Um desastre ambiental anunciado destruiu o Rio Doce nos 853 quilômetros entre o município do Rio Doce em Minas Gerais até o município de Linhares no Espírito Santo. O rompimento da barragem de rejeitos de Fundão e Santarém, um desastre anunciado que poderia ser evitado causou efeitos irreversíveis no ecossistema de toda extensão do Rio Doce. Não tem preço que possa ser mensurado quanto aos prejuízos ao meio ambiente totalmente devastado. As margens do rio, o leito e as águas foram tomados pela lama, subproduto da mineração, além da falta de oxigênio, metais pesados compõe o cenário de devastação.
Governador Valadares se encontra em estado de calamidade, o fornecimento de água foi interrompido. Cada família recebe 20 litros de água por dia, a higiene pessoal de cada cidadão mineiro ficou em segundo plano. Sem a água para as necessidades vitais, os animais tendem a desaparecer e o homem pode ter que migrar para outras cidades fora do circuito das águas doces. Os peixes morreram todos, pela falta de oxigênio. A pesca era um nicho de sobrevivência, que foi interrompido indelevelmente.
A morte do Rio Doce, o espetáculo de lama que soterrou casas e tudo que encontrou pelo caminho no primeiro município afetado pelo descaso da mineradora Samarco/Vale e se prolonga até o oceano é uma catástrofe de proporções inimagináveis. Além dos municípios de Minas Gerais e do Espírito Santo, o oceano também terá seu desastre associado à tragédia. A decantação da lama no fundo do oceano, similar a uma massa de cimento se diluindo, causará impacto na fauna marinha, as algas morrerão pela falta da fotossíntese e os plânctons, alimentos dos peixes, inexistirão em meio a lama, provocando a mortandade. A areia das praias no entorno de Linhares tomarão a cor da lama por um longo período. Por todos os ângulos que se analise a gigantesca tragédia, que poderia ser evitada, os efeitos são devastadores sob todos os aspectos humanos, econômicos e ambientais.
SEM PLANO B
Não havia um plano de contingência, um plano B, para mitigar os estragos do rompimento da barragem da morte, técnicos da mineradora e os fiscais e prefeitos dos municípios atingidos nada fizeram em matéria de previsibilidade para evitar o pior. E, ainda mais, nenhuma medida destinada a impedir que a lama avançasse, como diques provisórios, em algum ponto dos 853 km do Rio Doce. Todos ficaram inertes à espera da correnteza de lama em direção ao oceano. Simplesmente lamentável a inércia do poder público e da iniciativa privada, essa instituição tão louvada por gregos e troianos. Somente um objetivo, os lucros acima de tudo. Todos são culpados, não há inocentes nessa incrível tragédia ambiental.
Somente a próxima geração poderá voltar a ver o verde florescer junto às margens e as águas do Rio Doce no esplendor da vida (oxigênio e peixes) compondo o quadro da natureza que o homem destruiu. Entretanto, há um novo perigo que ronda as cidades atingidas pela lama da Samarco/Vale, me refiro a mais duas barragens de Mariana, que estão com trincas prestes a cederem com o peso da lama acondicionada. O reforço nestas duas barragens levarão três meses para estarem prontas, até lá teremos que contar com a sorte, que não foi nossa amiga no rompimento do dique atual. Será que ficaremos inertes, à espera de um novo desastre? A quem culpar se houver nova catástrofe? Será que simplesmente multar a mineradora é suficiente para minorar os danos? Quem será responsabilizado pela morte contabilizada até agora de 12 moradores de Mariana. Perguntas sem respostas dos responsáveis pela mineradora até agora. Quem sabe mais tarde, não é mesmo?
21 de novembro de 2015
Roberto Nascimento
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