o governante “de facto”, Luiz Inácio Lula da Silva, encontraram seu momento de consagração em práticas como as reveladas pela Andrade Gutierrez.
Ou por outra: para que uma penca impressionante de crimes não encontre a sua devida penalidade política, outros tantos estão sendo cometidos.
Nem PT nem PMDB
É claro que os detalhes que vêm a público jogam água no moinho da tese da antecipação das eleições, já que PT e PMDB teriam dividido fraternamente a propina.
Que fique claro: caso se evidencie que o vice, Michel Temer, participou de tal conluio, que seja igualmente punido, e, nesse caso, as eleições são um determinação constitucional. A impugnação da chapa que elegeu Dilma e Temer está sob julgamento no TSE, é bom não esquecer.
O que pode vir a ser feito num futuro próximo ou no médio prazo, a depender dos desdobramentos, não pode impedir que se faça o que tem de ser feito agora para que se tente tirar o país do atoleiro: a única resposta que o Congresso pode dar ao que está em curso é o impeachment da presidente Dilma, com a consequente posse do vice.
Assim como Dilma não consegue impedir a Lava Jato de seguir o seu rumo, não o conseguirá Temer se presidente. Uma vez na Presidência, se ficar evidente que também cometeu crime de responsabilidade, também ele será devidamente deposto pelas leis.
Nenhum país deveria passar por isso. Mas as coisas, no entanto, estão aí e são o que são. Essas práticas corroem as instituições e condenam os pobres à pobreza. Que saia do poder quem se mostrar incompatível com ele. Só assim vamos fortalecer a democracia. Só assim teremos futuro.
07 de abril de 2016
Reinaldo Azevedo, Veja
As revelações feitas pelos executivos da Andrade Gutierrez parecem pôr um ponto final às esperanças ou artimanhas daqueles que imaginavam, a exemplo do ministro Marco Aurélio, do Supremo, que a crise que aí está se resolve com uma reunião de senhores da guerra, como sugeriu este que abriu mão de ser magistrado para ser uma espécie de porta-voz do governo de turno entre os togados.
Em sua delação, a Andrade Gutierrez admite que as empresas que participaram do consórcio de Belo Monte aceitaram pagar a fabulosa soma de R$ 150 milhões em propina — ou 1% do que obteriam em contratos. Nota: Teori Zavascki, relator do petrolão, já homologou tal delação. E isso significa que os indícios apresentados pelos delatores são consistentes e ajudam a desvendar a tramoia.
Os recursos teriam sido pagos ao longo da obra, fraternalmente divididos entre PT e PMDB, na forma de doações legais de campanha em 2010, 2012 e 2014. Segundo a delação, os valores foram pagos pelo conjunto das empresas do consórcio, a saber, consideradas as várias fases do projeto: além da Andrade Gutierrez, há Odebrecht, Camargo Corrêa, Queiroz Galvão, Mendes Júnior, Serveng-Civilsan, Contern, Cetenco, Gaia, Galvão e J.Malucelli.
O ministro Teori Zavascki decidiu manter sigilo sobre o conteúdo: “Em matéria de delação premiada, a lei estabelece que tudo tem que ser mantido em sigilo. Enquanto as partes não abrirem mão do sigilo, eu vou manter a lei”. A Procuradoria-Geral da República tende a concordar com o procedimento.
Não custa lembrar de um detalhe nada irrelevante: essa é a delação da segunda maior empreiteira do país: a Andrade Gutierrez. Nada se sabe ainda do que pode ser revelado pela primeira, a Odebrecht. O acordo está em curso.
Assistimos, nos dias que correm, à mais desavergonhada negociação de que tem notícia na República para tentar manter no cargo a presidente. Os métodos a que recorre o governante “de facto”, Luiz Inácio Lula da Silva, encontraram seu momento de consagração em práticas como as reveladas pela Andrade Gutierrez.
Ou por outra: para que uma penca impressionante de crimes não encontre a sua devida penalidade política, outros tantos estão sendo cometidos.
Nem PT nem PMDB
É claro que os detalhes que vêm a público jogam água no moinho da tese da antecipação das eleições, já que PT e PMDB teriam dividido fraternamente a propina.
Que fique claro: caso se evidencie que o vice, Michel Temer, participou de tal conluio, que seja igualmente punido, e, nesse caso, as eleições são um determinação constitucional. A impugnação da chapa que elegeu Dilma e Temer está sob julgamento no TSE, é bom não esquecer.
O que pode vir a ser feito num futuro próximo ou no médio prazo, a depender dos desdobramentos, não pode impedir que se faça o que tem de ser feito agora para que se tente tirar o país do atoleiro: a única resposta que o Congresso pode dar ao que está em curso é o impeachment da presidente Dilma, com a consequente posse do vice.
Assim como Dilma não consegue impedir a Lava Jato de seguir o seu rumo, não o conseguirá Temer se presidente. Uma vez na Presidência, se ficar evidente que também cometeu crime de responsabilidade, também ele será devidamente deposto pelas leis.
Nenhum país deveria passar por isso. Mas as coisas, no entanto, estão aí e são o que são. Essas práticas corroem as instituições e condenam os pobres à pobreza. Que saia do poder quem se mostrar incompatível com ele. Só assim vamos fortalecer a democracia. Só assim teremos futuro.
07 de abril de 2016
Reinaldo Azevedo, Veja
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