Decerto aconselhada pelo diabo, aquele a quem ela recorreu em suas campanhas eleitorais, a presidente Dilma Rousseff decidiu adotar de vez a mentira como essência de seu discurso contra os adversários. A petista tem recorrido com desenvoltura e frequência ao engodo e cada vez mais parece acreditar nas fantasias que cria e conta.
Não contente em tentar enganar a opinião pública nacional, especialmente no que diz respeito à legalidade do processo de impeachment, por ela qualificado de “golpe”, Dilma dedica-se agora a espalhar sua farsa mundo afora, conforme se verifica na impressionante entrevista que concedeu à imprensa estrangeira há uma semana. O aspecto mais importante dessa entrevista não foi a reiteração da denúncia do tal “golpe”, algo que já era esperado. O mais importante foi a constatação de que Dilma está perdendo contato com a realidade, especialmente quando resolveu comentar a profunda crise econômica que ela tão cuidadosamente produziu para o Brasil.
Num dos momentos mais extravagantes da entrevista, Dilma declarou: “Nós não temos uma perda de 10 milhões de empregos, como alguns congressistas disseram. Nós não temos. Nós temos, infelizmente, uma perda de empregos, mas ela não tem esse montante, não monta a mais de 2,6 milhões de cargos. O que é uma lástima, o que é terrível”.
Menos mal que a presidente tenha qualificado de “terrível” a perda de empregos, mas sua tentativa de minimizar a escalada do desemprego, apelando a um truque mambembe de contabilidade, soa como chacota para os milhões de brasileiros que perderam sua ocupação nos últimos tempos graças às lambanças do governo petista. Dois dias depois dessa entrevista, o IBGE informou que a desocupação havia chegado a 10,2% da força de trabalho no período entre dezembro e fevereiro, conforme a Pnad Contínua. Ou seja, 10,37 milhões de brasileiros estavam em busca de vagas naquele período, quase 3 milhões a mais do que no ano anterior. Para Dilma, esse aumento é o número que representa o fechamento de vagas – como se os outros 7 milhões de desempregados não existissem, o que obviamente é uma ofensa à inteligência.
Dilma também recorreu à fabulação quando explicou que não tinha nenhuma responsabilidade sobre a crise. “Muitos atribuem a mim a única responsabilidade, como se eu fosse responsável pelo fim do superciclo das commodities, como se eu fosse responsável pela brutal crise que afetou, a partir de 2009, os países desenvolvidos”, disse a petista, incapaz de reconhecer seus erros, tão evidentes que a maioria absoluta dos brasileiros considera seu governo horroroso.
Mas Dilma foi além. Ela disse que a crise foi ampliada pela suposta inconsequência da oposição, que “se expressou nas pautas-bomba”. Tentando ser didática para os jornalistas estrangeiros, a presidente explicou que pautas-bomba eram “a aceitação de medidas populistas que inviabilizavam, na prática, a rigidez fiscal, a responsabilidade fiscal, a robustez fiscal do País”. Ou seja, na versão de Dilma, seu governo, que criou um rombo inédito nas contas públicas, era um exemplo de equilíbrio e responsabilidade e só sucumbiu porque foi vítima da sabotagem da oposição.
Mas a maior das fantasias de Dilma diz respeito à sua alegada probidade, reiterada, orgulhosamente, na entrevista. A presidente que reivindica uma medalha por idoneidade é a mesma sob cujo nariz bandidos rapinaram os cofres do Estado como nunca antes na história deste país e que teve sua própria campanha eleitoral financiada com o produto desse roubo, segundo evidências levantadas pela Lava Jato; é a mesma que se elegeu e se reelegeu fazendo uso de mentiras descaradas a respeito de si mesma e dos adversários; e é a mesma que continua a mentir a respeito do desastre de seu governo, a respeito das intenções da oposição e a respeito dela própria, apresentando-se como heroína da democracia desde os tempos da ditadura – época em que, todos sabem, ela defendia outra ditadura no lugar daquela. Mas o País, como provam os milhões que foram às ruas contra a desfaçatez de Dilma e do PT, já não se deixa mais enganar. Afinal, mentiras, mesmo aquelas contadas com muita convicção, têm pernas curtas.
26 de abril de 2016
Editorial O Estadão
Não contente em tentar enganar a opinião pública nacional, especialmente no que diz respeito à legalidade do processo de impeachment, por ela qualificado de “golpe”, Dilma dedica-se agora a espalhar sua farsa mundo afora, conforme se verifica na impressionante entrevista que concedeu à imprensa estrangeira há uma semana. O aspecto mais importante dessa entrevista não foi a reiteração da denúncia do tal “golpe”, algo que já era esperado. O mais importante foi a constatação de que Dilma está perdendo contato com a realidade, especialmente quando resolveu comentar a profunda crise econômica que ela tão cuidadosamente produziu para o Brasil.
Num dos momentos mais extravagantes da entrevista, Dilma declarou: “Nós não temos uma perda de 10 milhões de empregos, como alguns congressistas disseram. Nós não temos. Nós temos, infelizmente, uma perda de empregos, mas ela não tem esse montante, não monta a mais de 2,6 milhões de cargos. O que é uma lástima, o que é terrível”.
Menos mal que a presidente tenha qualificado de “terrível” a perda de empregos, mas sua tentativa de minimizar a escalada do desemprego, apelando a um truque mambembe de contabilidade, soa como chacota para os milhões de brasileiros que perderam sua ocupação nos últimos tempos graças às lambanças do governo petista. Dois dias depois dessa entrevista, o IBGE informou que a desocupação havia chegado a 10,2% da força de trabalho no período entre dezembro e fevereiro, conforme a Pnad Contínua. Ou seja, 10,37 milhões de brasileiros estavam em busca de vagas naquele período, quase 3 milhões a mais do que no ano anterior. Para Dilma, esse aumento é o número que representa o fechamento de vagas – como se os outros 7 milhões de desempregados não existissem, o que obviamente é uma ofensa à inteligência.
Dilma também recorreu à fabulação quando explicou que não tinha nenhuma responsabilidade sobre a crise. “Muitos atribuem a mim a única responsabilidade, como se eu fosse responsável pelo fim do superciclo das commodities, como se eu fosse responsável pela brutal crise que afetou, a partir de 2009, os países desenvolvidos”, disse a petista, incapaz de reconhecer seus erros, tão evidentes que a maioria absoluta dos brasileiros considera seu governo horroroso.
Mas Dilma foi além. Ela disse que a crise foi ampliada pela suposta inconsequência da oposição, que “se expressou nas pautas-bomba”. Tentando ser didática para os jornalistas estrangeiros, a presidente explicou que pautas-bomba eram “a aceitação de medidas populistas que inviabilizavam, na prática, a rigidez fiscal, a responsabilidade fiscal, a robustez fiscal do País”. Ou seja, na versão de Dilma, seu governo, que criou um rombo inédito nas contas públicas, era um exemplo de equilíbrio e responsabilidade e só sucumbiu porque foi vítima da sabotagem da oposição.
Mas a maior das fantasias de Dilma diz respeito à sua alegada probidade, reiterada, orgulhosamente, na entrevista. A presidente que reivindica uma medalha por idoneidade é a mesma sob cujo nariz bandidos rapinaram os cofres do Estado como nunca antes na história deste país e que teve sua própria campanha eleitoral financiada com o produto desse roubo, segundo evidências levantadas pela Lava Jato; é a mesma que se elegeu e se reelegeu fazendo uso de mentiras descaradas a respeito de si mesma e dos adversários; e é a mesma que continua a mentir a respeito do desastre de seu governo, a respeito das intenções da oposição e a respeito dela própria, apresentando-se como heroína da democracia desde os tempos da ditadura – época em que, todos sabem, ela defendia outra ditadura no lugar daquela. Mas o País, como provam os milhões que foram às ruas contra a desfaçatez de Dilma e do PT, já não se deixa mais enganar. Afinal, mentiras, mesmo aquelas contadas com muita convicção, têm pernas curtas.
26 de abril de 2016
Editorial O Estadão
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