O empresário baiano Marcelo Odebrecht, aos 47 anos, tomou a mais difícil decisão de sua vida. Embora ainda considere que delatar é ato indigno, e esta firme convicção ele mostrou ao enfrentar com altivez a CPI da Petrobras no Congresso, os mais recentes acontecimentos da política nacional fizeram com que acabasse mudando de opinião.
Quando foi preso, em 19 de junho de 2015, seu pai Emilio Odebrecht fez um desabafo, dizendo que teriam de mandar construir mais três celas – para ele, para o ex-presidente Lula e para a sucessora Dilma Rousseff.
Marcelo tem saúde precária e desde o início Emílio queria que houvesse um acordo com o Ministério Público Federal, mas esbarrou sempre na firme disposição do filho, que durante as visitas da família não aceitava sequer tocar no assunto.
Na verdade, Marcelo Odebrecht estava iludido por advogados que lhe prometiam uma solução rápida, mediante recursos “estratégicos” ao Superior Tribunal de Justiça e ao Supremo, que contariam com a cumplicidade de ministros nomeados pelo PT e ligados ao governo, conforme o senador Delcídio Amaral acabou confessando recentemente. E Marcelo acreditou.
PASSAR O NATAL EM CASA?
O fato é que as tentativas de libertar Marcelo Odebrecht foram caindo no vazio, mas os advogados insistiam em prometer uma solução para que o maior empreiteiro do país pudesse passar o Natal e o Ano Novo em casa, com a família.
E ele continuou acreditando. Mas tudo deu errado e no dia 15 de dezembro sua prisão foi mantida por 4 a 1 no Superior Tribunal de Justiça. Apenas o relator Ribeiro Dantas, ministro denunciado por Delcídio, votou entusiasticamente a favor da libertação. Deve ter sido coincidência, claro…
Em 8 de janeiro, no Supremo, o ministro Dias Toffoli, até então considerado “petista”, manteve a prisão preventiva do empresário.
E no dia 3 de março, outra decepção: o presidente do STF, Ricardo Lewandowski, amigo pessoal de Lula, confirmou a decisão de Toffoli.
Como diz aquele velho ditado, “quando dois brigam, quem sai ganhando é o advogado”.
As ilusões jurídicas foram acabando e tiveram um ponto final no dia 8 de março, quando o juiz Sérgio Moro determinou a condenação do presidente da Odebrecht a 19 anos e 4 meses de prisão, por corrupção ativa, associação criminosa e lavagem de dinheiro, pena a ser cumprida em regime fechado.
Se a sentença for mantida pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região, que tem respeitado todas as decisões do juiz federal, o empresário baiano vai passar muitos finais de ano na cadeia.
No desespero, Emílio Odebrecht, a mulher de Marcelo e as três filhas aumentaram a pressão, sob o argumento de que o governo inteiro apodrecera, as revelações de Delcídio e os grampos de Lula acabaram com o que ainda restava. E foi assim que o empresário acabou cedendo.
DILMA SERÁ ENVOLVIDA
A delação premiada já está em negociação e tem de ser submetida ao Supremo Tribunal Federal, porque envolve a atual presidente da República, com informações mais detalhadas sobre as doações ilegais feitas pelo grupo Odebrecht ao PT na disputa sucessória de 2014 para reeleger Dilma Rousseff, incriminando especialmente o tesoureiro da campanha eleitoral, Edinho Silva, que atualmente é ministro da Comunicação Social.
O empreiteiro vai explicar também como funcionou o esquema de lobby montado através das famosas palestras do ex-presidente Lula, com garantia de participação direta do presidente do BNDES, Luciano Coutinho, responsável pela liberação do financiamento das obras da empresa no exterior, incluindo o Porto de Mariel, em Cuba.
Vai ser um verdadeiro festival, iniciado com a delação premiada da secretária Maria Lúcia Tavares, que na Odebrecht cuidava dos acarajés do marqueteiro João Santana e de sua sócia Mônica Moura. Mas isso foi apenas um aperitivo.
O prato principal está no forno, vai ser muito condimentado, conforme é praxe na cozinha baiana.
E o pior é que o acordo da mulher de Santana com o Ministério Público também já está em negociação, para apimentar ainda mais o cardápio da Lava Jato.
O prato principal está no forno, vai ser muito condimentado, conforme é praxe na cozinha baiana.
E o pior é que o acordo da mulher de Santana com o Ministério Público também já está em negociação, para apimentar ainda mais o cardápio da Lava Jato.
21 de março de 2016
Carlos Newton
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