Em seu voto pelo impedimento da presidente Dilma Rousseff, além da absurda apologia ao coronel Brilhante Ustra, o deputado Jair Bolsonaro cometeu erros históricos em sequência ao se referir que os adeptos do atual governo foram derrotados em 1964 e também estão sendo derrotados em 2016. Para que tais afirmações não acarretem erros históricos no presente e principalmente no futuro, impõe-se esclarecer fatos concretos que aconteceram durante a ditadura militar que surgiu em 64 e teve seu capítulo final escrito em 1985.
Jair Bolsonaro, ao destacar o que afirma terem sido vitórias, esqueceu de incluir no período também as derrotas registradas entre uma corrente militar e outra que se encontrava em oposição a ela. Começou no governo Castelo Branco, que, depois de assegurar a realização da sucessão presidencial prevista para 65 pelo voto direto, viu-se obrigado a recuar e mudar de pensamento e de atitude. Decretou o Ato institucional Nº2, que transformou as eleições diretas em indiretas e adiou a sucessão de 65 para 66.
Aí verificaram-se dois rompimentos: o de Carlos Lacerda com a sistema militar de poder, já que ele tinha sido o líder do movimento que derrubou o presidente João Goulart, e o choque das correntes que formavam ao lado do general Costa e Silva contra a chamada facção intelectual das Forças Armadas, que se alinhava com Castelo Branco.
COSTA E SILVA
O grupo de Costa e Silva venceu o embate e impôs sua candidatura a presidente da República pelo Congresso Nacional. Este foi o primeiro capítulo das cisões militares. O segundo aconteceria dois anos depois.
Em 1968 Costa e Silva não desejava editar o Ato Institucional nº5 que fechou o Congresso, mas foi obrigado a fazê-lo por pressões muito intensas dos Comandos Militares. Tanto assim que, numa reunião dramática no Palácio Laranjeiras, no Rio enquanto se discutia a edição do ato de força, o ministro Jarbas Passarinho, em aparte histórico, disse: “Se o ato é necessário, às favas todos os escrúpulos da consciência”.
O episódio teve origem num pequeno discurso do deputado Marcio Moreira Alves, considerado ofensivo às Forças Armadas. O governo tentou a cassação do seu mandato pela Câmara. Mas esta rejeitou. e então explodiu a crise, lançando estilhaços por todos os lados da democracia. Costa e Silva, de fato havia sido subjugado pelas facções radicais e não teve condições de resistir.
ALEIXO EXCLUÍDO
Um ano depois, em 69, Costa e Silva foi vitimado por um AVC e não conseguiu transferir o governo ao vice Pedro Aleixo. Assumiu então a Junta Militar que meses depois entregaria o poder a Médici. O general-presidente alinhou-se às forças do radicalismo, mas terminou tendo que recuar, sendo sucedido pelo general Ernesto Geisel, irmão do general Orlando Geisel ministro do governo Médici.
A divisão mais uma vez ficou nítida, culminando, neste caso, com a vitória do grupo intelectualizado, que tinha como articulador o general Golbery do Coutto e Silva. Foi uma solução para harmonizar e bloquear novos conflitos. Geisel equilibrou-se no governo e passou a faixa ao general João Figueiredo, um meio liberal entre as ondas em choque.
FIGUEIREDO E A ANISTIA
Figueiredo assumiu em 79, sancionou a Lei de Anistia e promoveu a volta dos exilados políticos ao país. Lugar de brasileiro é no Brasil afirmou, relembrando seu tempo em que, acompanhando o pai, Euclides Figueiredo a partir de 38 e até 45 residiu em Buenos Aires.
João Figueiredo seguia firme desejando restabelecer o regime democrático, o que acabou conseguindo por caminhos sinuosos. No dia 30 de abril de 81 o hoje coronel Wilson Machado tentava fazer explodir uma bomba no Riocentro, palco de um show popular com a presença de Chico Buarque de Holanda. A bomba que mataria centenas de pessoas e provocaria o tumulto terminou detonando no Puma que dirigia ao lado do sargento Guilherme do Rosário. Uma outra bomba foi encontrada ao lado do automóvel.
ATENTADO TERRORISTA
Era nítida a confirmação do atentado terrorista. Embora tentasse, o presidente da República não teve força para punir os verdadeiros responsáveis pelo crime. Foi parcialmente enfraquecido no desempenho do resto de seu mandato.
Estes todos são fatos que escrevo para serem incluídos na história do país, evitando assim que prevaleça a tese da dualidade entre a direita e a esquerda, como tentou fazer o deputado Jair Bolsonaro. Principalmente porque, entre a direita que ele representa totalmente e a falsa esquerda que desaba com Lula e Dilma, existe o centro democrático. O qual não significa, como um pensador disse no passado um ponto, mas sim uma faixa, em que habita uma palavra chamada Liberdade.
26 de abril de 2016
Pedro do Coutto
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